Kelly
Mendes Oliveira, cinco anos e meio de Bradesco, era gerente de
Relacionamento Prime. Demitida em janeiro, apesar de ser portadora de
doença ocupacional, conseguiu a reintegração na Justiça e, no dia
2 de maio, voltou ao trabalho. A sentença era clara: deveria ser
reenquadrada ao cargo anterior. Foi jogada em uma sala, sem terminal
de computador, em frente a uma pilha de papéis, com a única função
de cobrar de seus antigos colegas de função o serviço que não
tinha sido feito. Junto com ela, há vários outros: todos
reintegrados, todos na mesma situação.
A sala funciona na
Regional Recife. Mas, também no Bradesco Polo, funciona um depósito
de exclusão: “Dirigentes sindicais e portadores de doença que
conseguem reintegração judicial são todos jogados nestas salas,
exercendo funções que não são as suas”, conta o diretor do
Sindicato, Ronaldo Cordeiro.
O secretário de Saúde do
Sindicato, Wellington Trindade diz que já entrou em contato com o
banco a respeito do caso de Kelly. Mas que também vai tomar
providências contra a discriminação e assédio que vem sendo
praticados contra os reintegrados. “Tem gente que tinha mais de 30
anos de banco, que tinha feito carreira e ocupava funções de
gerência e que são colocados para conferir documentos ou funções
do tipo”, denuncia Wellington.
Kelly tem um histórico de
problemas na coluna e na lombar. Sofre também de bursite em um dos
braços, que sempre preferiu omitir para não ser alvo de pressão.
“Só me ausentava do banco quando não conseguia me levantar da
cama. Já cheguei a ficar oito dias, precisando de ajuda até pra
tomar banho. Mas quando dava pra andar, mesmo sentindo dores, eu
preferia trabalhar”, conta a bancária.
Segundo ela, suas
crises geralmente aparecem em momentos de muita pressão ou estresse.
Foi o que aconteceu em seu retorno ao trabalho. A bancária se
apresentou no dia 2 de maio e foi encaminhada para realizar os exames
de retorno na Clínica Otávio de Freitas. Ao chegar lá, foi
informada de que a clínica não tinha mais convênio com o Bradesco.
De volta ao banco, foi encaminhada à outra clínica: “Lá,
perguntaram se eu me sentia apta para o trabalho. Falei que me sentia
melhor e que, apesar das limitações, me sentia capaz de realizar
minhas funções. Eu estava muito segura com a decisão da Justiça,
que garantia que eu seria enquadrada no meu cargo anterior”, conta
a bancária.
Não foi o que aconteceu. Primeiro, colocaram-na
com aos escriturários realizando serviço de cadastro. Depois,
encaminharam-na para o “depósito”. “Quando eu vi onde eu ia
trabalhar, meus olhos encheram de lágrimas. Logo depois, a coluna
deu a resposta e eu tive que ficar dois dias de cama”, diz. Pior: o
banco já informou que descontará esses dois dias de afastamento.
Mais reintegração – Também do Bradesco, o
bancário Ricardo da Silva Correia foi reintegrado por decisão
judicial. Com 32 anos e meio de serviços prestados, o gerente geral
da agência Piedade foi demitido em novembro de 2011, mesmo sendo
portador de doença ocupacional. Reincorporado ao banco, ele
permanece contudo de licença pelo INSS.