O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez diferença na quarta-feira
(12) em relação aos demais participantes do fórum “Escolher o
crescimento, sair da crise”, organizado em Paris pelo Instituto Lula e
pela Fundação Jean Jaurés. Longe da verborragia consensual neste tipo de
encontro, Lula disse na capital francesa que “é preciso distribuir para
crescer”, ao mesmo tempo em que criticou copiosamente os “comitês de
crise” que se criam quando chega o incêndio.
Lula interpelou o ex-primeiro ministro socialista Lionel Jospin,
presente na sala, e perguntou quantos desses comitês havia criado quando
esteve no poder. O ex-mandatário contou que havia criado muitos desses
comitês de crise, mas que só começou a avançar realmente quando criou
“comissões de soluções”.
Interrompido várias vezes por aplausos, Lula denunciou “a falta de
representatividade” dos organismos internacionais e defendeu a criação
de mais espaços representativos multilaterais, que aumentem o peso das
vozes alternativas em nível internacional. “Precisamos criar
instrumentos e mecanismos com mais solidariedade, mais democracia, para
que as decisões não estejam subordinadas a quem tem mais dinheiro, mais
poder ou uma indústria maior”.
O senso de humor e a pertinência do ex-presidente fizeram da jornada
final do fórum um momento especial. Lula criticou os banqueiros que
gozam de uma impunidade absoluta: “o mais fantástico é que o Lehman
Brothers quebra e ninguém vai preso, enquanto o banco recebe os bilhões
que os países nunca recebem no mundo”.
Lula lembrou que a crise “é responsabilidade de um monte de
desconhecidos” e perguntou ao público se alguém tinha visto na televisão
a “cara de algum banqueiro”. “Não”, respondeu, e voltou a perguntar:
“sabem por quê? Porque é o banqueiro que paga a propaganda”.
Por último, Lula defendeu uma visão solidária e responsável do
desenvolvimento. O ex-presidente se perguntou “por que o mundo
desenvolvido, que tem problemas de consumo, não cria mecanismos de
financiamento para que os países africanos recebam fundos com juros de
longo prazo, mais baratos, para assim começar a desenvolver uma
indústria, uma agricultura”?