Nada
de nota técnica. Nada de informações precisas ou número de
dotações. Quem participou da audiência pública na Câmara de
Vereadores do Recife nesta quarta, 19, sobre o processo de
reestruturação no Banco do Brasil saiu frustrado com a falta de
transparência da empresa. Por falta de acesso às informações ou
de autorização para divulgá-las, os representantes do banco na
audiência limitaram-se a repetir o que já haviam dito em reuniões
anteriores.
A audiência foi uma iniciativa do presidente da
Câmara, Jurandir Liberal, a pedido do Sindicato. Em xeque, as
mudanças propostas pelo banco, que pretende transferir para Belo
Horizonte serviços importantes dos Centros de Suporte Operacional e
Logístico (CSO e CSL) de Pernambuco, a exemplo da concessão de
créditos e administração de contratos. “O banco dá um passo na
contramão da política nacional de desenvolvimento das regiões e
retira do Nordeste toda esfera decisória”, questiona o
secretário-geral do Sindicato, Fabiano Félix.
Para a
presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello, a audiência pública foi
muito importante, apesar do BB não ter acrescentado nenhuma
informação nova. “Com esta audiência, conseguimos envolver toda
a Câmara de Vereadores do Recife na luta contra a reestruturação
do BB. Faz mais de dois meses que o Sindicato está nesta batalha e
já conseguimos apoios importantes de deputados e senadores. Esta é
numa luta de toda sociedade, porque a reestruturação vai prejudicar
o estado de Pernambuco e não só os bancários”, afirma
Jaqueline.
Mobilização vence a intimidação – Fabiano
iniciou sua fala na audiência lendo um manifesto de repúdio contra
a atitude da administração do CSL – Centro de Suporte Logístico,
que usou de intimidação para impedir que os trabalhadores
participassem da atividade. Mesmo assim, o plenarinho da Câmara
tinha bastante gente, a maioria trabalhadores do CSO e CSL. Em todas
as falas, de dirigentes sindicais e funcionários do banco, uma mesma
cobrança: transparência.
Cobrança que continuou sem
retorno. Os representantes da empresa – Sílvio Porto, do CSO;
Ayrton, da Gerência de Pessoas (Gepes) e José Antônio, da
Superintendência Regional, – garantiram que não tinham acesso à
Nota Técnica, com os dados detalhados da reestruturação. Também
não sabiam números precisos quanto a dotações. Em relação aos
serviços que seriam realizados no estado, limitaram-se a citar a
análise de fraudes, cuja dotação é de apenas 60 pessoas – menos
de 10% dos 700 funcionários que serão prejudicados com as mudanças.
Funcionários em pânico – A falta de respostas do
banco estimulou o desabafo dos bancários. Não sem antes o Sindicato
arrancar dos representantes do BB o compromisso de que nenhum
trabalhador seria prejudicado por conta do que fosse falado. “Se
nem os administradores têm as informações, como a gente pode ficar
tranquilo? Se ninguém vai ser prejudicado – nem os funcionários
nem o estado de Pernambuco, por que não se divulga a Nota Técnica?”,
questionou Edi Azevedo, funcionária do CSL.
Segundo Edi, a
falta de transparência está levando os trabalhadores a uma situação
de tanto pânico, que muitos estão adoecendo e outros estão
buscando desesperadamente outros setores, aumentando ainda mais a
demanda para os que ficam. “Falam pra ter confiança, mas o
discurso do BB é discurso de banco privado. E a função social?
Falam que ninguém será prejudicado, mas a análise de fraude tem
vaga para 60 pessoas. E a rede de agências vai ter vagas para 700?
No mês passado, havia apenas 40…”, desabafou Edi.
Os
funcionários João Vítor e Fernando Lucena acrescentaram um outro
aspecto na discussão: os prejuízos para o Nordeste e os aspectos
políticos. “O normativo que vai gerir a análise de crédito, por
exemplo, é o mesmo para empresas de qualquer região. No entanto,
existem modalidades presenciais. E a distância acaba desestimulando
a participação, sobretudo dos pequenos empreendedores”, diz João
Vítor.
Sua fala é corroborada por Fernando: “O normativo
é padronizado, mas o olhar muda. Com a análise de crédito sediada
aqui, as particularidades das empresas da região são levadas em
conta. No Sudeste, a análise é massificada”, diz. Ele questiona:
“Se não vai haver redução de quadros, qual a intenção de tirar
estes serviços daqui?”.
Diante da falta de respostas a
esta indagação, os funcionários inferem que a explicação é
política. E cobram a interferência do governador Eduardo Campos. O
Sindicato já enviou ofício, alguns parlamentares já entraram em
contato com a Casa Civil, mas até agora o governo não se
pronunciou. O presidente da Câmara, Jurandir Liberal, se solidarizou
com o movimento e garantiu que levaria a discussão aos demais
parlamentares e intercederia, também, para garantir audiência entre
o Sindicato e o governador.