Terminam nesta
quinta-feira, dia 4, os Encontros Nacionais dos Funcionários do Itaú
e do Bradesco, que estão sendo realizados desde terça, em São
Paulo. Os dois encontros discutem as estratégias de luta dos
bancários e vão definir a pauta de reivindicações específicas
dos empregados das duas maiores instituições financeiras privadas.
Os dois encontros, promovidos pela Contraf-CUT, contam com a
participação de dirigentes de sindicatos e federações de todo
país, inclusive Pernambuco. Na abertura dos eventos, os bancários
fizeram uma análise de conjuntura e discutiram a situação dos
funcionários do Itaú e do Bradesco. Nesta quarta-feira, dia 3, os
participantes se dividiram em grupos para discutir os temas que devem
contar nas pautas de reivindicações específicas. Os
encaminhamentos serão definidos na manhã de quinta-feira, dia
4.
Durante a mesa de abertura do encontro dos funcionários do
Itaú, o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, chamou a atenção
dos participantes para a necessidade de promover a transformação do
país, fazendo enfrentamento tanto na sociedade, em questões
fundamentais como reforma tributária e democratização da mídia,
quanto com o banco na defesa do emprego decente. “E para
promover este embate temos que ter ousadia, esperança, mobilização
e unidade”, afirmou.
No primeiro dia do encontro dos
funcionários do Bradesco, o presidente da CUT, Vagner Freitas,
destacou que as mudanças ocorridas no país nos últimos dez anos
precisam de continuidade para atender os interesses da classe
trabalhadora. “Ocorreu uma enorme transformação no país na
última década, porém ainda é necessário desenvolvermos muito
mais para que a renda seja melhor distribuída e alcancemos o pleno
emprego. Esta é a função dos representantes dos trabalhadores.
Precisamos colocar nossa estrutura no projeto de país que queremos”,
disse.
Bradesco – Durante a abertura do Encontro do
Bradesco, o professor Moisés Marques frisou que os bancos que operam
no país estão diante de um cenário favorável para implantação
de projetos como o Banco do Futuro. “Passamos por um momento
econômico que, apesar da crise financeira internacional ainda
existente, estamos diante de uma inflação relativamente controlada,
o PIB voltando a crescer e o país próximo a atingir o pleno
emprego”, afirmou.
Segundo Moisés, este é um cenário
interessante para os bancos, que podem investir no crescimento da
chamada classe C, que representa atualmente cerca de 60% da
população. “A taxa de juros menor e os índices de desemprego
e pobreza em queda mostram aos bancos que têm muitas pessoas a serem
bancarizadas”, salientou.
Para ele, o Bradesco é um
banco que aposta muito em correspondente bancário, ATM e cada vez
menos em agências. “O grande salto do banco ocorreu com o
Bradesco Expresso, o correspondente bancário. Aumentaram as
transações via internet, celular e terminal ATM, e procura-se fazer
o possível para utilizar o mínimo possível as agências, que
atualmente representa apenas 8% das transações, enquanto mais de
90% dessas ocorrências aconteceram fora dela”, destacou
Moisés.
Na avaliação do professor, é preciso questionar o
banco que afirma ter uma “marca valiosa”, principalmente do
quanto se perde da marca ao ter a atividade exercida por pessoas que
não são bancárias. “Além disso, é preciso repensar as
formas de mobilização, que devem aproveitar cada vez mais as redes
sociais e a nova geração multímida. Precisamos questionar a
empresa na mesma moeda e nos conectarmos com os novos meios de
mobilização vigentes”, conclui Moisés.
Já a técnica
do Dieese, Cátia Uehara, fez uma análise do balanço do Bradesco
referente ao ano de 2012. Os dados mostraram que a variação
ocorrida no ano passado no lucro dos bancos, principalmente nos
privados, ocorreu em função da redução da taxa de juros. No
Bradesco, essa variação foi de 2,9%. Porém, o levantamento mostrou
que os bancos compensaram a queda dos juros com o aumento da receita
de prestação de serviços e renda de tarifas. “Os bancos
aumentaram as tarifas após a redução dos juros e no Bradesco essa
variação entre 2011 e 2012 foi de 16%”, afirmou Cátia.
O
levantamento também mostra que o Bradesco obteve lucro líquido de
R$ 11,5 bilhões em 2012 e atingiu patrimônio líquido de R$ 70
bilhões. Porém, no mesmo período, o banco eliminou cerca de 1.300
postos de trabalho, o que é injustificável.
Itaú –
A despesa com pessoal do Itaú cresceu apenas 0,5% de 2011 para 2012.
“O banco está se utilizando da rotatividade e do corte de
funcionários para aumentar o seu lucro. Ou enfrentamos o debate da
remuneração direta ou vamos continuar com os salários
desvalorizados. Se não abrirmos os olhos para essa disputa – a
disputa pela renda -, vamos continuar ainda por muitas décadas com o
quadro atual em que 50% da população econômica ativa se beneficiam
com apenas 13% da riqueza da nação”, alertou Cordeiro. “Essa
conjuntura mostra o desafio que temos pela frente. Temos urgência em
fazer disputa pela distribuição da renda, visando principalmente a
melhoria da remuneração direta, com salário e piso. Esse é o
ponto fundamental”, avaliou.
E para fazer a disputa,
segundo o presidente da Contraf-CUT, é necessário ter ousadia, pois
o banco tem clara sua estratégia de diminuir seus custos
sacrificando o emprego. “O banco está sendo ousado e tem
estratégia definida, ou seja, ter o maior lucro possível
sobrecarregando o trabalhador o máximo possível. E temos que ter
cuidado porque, se o Itaú implantar o horário estendido, corremos o
risco de esta estratégia ser adotada também pelos outros bancos”,
ressaltou Cordeiro. “Temos que ir além do possível quando se
trata da proteção do emprego digno, de qualidade, em que as pessoas
não adoeçam, não morram, enfim por emprego decente”,
salientou.
O lucro líquido recorrente do Itaú atingiu R$
14,043 bilhões em 2012, o que representa uma queda de 4,03% em
relação a 2011. Esse foi o segundo maior lucro de um banco no país.
O maior foi o resultado do próprio Itaú em 2011, quando bateu R$
14,640 bilhões, de acordo com apresentação feita aos dirigentes
sindicais pela técnica do Dieese da subseção da Contraf-CUT,
Vivian Machado.
Embora o lucro tenha sido menor do que o
apurado em 2011, ele teria sido muito maior se o banco não usasse a
manobra contábil de superdimensionar as provisões para devedores
duvidosos (PDD), que apresentou um crescimento de 20,66%, passando de
R$ 19,9 bilhões em 2011 para R$ 24,025 bilhões em 2012. Enquanto
isso, a taxa de inadimplência real de dezembro de 2012 diminuiu 0,1
ponto percentual em relação a dezembro de 2011. Na comparação de
dezembro em relação a setembro de 2012, a variação foi de -0,2
ponto percentual, o que demonstra estabilidade.
Apesar do
lucro bilionário, o banco segue a política de demissões praticada
em 2011. Em 2012, o Itaú fechou 7.935 postos de trabalho, uma
redução de 8,08% de seu quadro funcional. Desde março de 2011, já
são 13.699 postos a menos, quando eram 104.022 bancários.
A
renda de tarifas bancárias cresceu 13,44% em 2012, passando de R$
5,13 bilhões para R$ 5,83 bilhões. As receitas de prestação de
serviço também apresentaram crescimento, de 4,14%, chegando a R$
14,49 bilhões. Já as despesas de pessoal tiveram elevação de
5,02%, passando de R$ 13,36 bilhões para R$ 14,03 bilhões.
O
balanço mostra que o banco pagou em 2012 todas as despesas de
pessoal apenas com receitas de serviços e tarifas e ainda apresentou
um excedente de 44,8% da soma dessas receitas. Vivian destacou ainda
que o total desembolsado pelo banco para pagar a PLR em 2012 para
seus funcionários foi de R$ 702 milhões. Enquanto isso, o Itaú
pagou de bônus aos 15 membros da sua diretoria executiva R$ 125
milhões, ou seja, cada um deles recebeu uma remuneração anual de
R$ 8,3 milhões.
Já o conselheiro deliberativo eleito da
Fundação Itaú, André Luis Rodrigues, apresentou aos dirigentes
sindicais a situação atual da previdência complementar dos
funcionários do banco. Ele destacou uma das importantes vitórias
conseguidas pelos bancários do Itaú: o fim do benefício “zero”
existente no PAC (Plano de Aposentadoria Complementar) antigo.