A revista Carta Capital abre capa esta semana para o Instituto
Millenium, think tank brasileiro , com capital transnacional, como o
foram o Ibad e o Ipes, na conspiração contra o presidente João Goulart,
em 1964. Ele estaria lançando as bases para um golpe de Estado, desta
vez de escala continental, já que suas inspirações seriam os movimentos
da argentina Cristina Kirchner e do venezuelano Hugo Chávez.
Em “A velha cara da nova direita – Do Milenium aos jovens reacionários, o
Brasil volta, ao passado”, o jornalista Leandro Fortes penetra nos
segredos deste novo laboratório golpista, e dando nomes e funções de “um
batalhão de 180 “especialistas”, profissionais de diversas áreas, entre
eles os jornalistas José Nêumane Pinto, o historiador Roberto Damatta e
o economista Rodrigo Constantino”.
“A tropa é comandada” – diz matéria de capa – “pelo jornalista Eurípedes
de Alcântara, diretor de redação da revista Veja, publicação onde,
semanalmente, o Millenium vê seus evangelhos e autos de fé renovados.
Alcântara é um dos dois titulares do Conselho Editorial da entidade. O
outro é Antônio Carlos Pereira, editorialista de O Estado de São Paulo. A
dupla de jornalistas representa dois dos quatro conglomerados de mídia
que formam a bússola ideológica da entidade, a Editora Abril eo Grupo
Estado. Os demais são a Organizações Globo e a Rede Brasil Sul (RBS)”.
Carta Capital que dedica grande parte de suas páginas ao assunto, ainda
conclui: “Em 2010, graças à adesão maciça de empresários e doadores
antipetistas em geral, a arrecadação do Millenium dobrou. A receita no
ano eleitoral foi de um milhão de reais, dos quais 65% vieram de doações
de e, com superavit de 153,9 mil reais.mpresas privadas. O número de
funcionários remunerados quase dobrou. e as contas fecharam no azul”.
Leandro Fortes ainda divide o instituto em três categorias, dando foto e nomes ods responsáveis:
1) os “especialistas”: Giambiagi, o argentino das contas públicas;
Lamounier, o figurino dos anos 1960 no século XXI; Villa (Marco
Antônio), o “intelectual” preferido da mídia;
2) os economistas: Franco (Gustavo, ex-presidente do Banco Central de
FHC) e Fraga (Armínio, também presidente do BC da época FHC e financista
internacional ligado a Georges Soros); e
3) os comediantes: Madureira, o principal jornalista da turma: Mainardi
(Diogo), “sua covardia o levou a se esconder na Itália; e Azevedo
(Reinaldo, principal articulista da Veja OnLine), “hilário”.
A reportagem ainda não está disponibilizado no site da Carta Capital,
mas, no editorial, intitulado “Aonde eles pretendem chegar”, o diretor
da revista Mino Carta dá algumas indicações:
“Há qualquer coisa no ar que me excita negativamente e me induz a
pensamentos sombrios, algo a recordar tempos turvos, idos e vividos. É a
lembrança de toda uma década, espraiada malignamente entre o suicídio
de Getúlio Vargas e o golpe de 1964, aquele executado pelos gendarmes da
casa-grande, e exército de ocupação. Dez anos a fio, a mídia nativa
vociferou contra líderes democraticamente eleitos e se expandiu em
retórica golpista logo após a renúncia de Jânio Quadros.”
“Muita água passou debaixo das pontes, embora algumas delas levem o nome
de ditadores e até de torturadores, mas o tom atual desfraldado à larga
pelos barões midiáticos e seus sabujos não deixa de evocar um passado
que preferiria ver enterrado. Talvez esteja, de alguma forma, mesmo
porque as personagens têm outra dimensão. Os propósitos são, porém,
semelhantes, segundo meus intrigados botões. Acabava de lhes perguntar:
qual será o propósito destes comunicadores, tão DYNAMICamente unidos no
ataque concentrado ao PT no governo? Qual é o alvo derradeiro?”.
“A memória traz à tona Jango Goulart e Leonel Brizola, a possibilidade
de uma mudança, por mais remota, e os alertas uivantes quanto ao avanço
da marcha da subversão. Os temas agora são outros, igual é o timbre.
Além disso, na comparação, mudança houve, a despeito de todas as
cautelas e do engajamento tucano, com a eleição de Lula e Dilma
Rousseff. Progressos sociais e econômicos aconteceram. O ex-presidente
tornou-se o “cara” do povo brasileiro e do mundo, a presidenta, se as
eleições presidenciais se dessem hoje, ganharia com 70% dos votos.”
“Percebe-se, também, a ausência de Carlos Lacerda. Ao menos, o
torquemada de Getúlio e Jânio lidava melhor com o vernáculo do que os
medíocres inquisidores de hoje. Medíocres? Toscos, primários, sempre
certos da audiência dos titulares e dos aspirantes do privilégio, em
perfeita sintonia com sua própria ignorância. Contamos, isto sim, com o
Instituto Millenium. Há quem enxergue na misteriosa entidade, apoiada
inclusive com empresários tidos como próximos do governo, uma exumação
do Ibad e do Ipes, usinas da ideologia fascistoide que foi plataforma de
lançamento do golpe de 64.”
“Até onde vai a parvoíce e onde começa o fingimento? É possível que
graúdos representantes do poder econômico não se apercebam das
responsabilidades e alcances da sua adesão ao insondável Millenium? Ou
estariam eles incluídos na derradeira prece de Cristo na cruz:
perdoe-os, Pai, eles não sabem o que fazem? Que o golpismo da mídia da
casa-grande seja irreversível é do conhecimento do mundo mineral. Causa
espécie o envolvimento de personalidades aparentemente voltadas aos
interesses do País em lugar daqueles da minoria.”
“..E à presidenta, que CartaCapital apoiou e apoia, recomendamos a
leitura de um dos mais qualificados arautos da direita golpista. Merval
Pereira não se confunde com Carlos Lacerda, mas na semana passada avisou
não ser o caso de isentar Dilma das denúncias de corrupção, presentes e
passadas. Está clara a intenção de aplicar à presidenta a tese do
domínio do fato.”