A
situação da mulher no mercado de trabalho, sobretudo na categoria
bancária, foi o tema do 1º Encontro Estadual de Mulheres Bancárias,
realizado pelo Sindicato no último sábado, dia 24. O evento reuniu
três especialistas no assunto e promoveu um interessante debate
entre as bancárias que participaram do Encontro.
“Fizemos
um debate de alto nível e percebemos que a gente tem muitos desafios
pela frente até garantirmos, de fato, a igualdade de oportunidades
nos bancos. A discriminação contra a mulher existe e ainda é muito
grande, inclusive nas instituições financeiras que se julgam um
setor avançado no mercado de trabalho”, comenta a secretária de
Assuntos da Mulher do Sindicato, Sandra Trajano, que organizou o
evento.
O Encontro foi aberto pela economista Milena Prado,
técnica do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos), que apresentou dados assustadores. Segundo
ela, o mercado de trabalho reflete as discriminações que existem na
sociedade. “A bancária não pode chegar no banco, por exemplo, sem
maquiagem ou sem estar muito bem arrumada. No atendimento ao cliente,
você só encontra as bancárias mais bonitas, mais loiras, mais
magras. Cadê as negras? Cadê as bancárias mais velhas?”,
questiona Milena.
Segundo pesquisas realizadas pelo Dieese, a
mulher ocupa 45,7% do mercado de trabalho na região metropolitana do
Recife, um dos menores índices entre as capitais pesquisadas no
país. “A taxa de desemprego aqui também é muito maior entre as
mulheres”, diz Milena.
Além de enfrentar mais dificuldades
que os homens na hora de conseguir um emprego, as mulheres também
são discriminadas na carreira e nos salários. No Recife, por
exemplo, o salário médio das mulheres equivale a 71,3% dos
vencimentos médios dos homens. “E olhe que, no geral, as mulheres
têm em média dois anos a mais de estudos que os homens”, comenta
Milena.
A situação nos bancos –
A realidade da
mulher não é diferente nos bancos. Segundo a psicóloga e filósofa,
Zirlana Menezes Teixeira, os bancários homens têm muito mais
facilidade na carreira que as mulheres, ganham mais e ocupam os
melhores cargos nas instituições financeiras.
“As mulheres
bancárias têm, em média, mais estudo que os homens, mas ganham
24,10% a menos nos bancos. E quanto mais estudo, pior. Se você pegar
só o pessoal que tem nível de doutorado, os salários dos homens é
de R$ 12,6 mil por mês, contra R$ 5,9 mil das mulheres, uma
diferença de 53,25%”, conta.
Segundo Zirlana, a situação
é pior nos bancos privados, onde as mulheres ganham 29,92% a menos
que os homens, enquanto nos bancos públicos a diferença é de
15,25%. “Na diretoria dos bancos só há 19,9% de mulheres. As
instituições financeiras também discriminam as mulheres por causa
da idade. Apenas 5% das bancárias tem mais de 50 anos”, destaca
Zirlana, que é funcionária da Caixa e ressalta: “nós, bancários,
temos de avançar muito mais nesta luta contra a desigualdade entre
os gêneros”.
Lutar: a única
saída – A
secretária da Mulher da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos
Trabalhadores do Ramo Financeiro), Deise Recoaro, destacou a
importância da luta dos bancários para acabar com a discriminação
nos bancos. “O saudoso economista Celso Furtado já dizia: os
sindicatos dos trabalhadores são a única forma de garantir a
distribuição de renda no Brasil. E, para a gente garantir uma
distribuição salarial mais justa nos bancos, as mulheres precisam
vir para o Sindicato, se associar, empunhar as nossas bandeiras e
participar ativamente das lutas”, destacou Deise em sua
palestra.
Para ela, os bancários homens também devem entrar
na luta pela igualdade de oportunidades. “A discriminação faz com
que as mulheres ganhem menos, mas não fazem com que os homens ganhem
mais. Quem é que ganha, então, com essa discriminação? Só os
bancos. É o capital. O trabalhador sempre perde, porque a
equiparação salarial é sempre feita por baixo”, comentou.
Deise
afirmou que os bancos sempre negaram que houvesse discriminação
contra as mulheres até aceitarem, em 2008, realizar um censo a
pedido dos sindicatos. “Essa pesquisa, chamada de Mapa da
Diversidade, mostrou o quanto os bancos são injustos com as
mulheres, que trabalham mais e ganham menos. Na Campanha Nacional
deste ano, conseguimos arrancar da Fenaban o compromisso de realizar
o segundo censo, que será planejado no ano que vem e executado em
2014. Mais do que verificar a situação atual, a próxima pesquisa
permitirá a comparação dos dados com o primeiro censo, para que a
gente possa avaliar a eficácia ou não das ações afirmativas
prometidas pelos bancos e definir novas políticas no rumo da
igualdade de oportunidades”, concluiu Deise.