Em seu discurso na sessão de abertura da 22ª Cúpula de Chefes de Estado e
de Governo da Conferência Ibero-Americana, que ocorre em Cádiz, na
Espanha, a presidenta Dilma Rousseff voltou a defender no sábado (17) o
modelo brasileiro de investimento público e abertura de mercados como
antídoto contra a crise econômica mundial.
Portugal e Espanha estão entre os países da Europa que mais têm sofrido
com os efeitos da crise no continente. A presidenta criticou o modelo de
austeridade fiscal proposto por alguns países da União Europeia que
penaliza a população e não apresenta os resultados esperados.
“Temos assistido, nos últimos anos, aos enormes sacrifícios por parte
das populações dos países que estão mergulhados na crise: reduções de
salários, desemprego, perda de benefícios. As políticas exclusivas, que
só enfatizam a austeridade, vêm mostrando seus limites em virtude do
baixo crescimento. E, apesar do austero corte de gastos, assistimos ao
crescimento dos déficits fiscais e não a sua redução. Os dados e as
previsões para 2012 e 2013 mostram a elevação dos déficits e a redução
dos PIBs [produtos internos brutos]”, disse.
Para a presidenta, a simples demonstração de rigor nos gastos públicos
não é suficiente para garantir a confiança no mercado internacional.
“Confiança não se constrói apenas com sacrifícios. É preciso que a
estratégia adotada mostre resultados concretos para as pessoas,
apresente um horizonte de esperança e não apenas a perspectiva de mais
anos de sofrimento”, destacou.
Portugal e Espanha têm sofrido, não apenas com as pressões do resto da
Europa pelo rigor fiscal, mas também com uma série de manifestações de
trabalhadores contra as medidas adotadas em busca desta austeridade. Por
causa dos cortes de salários e direitos sociais, os dois países têm
enfrentado greves e confrontos entre trabalhadores e policiais.
Dilma cobrou que os países superavitários façam a sua parte para que se
normalize e a atividade econômica sadia entre os países abrindo mercados
e estimulando as importações em seus territórios. Segundo a presidenta,
os governos devem estimular o aumentar os investimentos e do consumo
tendo como objetivo a retomada do crescimento da economia mundial.
Ela também apresentou dados sobre a economia brasileira para demonstrar
que o modelo adotado pelo Brasil apostou na inclusão econômica e na
garantia de direitos sociais para conseguir um desenvolvimento
sustentado ao longo dos últimos anos. Dilma lembrou que os países da
América Latina passaram 20 anos adotando o modelo de austeridade
proposto agora a Portugal e à Espanha.
“Quando nos reunimos em Guadalajara [México], duas décadas atrás, a
América Latina ainda vivia as consequências de sua “crise da dívida”. Os
governantes de então, aconselhados pelo Fundo Monetário Internacional
[FMI], acreditavam, erradamente, que apenas com drásticos e fortes
ajustes fiscais poderíamos superar com rapidez as gravíssimas
dificuldades econômicas e sociais nas quais estávamos mergulhados.
Levamos assim duas décadas de ajuste fiscal rigoroso, tentando digerir a
crise da dívida soberana e a crise bancária que nos afetava e, por
isso, nesse período, o Brasil estagnou, deixou de crescer e tornou-se um
exemplo de desigualdade social”, destacou.
Segundo a presidenta, o Brasil só conseguiu pagar sua dívida e acumular
reservas, como recomendava o FMI, quando voltou a crescer. Atualmente,
de acordo com Dilma, a estratégia adotada para manter o crescimento está
centrada no investimento público em infraestrutura, estímulo à inovação
tecnológica por meio de parcerias e manutenção dos investimentos
sociais. A presidenta também lembrou que o aumento da competitividade
das empresas é um desafio para o Brasil e os países da América Latina e
propôs que a cúpula resulte em um documento que também priorize ações
voltadas para a micro e pequena empresa e o empreendedorismo.
“A cooperação e a melhoria da competitividade requerem que asseguremos
um ambiente econômico favorável às empresas parceiras de todos os pontos
do mundo, em especial me refiro aqui à Espanha, a Portugal e,
sobretudo, aos países latino-americanos, nesses investimentos. Daremos
integral prioridade às pequenas e médias empresas e ao
empreendedorismo”, disse.
A presidenta fica em Cádiz até sábado participando dos debates da 22ª
Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Conferência Ibero-Americana.
Depois, viajou para Madrid, capital da Espanha, onde terá compromissos
bilaterais.