Depois de outra rodada
de negociação frustrante com os banqueiros, os bancários voltaram
às ruas e deram mais uma demonstração de que estão dispostos a
irem a luta. Na manhã desta quarta-feira, 28, Dia do Bancário, a
caravana do Sindicato visitou cinco agências localizadas no bairro
da Encruzilhada, zona norte do Recife.
Segundo a presidenta
do Sindicato, Jaqueline Mello, só com muita mobilização é que os
bancários vão conseguir dobrar os banqueiros na mesa de
negociação. A presidenta também reforçou as principais
reivindicações dos bancários defendidas durante o processo
negocial.
“Mais uma vez os banqueiros continuam com uma
postura intransigente. Nós já tivemos três rodadas de negociação
e a resposta da Fenaban continua sendo “não” para todas as
reivinidações. Então, só com muita mobilização é que nós
vamos conseguir reverter essa situação para conquistar melhores
salários, ganho real, uma PLR mais justa e uma distribuição de
renda melhor. Queremos também melhores condições de trabalho, mais
segurança, fim das metas abusivas e do assédio moral. Enfim, toda a
nossa pauta que é justa. Por isso estamos chamando os bancários
para aumentar a nossa mobilização. Os banqueiros ficaram de
apresentar uma proposta no próximo dia 5 e só com muita luta é que
nós conseguiremos ter as reivindicações atendidas”, conclama
Jaqueline.
Já na primeira parada da caravana, na agência
Avenida Norte do Banco do Brasil, um problema com a porta giratória
causou um princípio de tumulto na unidade. Clientes e usuários
estavam revoltados. Devido a quebra da porta giratória, ocorrida
desde a terça-feira, a agência não estava atendendo, o que gerou
muitos protestos de quem necessitava utilizar os serviços da
agência.
“Ontem eu vim aqui sustar um cheque do meu
patrão, mas não resolvi nada porque o banco ficou fechado. Hoje
estou aqui novamente, perdendo tempo, hora de trabalho. Tudo isso por
causa de uma porta que está quebrada desde ontem. Isso não
existe”, reclama o comerciário Thomaz Ravelle.
>> Confira a
galeria de fotos do protesto na Encruzilhada
>> Ouça
reportagem sobre a manifestação na Rádio dos Bancários
Na
agência do Itaú da Estrada de Belém, os clientes que estavam na
fila reclamavam da demora no atendimento. Para a cliente Núbia
Brasil, a solução para o problema passa pela contratação de mais
funcionários. “Tem que botar mais funcionários aqui no banco
para melhorar o atendimento. A gente fica esperando muito tempo na
fila”, explica ela, indignada.
Além das unidades citadas, o
Sindicato realizou ainda atividades na Caixa Econômica Federal, no
Bradesco e no Santander. Os dirigentes bancários distribuíram
material da Campanha Nacional para os trabalhadores e esclareceram
para a clientela alguns dos pontos da pauta da categoria que dizem
respeito também às pessoas que utilizam os serviços bancários:
mais contratações e menos filas são dois bons exemplos disto. A
instalação de biombos, cadeiras e banheiros e a implementação da
Lei das filas e de segurança bancária foram lembrados pelos
sindicalistas como conquistas da sociedade originadas da luta dos
bancários.
Uma esquete teatral com os atores Beto Filho,
Raul Elvis e Paloma Almeida deu um toque de bom humor à estressante
rotina de trabalho dos bancários. Ao som do pandeiro, os atores
cantavam: “Banqueiro me chama de Copa e agora investe em mim”,
arrancado aplausos e ganhando a simpatia dos clientes para
manifestação da categoria.
Ao final da atividade, o diretor
do Sindicato, Fábio Sales, reforçou os motivos dos protestos e
avaliou positivamente a mobilização desta quarta-feira. “Devido
à intransigência dos banqueiros que até agora não apresentaram
nenhuma proposta, nós estamos mobilizando os bancários e
explicando os problemas aos clientes aqui das agências da
Encruzilhada. A nossa Campanha está nas ruas, nós estamos
mobilizados e esperamos que todos os bancários participem da luta.
Aqui, na Encruzilhada, a receptividade foi muito boa, não só dos
bancários mas também da população. Observamos coisas
erradíssimas, como o abastecimento de numerário fora do local
adequado, agências com poucos funcionário…”, comenta.
Dia
dos Bancários – Em 28 de agosto de 1951, começou uma das mais
longas e vitoriosas campanhas salariais dos bancários. A categoria
reivindicava um reajuste de 40%, salário mínimo profissional e
adicional por tempo de serviço.
A contraproposta dos patrões,
de 20% de aumento, foi considerada insuficiente e os bancários
decidiram entrar em greve. Foram 69 dias de paralisação, até que,
em 5 de novembro, a Justiça concedesse um reajuste de 31%, pondo fim
à paralisação.
A greve de 1951 foi a primeira contra o
decreto 9.070 da ditadura do Estado Novo, que proibia greves e
amordaçava o movimento sindical dos trabalhadores. Foi um movimento
pela liberdade sindical, em favor da democracia, contra os “atestados
de ideologia” exigidos pelo Ministério do Trabalho dos
candidatos a cargos sindicais, pela participação dos sindicatos na
fiscalização das condições de trabalho e emprego, pela eleição
de representantes dos bancários para a direção dos antigos
Institutos de Aposentadorias e Pensões (o atual INSS) e pela
participação dos sindicatos na fiscalização e elaboração das
leis trabalhistas.
A data começou a ser comemorada já no ano
seguinte, em 1952, por decisão do IV Congresso Nacional dos
Bancários, realizado em Curitiba. Em 1957, a Assembleia Legislativa
oficializou a data no Estado de São Paulo e, em 1959, o Congresso
Nacional estendeu a data para todo o Brasil ao aprovar projeto do
deputado federal bancário Salvador Romano Lossaco.
Hoje, há
496 mil bancários em todo o país. Desses, 51% são homens e, 49%,
mulheres. A maior parte – 148 mil – já passou da casa dos 30 anos de
idade e ainda não bateu nos 40. Mas a turma dos quarentões é
grande: 120 mil. Entre 20 e 29 anos também somam mais de 100 mil e,
acima dos 50, são 68 mil.
Na escolaridade, a ampla maioria –
340 mil – tem ensino superior completo. Outros 83 mil também têm,
mas incompleto. Menos de 1% completou apenas o ensino fundamental. O
tempo de casa é distribuído de maneira bem mais uniforme. Mais de
116 mil abraçaram a categoria há mais de uma década, mas outros
100 mil ainda não completaram um ano de banco. Entre um e dois anos
na profissão estão 89 mil e, entre cinco e 10 anos, somos 73 mil.