Nos últimos três meses, o mercado de trabalho das regiões metropolitanas
deu fortes sinais de recuperação da atividade. Apenas entre julho e
outubro, a massa salarial subiu quase 5% acima da inflação, crescimento
resultante tanto do aumento da renda real como da forte criação de
empregos. Para economistas, apesar do mercado de trabalho ruim na
indústria, o aumento da massa de rendimentos pode ajudar o consumo neste
fim de ano.
De acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população
ocupada aumentou em 570 mil pessoas entre julho e outubro, o que
corresponde a 83% do crescimento registrado em um ano – 684 mil pessoas
na comparação com outubro de 2011.
Esse avanço concentrado também é observado na massa salarial, que
cresceu 7,9% na comparação com outubro de 2011, o que representa um
montante adicional de R$ 3,1 bilhões. Desse total, R$ 2 bilhões (64%)
foram adicionados apenas nos meses de agosto, setembro e outubro.
Esses fatores apontam para um aquecimento no mercado de trabalho e para a
falta de mão de obra, especialmente qualificada, em algumas ocupações. A
desocupação caiu para 5,3% em outubro, ante 5,4% em setembro e 5,8% em
outubro de 2011, no conjunto das seis regiões metropolitanas pesquisadas
pelo IBGE. Esse é o menor resultado para o mês desde o início da série
histórica, em 2002.
Para o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, o crescimento da
massa salarial sustenta a manutenção da demanda forte. “As taxas
brasileiras de crescimento da demanda são chinesas, em torno de 8%. E
elas vão continuar nesse patamar nos próximos meses, a despeito do menor
dinamismo da economia em 2012.”
O economista acredita que faltam mercados atraentes como o brasileiro no
mundo e que os dados de renda mostram o tamanho do nosso potencial de
consumo. No entanto, pondera, essa renda, atrelada a uma taxa de câmbio
de R$ 2,10, carrega risco inflacionário.
Segundo Caio Machado, economista da LCA Consultores, a PME de outubro
indica “claramente” uma retomada da atividade econômica. Ele explica que
o cenário no quarto trimestre deste ano é oposto ao visto em igual
período de 2011, quando a economia deu sinais mais fortes de
enfraquecimento. “Os dados de emprego e um crescimento de 3,0% da
ocupação [na comparação com outubro de 2011] mostram essa retomada.”
Em setembro, o indicador de massa salarial tinha crescido 6,5%; em
agosto, 3,6% e, em julho, 2,6%, sempre na comparação com igual mês do
ano anterior. Considerando os resultados para os meses de outubro na
série do IBGE, esse crescimento de 7,9% se aproxima do registrado em
outubro de 2008, quando a massa cresceu 9% ante outubro de 2007.
No entanto, a atividade em 2008 estava bem mais forte. Naquele ano, o
Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 5,2%, enquanto que a projeção mais
recente do mercado para o crescimento do PIB neste ano está em 1,52%,
segundo o Boletim Focus.
Para Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, o
aquecimento do mercado de trabalho e a escassez de mão de obra têm
acirrado a disputa por trabalhadores entre os próprios setores da
economia. O resultado dessa corrida se reflete em salários mais altos.
“Ainda que a atividade industrial esteja enfraquecida, a pressão por
maiores salários continua, uma vez que a taxa de desemprego está entre
as mínimas históricas e o poder de barganha dos trabalhadores aumenta”,
afirma. Ele cita o balanço de reajustes salariais realizado pelo Dieese
para o 1º semestre, que indicou ganho real médio de 2,23%.
“O desempenho dos rendimentos em outubro é muito importante. Vemos uma
trajetória de recuperação, que é acompanhada pela massa salarial e pela
força de trabalho, que também cresceu em outubro”, diz Bacciotti.
A recuperação ainda não consolidada da indústria tem se refletido nos
indicadores de emprego do setor, segundo Mariana Hauer, economista do
Banco ABC Brasil. Na região metropolitana de São Paulo, a população
ocupada na indústria foi reduzida em dez mil (-0,5%) na passagem de
setembro para outubro. No conjunto das seis regiões metropolitanas,
porém, houve incremento de 18 mil (0,5%) nessa mesma comparação. “Há uma
relação forte entre o nível de atividade do setor e o desempenho do
emprego, ainda que defasada. O desempenho da indústria tem sido fraco, a
recuperação não está consolidada. Por isso, é natural que o nível de
ocupação não responda com o mesmo ímpeto que nos outros setores”, diz
Mariana.
A produção industrial, segundo o IBGE, caiu 1,0% em setembro, na
comparação dessazonalizada com agosto. A queda veio após crescimento em
três meses consecutivos (0,2%, em junho; 0,4%, em julho; e 1,7%, em
agosto), sempre na comparação com o mês anterior, feitos os ajustes.
Entre as regiões metropolitanas, os economistas destacaram o desempenho
da ocupação em São Paulo. A queda expressiva na taxa de desemprego da
região, de 6,5% em setembro para 5,9% em outubro, decorre do início da
busca por empregos temporários de fim de ano, segundo o coordenador de
trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. Ele observa que, na
região, os setores que mais contrataram no mês passado foram comércio
(+56 mil) e serviços (+61 mil).
Para Azeredo, o resultado observado em São Paulo pode indicar a queda da
taxa de desemprego nas demais regiões nos próximos meses. “O primeiro
lugar a sentir [mudanças no mercado de trabalho] é a região
metropolitana de São Paulo”, diz.