Conceitos e divergências marcam debate do Plano de Carreira do Banrisul

Uma das imagens que pode explicar o atual estágio das negociações dentro
de uma Comissão de Trabalho Paritária é a de uma máquina fotográfica.
Na manhã de quarta-feira, dia 21, na sede da Fetrafi-RS, em Porto
Alegre, uma das representantes dos trabalhadores usou o exemplo para
definir a segunda reunião da Comissão após a greve, explicando que o
encontro serviu para colocar o filme na câmera fotográfica.

O processo de captação e congelamento da imagem foi a senha para dar o
tom da reunião: apresentar conceitos gerais sobre o que os trabalhadores
consideram importante para alinhavar o plano de carreira e expor
divergências com a direção do Banrisul.

A reunião da Comissão Paritária durou cerca de 2h30. A matriz salarial e
o tamanho da tabela de enquadramento concentraram os debates, mas nada
foi decidido. O GT Carreira, formado pelos trabalhadores, uma das partes
da Comissão Paritária, composta também por diretores do Banrisul,
reforçou a ideia de que as discussões desta etapa da construção do Plano
de Carreira são prévias e a decisão se dará em fóruns específicos.

O estudo tem prazo até o dia 30 de março para ficar pronto. O limite foi
conquistado pelos trabalhadores na Campanha Salarial de 2012, durante a
greve dos banrisulenses. Uma nova reunião acontece na próxima
quarta-feira à tarde ou na quinta-feira pela manhã, quando será debatido
o “mercecimento”.

A diretora da Fetrafi-RS, Denise Corrêa, estabeleceu a primeira das
diferenciações básicas para manter os debates sobre a construção do
Plano de Carreira do Banrisul.O pressuposto com o qual os trabalhadores
se orientam é não chamar o novo plano de “Plano de Cargos e Salários”,
como propõe o banco, mas justamente de Plano de Carreira.

“Nos anos 1990, o sistema introjetou na gestão esse conceito de cargos e
salários. Quem tem salário, tem cargo. Não importa se entra como
escriturário e sai com outro cargo”, lembrou Denise.

A proposta dos trabalhadores é que o banco passe a entender carreira do
banrisulense como investimento e processo de gestão dos seus objetivos.
“O Plano de Carreira de um banco determina o perfil da instituição e sua
atuação na sociedade. As condições de trabalho têm a ver com a nossa
negociação. Nos anos 90, todo mundo achava que era só definir uma tabela
e estava pronto o plano. Não é mais assim. Nós, bancários, entendemos
que é preciso estabelecer uma carreira bancária independente de ocupação
de cargos e comissões”, acrescentou Denise.

Essa perspectiva estabelece parâmetros para pensar a capacitação e a
formação dos bancários, cursos, seminários, entre outros, assim como a
atuação do Banrisul como banco público à sociedade. Assim, os
trabalhadores propõem que o banco estabeleça 14 níveis de remuneração,
com step de dois anos e aumento de 7% a cada nível. Trata-se de proposta
da própria categoria definida no 2º Seminário sobre o Plano de
Carreira.

Quanto ao tamanho da tabela, outra divergência. Em média, segundo os
representantes da direção do Banrisul, um novo funcionário tem
ingressado por concurso no banco com 22 anos. Com os 14 níveis que os
trabalhadores propõem, o banrisulense chegaria à proximidade de sua
aposentadoria com 50 anos e teria ao menos entre cinco ou dez para fazer
uma média alta e garantir uma aposentadoria de maior valor.

O banco alega que a gestão já é feita com a participação dos
trabalhadores e que o step de dois anos, com reajuste de 7%, é muito
alto. “Estamos trabalhando conceitos nessas reuniões de retomada dos
trabalhos. Aliás, esta foi a nossa segunda reunião no GT Paritário após o
término da greve. Estamos discutindo não só avanços no quadro e nos
níveis, mas também como vamos tratar estas questões daqui pra frente”,
observou o diretor do Sindicato dos Bancarios de Porto Alegre, Luciano
Fetzner.

Segundo ele, a ideia neste momento é concluir uma proposta conjunta a
partir da fusão entre a proposta elaborada pelo banco e a construída
coletivamente pelos trabalhadores. “O banco tem manifestado vontade de
negociar e de entender nossa visão, sendo que é importante frisar que
ainda não há nada decidido. De qualquer modo, estamos construindo uma
proposta que seguirá sendo exposta, debatida e avalizada pelo conjunto
dos trabalhadores, sempre defendendo nosso ponto de vista”, explicou
Luciano.


O pensamento dos trabalhadores sobre a carreira no Banrisul – O GT Carreira propôs, no início da reunião, que fossem esclarecidos os
conceitos gerais com os quais os representantes dos banrisulenses
trabalham. O conjunto das propostas do GT Carreira parte do pressuposto
de que aquele trabalhador que está desenvolvendo alguma atividade no
banco é bancário, mesmo que ocupe cargo em comissão ou seja extraquadro.


1) Subgrupo de trabalho: O GT Carreira questionou sobre a
possibilidade de este subgrupo da Comissão Paritária, formado por dois
representantes do banco e por dois dos banrisulenses, levar para a
reunião assessorias especializadas. O banco não se opôs. O subgrupo irá
negociar os parâmetros da análise de perfil para o enquadramento da
carreira.


2) Cargos de comissão e capacitação: Os representantes sindicais
defendem que a Comissão Paritária esteja em uma fase que não chegou
ainda à negociação para valer, mas à exposição de divergência e
conceitos. Portanto, os assuntos tratados e negociados não são
permanentes e podem nem vir a se materializarem. No entanto, o GT
Carreira defende que sejam detalhados os processos de capacitação que
irão repercutir no quadro e nos steps.


3) Gestão participativa: O Banrisul deve implantar uma política
de gestão em que os critérios de merecimento para progressão de carreira
fiquem claros e incluam a participação dos banrisulenses na discussão
dos objetivos e políticas econômicas do banco.


4) Conceitos de quadro: O GT Carreira defende que a Comissão
Paritária também tenha como meta definir e diferenciar claramente as
atribuições e remuneração dos cargos em comissão e as funções
gratificadas.


5) Níveis de classificação: Proposta dos trabalhadores é diferenciar os níveis de classificação de acordo com a escolarização.


6) Escriturário graduado (EG): Na primeira reunião da retomada da
Comissão, em 14 de novembro, o banco propôs a criação do quadro de EG,
mas não apresentou proposta de definição de perfil, alegando que terá
que ser construído no subgrupo da Paritária. Os representantes sindicais
manifestaram divergências e sugerem que se pense o enquadramento dos
bancários que ingressaram antes do Plano de Carreira.


7) Merecimento: Os representantes sindicais querem detalhar mais
os conceitos que, no entender do banco, devem nortear as propostas de
definição do merecimento para evoluir na carreira. Para os
trabalhadores, a questão do merecimento está relacionada à visão de
gestão do banco, portanto a avaliação deve levar em consideração a
oferta pelo banco de cursos para a capacitação. O merecimento será
discutido na próxima reunião da Comissão Paritária.


8) Ingresso: A dúvida se relaciona especialmente às funções em
que serão abertas vagas para curso superior e se os funcionários que
trabalham há mais tempo no Banrisul terão algum benefício num suposto
novo enquadramento e se a história deles será considerada.


9) Matriz salarial: Entre as divergências entre trabalhadores e
direção do banco estão as diferenças de tamanho de tabela, de step, de
percentual, de tempo, de merecimento, de enquadramento, entre outras.


10) Piso Banrisul: Os trabalhadores entendem que, no período de
construção da proposta do novo Plano de Carreira dos Banrisulenses,
esteja o princípio de estabelecimento de um piso específico do Banrisul.

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