Sozinha, a Caixa Econômica Federal engordou em quase R$ 100 bilhões o
estoque de crédito do país nos últimos 12 meses, contabilizados a partir
de setembro de 2011. Dos R$ 243 bilhões de expansão do volume de
empréstimos e financiamentos dos cinco maiores bancos do Brasil, a Caixa
foi responsável por R$ 97,5 bilhões. Outro importante quinhão ficou com
o Banco do Brasil, cuja carteira engordou R$ 78,2 bilhões.
Apesar de menor do que o avanço da Caixa, a cifra do Banco do Brasil
supera a evolução dos três maiores bancos privados do país. Juntos, Itaú
Unibanco, Bradesco e Santander tiveram um crescimento de R$ 67,4
bilhões no estoque de empréstimos e financiamentos.
A agressividade dos bancos públicos ainda não modificou o ranking de
bancos por ativos neste ano. O BB já era líder e continua, enquanto a
Caixa segue em quarto lugar, atrás de Itaú e Bradesco. No ano passado, a
Caixa já havia ultrapassado o Santander.
Sustentado pelas instituições públicas, o estoque de crédito dos cinco
maiores bancos do país avançou 17,2% em 12 meses, para R$ 1,67 trilhão
em setembro.
Nem de longe, porém, essa expansão de dois dígitos se refletiu no
resultado das instituições, sejam elas públicas ou privadas. Os cinco
bancos somaram um lucro de R$ 10,9 bilhões no terceiro trimestre deste
ano, com queda de 6,5% na comparação com igual intervalo de 2011.
Sem exceção, todos também viram o retorno sobre o patrimônio líquido –
importante indicador de rentabilidade avaliado por investidores – cair.
Despesas com provisões para devedores duvidosos e juros em queda foram
os fatores que mais atingiram os bancos.
Só Bradesco e Caixa conseguiram exibir resultados maiores. O lucro
líquido do banco da Cidade de Deus atingiu R$ 2,86 bilhões, com alta de
1,7% em um ano.
Na Caixa, a expansão de 43% da carteira de crédito se traduziu em um
avanço bem mais parco do lucro, de 4,6%, para R$ 1,35 bilhão. A pressão
do governo pela redução do custo do crédito impediu um crescimento maior
do resultado líquido. “As taxas [de juros] estão caindo, mas tentamos
compensar com o volume de crédito”, afirma Raphael Rezende Neto,
vice-presidente de controle e risco da Caixa.
Só em contas correntes, o banco abriu 3,36 milhões de novos cadastros em
12 meses, impulsionados principalmente pela propaganda dos juros mais
baixos do programa Caixa Melhor Crédito.
O avanço dos bancos públicos frente aos privados não é um fato novo. Resta saber até onde ou quando o movimento seguirá.
A Caixa ainda prevê ganhar participação no mercado de crédito até o fim
do ano, encerrando 2012 com uma fatia de 15% ou 0,5 ponto percentual a
mais do que em setembro. Um ano atrás, a Caixa tinha 11,76%. Em meados
deste ano, a Caixa tirou do Bradesco a posição de terceira maior
carteira de crédito do país.
Ainda em fase de reuniões de planejamento para 2013, a Caixa evita fazer
projeções. No entanto, Márcio Percival, vice-presidente de finanças da
Caixa, dá pistas de que a velocidade do ano que vem não deve esmorecer.
“O ritmo de 40% é um parâmetro importante para a Caixa. Vem sendo
seguido pelo banco há alguns anos”, diz.
Em recente reunião com jornalistas, executivos do BB foram mais
cautelosos em relação ao cenário de expansão dos bancos públicos em
2013. “O que prevemos é que a concorrência no ano que vem deve ser mais
acirrada”, disse Ivan Monteiro, vice-presidente financeiro.
Um fator que pode limitar a expansão de Banco de Brasil e Caixa no ano
que vem é a inadimplência. Por enquanto, o indicador dá sinais de
acomodação, mas ainda é cedo para se afirmar que essa é a tendência
daqui para a frente.
No terceiro trimestre, enquanto os atrasos acima de 90 dias do Itaú
Unibanco e do Bradesco recuaram marginalmente, na Caixa e no Banco do
Brasil a inadimplência teve um leve aumento. O Santander, porém, acabou
sendo o ponto fora da curva nos privados, com inadimplência avançando
0,2 ponto percentual na comparação com período imediatamente anterior
por causa dos calotes das pessoas físicas.
Caso a inadimplência continue a avançar, esse pode ser um dos
limitadores do apetite dos bancos públicos no ano que vem, na medida em
que uma expansão dos calotes costuma resultar em uma velocidade mais
moderada de concessões. Ainda assim, como não cansam de repetir os
bancos públicos, seus índices de atraso são hoje quase metade do de seus
pares privados.
Independentemente da trajetória da inadimplência, as despesas com
provisão para devedores duvidosos tiveram mais um trimestre de
crescimento expressivo. O avanço foi de 18,3% contando as cinco
instituições como um todo, comparado a igual período de 2011. Juntas,
elas provisionaram cerca de R$ 18,2 bilhões para créditos de
má-qualidade.
Depois da expansão do crédito neste ano, a Caixa também pode voltar a
precisar de uma nova injeção de capital. Mesmo depois da recente
capitalização de R$ 1,5 bilhão feita pelo governo, o banco está com o
índice de Basileia em 12,6%. Está acima do patamar mínimo de
capitalização de 11% fixado pelo Banco Central, mas com uma folga não
tão grande, a depender do ritmo de crescimento.