Três bancárias da
mesma agência do HSBC tiveram seu emprego de volta em fevereiro e março. Duas delas conseguiram antecipação de tutela a partir de
ação judicial. Edineide e Ivani, respectivamente com nove e 22 anos
de banco, foram demitidas pela empresa, a despeito do diagnóstico de
doença ocupacional. Já Aline, com 24 anos de HSBC e também
portadora de LER/Dort, teve sua demissão cancelada, por via
administrativa, no mês passado.
Nos três casos, o
Sindicato dos Bancários emitiu a CAT – Comunicação de Acidente
de Trabalho e as aconselhou a mover ação judicial. Edineide e Ivani
o fizeram, via escritório jurídico Campos Machado, contratado pela
Appdort – Associação Pernambucana dos Portadores de Doença
Ocupacional Relacionada ao Trabalho. Aline também entrou na Justiça,
mas a negociação conduzida pelo Sindicato foi eficaz. O diretor
Alan Patrício, secretário de Assuntos Jurídicos da Contraf-CUT e
funcionário do HSBC, foi o articulador.
Três mulheres
trabalhadoras, todas bancárias e funcionárias de um mesmo banco.
Três histórias semelhantes, de via crucis premiada pelo
“bilhete azul”. É quando a dedicação ao trabalho, em jornadas
extenuantes, pressão por metas e condições ergonômicas
inadequadas se resvalam em problemas de saúde, assédio, dor –
física e moral. Pior, se revelam vãs. “É nessas horas que o
trabalhador ou a trabalhadora costuma acordar para a importância de
cuidar da própria saúde e valorizar seus direitos, e o Sindicato
está aqui para isso”, observa Pedro Villa-Chan, diretor do
Sindicato e funcionário do HSBC.
Via crucis nº 1 –
Edineide havia sido parabenizada pelo desempenho no ano de 2011.
Estava feliz por ter seus esforços recompensados. Isso, no dia 09 de
janeiro de 2012. Oito dias depois, foi surpreendida com a demissão.
Cobrou explicações e as recebeu: a função que exercia e na qual
havia três funcionárias, de recuperação de crédito, seria
extinta, e o serviço terceirizado – o que de fato nunca aconteceu.
“Vá se cuidar. Você é jovem, tem a vida pela frente”, foi a
recomendação que lhe deram.
“Entrei em depressão
profunda. Vi que nada adiantou eu ter ignorado as dores da tendinite
e as complicações da ansiedade pelo desempenho, para não causar
problemas”, reconhece. Orientada pelo Sindicato, obteve benefício
acidentário pelo INSS por dois meses. Superada a depressão, buscou
readequar-se ao mercado de trabalho. Conseguiu emprego de supervisão
em empresa do setor financeiro, mas as patologias não permitiram que
mantivesse o novo emprego por mais de 50 dias. Só então obteve a
liminar judicial para a reintegração. Desde o dia 04 de março está
de volta ao banco.
Via crucis nº 2 –
Ivani trabalha há 22 anos no HSBC. Antes da demissão, trabalhava no
Atendimento ao Cliente. Chegou a gerente de Atendimento, depois de
passar por diversas funções e vivenciar três assaltos. Herdou as
sequelas decorrentes: tendinite e depressão, que a obrigaram a idas
e vindas a especialistas da diferentes áreas, e a tomar remédio
controlado. Manteve-se trabalhando, entretanto. Até o dia 17 de
novembro de 2011, quando, de volta do almoço, foi chamada “com
urgência” à Gerência Administrativa: “Estava atendendo uma
cliente, e deixei-a esperando para ver do que se tratava. O
administrativo, lívido, me deu a terrível notícia: estava
demitida. Não alegou nada. Perdi o controle, e chorei, alto e bom
som”, recorda.
A bancária se recusou
a assinar a homologação. O Sindicato emitiu a CAT e, de posse dos
laudos médicos, procurou o INSS, que lhe recusou benefício. Desde
então, sobrevive a peso de remédios controlados e ajuda financeira
da família. Sem salário e sem plano de saúde, entrou na Justiça,
e só agora, conseguiu a liminar de reintegração, o que se deu dia
11 de março. Aguarda o prazo de cinco dias determinado pela Justiça
para que o banco a reintegre, oficialmente, ao quadro de funcionários
e restaure seus benefícios, sob pena de multa diária. Segundo a
advogada Adriana Campos, a Justiça requereu perícia judicial para
restaurar os direitos de Ivani ao benefício acidentário. Com todos
os problemas, Ivani está contente com o retorno ao banco.“Fui
muito bem recebida”, diz, aliviada.
Via crucis nº 3 – A
notícia do cancelamento da demissão chegou para Aline de forma
singular: na véspera do Carnaval, ao tirar um extrato de sua conta
bancária, se deparou com o crédito de proventos. “Liguei para o
Alan em São Paulo, e ele me deu a notícia de que minha demissão
havia sido cancelada Foi uma das maiores alegrias da minha vida, nos
últimos tempos. É muito bom ter seu direito reconhecido sem
precisar passar pelo desgaste de uma batalha judicial”, observa. O
comunicado oficial chegou por telegrama, depois da folia momesca.
Surpresa em sentido
contrário ela teve em 19 de novembro do ano passado, quando recebeu
o bilhete de saída, sem qualquer explicação. “Havia batido todas
as metas e conquistado direito a premiação. Não entendi. Ninguém
entendeu. Até a gerente chorou e me garantiu que não tinha nada a
ver com a agência – a Caxangá, para onde havia sido transferida”,
conta Aline.
A demissão chegou às
vésperas da festa de 15 anos da filha mais velha de Aline, que
também tem um garoto de 9 anos, e é casada com um bancário do
HSBC, também afastado por motivo de saúde. “Havia preparado uma
linda festa, sonhada desde a infância dela, imagina o choque!”,
conta. A homologação aconteceu na semana seguinte. Orientada pelo
Sindicato, Aline não assinou o termo e buscou seus direitos.
Aline está em
benefício acidentário pelo INSS até 30 de abril. Segue em
tratamento do transtorno depressivo grave, e faz fisioterapia para
recuperar-se da tendinite nos dois ombros. “O pânico, a depressão,
é um processo de acúmulo de pressão e ansiedade. Os sinais
apareceram muito antes da dispensa. Vivia irritadiça, e normalmente
a gente descarrega em casa …Você adia o problema como medo de
ficar visada. Só quando fui demitida é que procurei me cuidar. Não
aconselho a que me imitem”, observa.