Maílson “80%” da Nóbrega, Armínio “45%” Fraga e Gustavo “bilhões de
dólares” Franco questionam política econômica; nos tempos em que eles
foram governo, inflação explodia, juros foram às núvens e reservas
cambiais eram vendidas em feirões de dólares; esses professores não têm
nada a aprender com o ministro Guido Mantega? Só a ensinar? Por quê?
Cada um ao seu modo, o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega
(1987-1988) e os ex-presidentes do Banco Central Gustavo Franco
(1997-1999) e Armínio Fraga (1999-2003) têm suas biografias no serviço
público marcadas por fortes circunstâncias. O primeiro, titular no final
do governo Sarney, entregou o País ao sucessor com uma inflação de 80%
ao mês e virou consultor e comentarista econômico. As finanças do País
estavam arrebentadas.
Franco, hoje escritor e à frente da banca de investimentos Rio Bravo,
foi aquele que vendia reservas nacionais em dólar aos borbotões, nos
idos de 1999, para segurar a paridade do câmbio. Foram bilhões em moeda
americana trocados às pressas para, ao final das operações, o regime de
câmbio fixo ser quebrado e ninguém sentir saudades de seus efeitos
econômicos. Bem ao contrário, o fim do regime cambial defendido por
Franco foi saudado como a quebra de um grilhão na economia.
Armínio Fraga, aparentemente o mais sofisticado entre os três luminares,
assumiu o BC em 1999 e adotou, como remédio para as finanças nacionais,
logo em seu primeiro movimento de timão, a elevação dos juros a 45% ao
ano. Ele se recorda, agora, de ter encerrado sua gestão com uma inflação
de 9% ao ano e o crescimento na faixa do 1%.
Nesta semana, com a diferença de poucos dias entre suas manifestações,
Maílson, Gustavo e Armínio vestiram seus chapéus de comentaristas de
economia. Eles gostam de dar seus pitacos. O mais regular é o
ex-ministro da Fazenda, mas os dois ex-BC igualmente se posicionam com
frequência. Desta feita, cada um deles passou a criticar o governo
justamente nos pontos em que falharam nos seus tempos de governistas.
Maílson, em parceria com Felipe Salto, se mostrou, em artigo publicado
nesta segunda-feira no jornal Folha de S. Paulo, um crítico do sistema
de arrecadação fiscal que, segundo ele, tem números maquilados para
contribuir para a estratégia de desenvolvimento formulada e executada
pelo governo. Ele e seu escudeiro se recusam aceitar que as
transferências da União para o BNDES que, assim, ganha recursos para
motivar a economia, sejam contabilizados como investimento. Isso seria,
segundo eles, uma “degradação institucional”.
Em entrevista dias antes, Gustavo Franco se mostrou perplexo quanto a
não geração de inflação, nos índices que eles esperava (bem mais altos
que os atuais), em razão da mesma política anti-cíclica implentada pelo
governo federal. Ele até fez uma imagem concreta para ilustrar seu
pensamento:
– É aquela história: você tira um tijolinho da parede e nada acontece,
então tira mais um, e quando tirar o décimo e a parede desabar, vai
reclamar que houve reação exagerada. Só que você está destruindo a
construção faz tempo. Parece que podemos fazer uma política fiscal
expansionista, com forte crescimento do BNDES, sem ter conseqüências. É
surpreendente que a inflação não tenha reagido a tantos desafios. A
velha senhora apanhou à beça nesses anos de estabilização, mas sabemos
que é complicado se ela acordar.
Na mesma batida do ceticismo e do atordoamento frente aos resultados que
vêm sendo conquistados pela atual política econômica – um dos mais
lampejantes, segundo ele próprio, é o pleno emprego com baixo
crescimento –, Armínio reclama que o governo, especialmente o Banco
Central que ele presidiu, explique melhor porque, afinal, está baixando
os juros. “Essas últimas reduções estão preocupando. Os economistas que
olham para as projeções de inflação questionam muito. Não ficou muito
claro o porquê do último corte [em setembro”.
Os três críticos mantém a postura professoral de sempre, sem qualquer
conciliação para a necessária humildade. À exceção, talvez, de Armínio,
que disse ser necessário esperar um pouco mais de tempo para um
julgamento definitivo da atual política econômica. O fato é que, queiram
eles ou não, as manobras do ministro Guido Mantega, da Fazenda, e sua
equipe, avalizados pela presidente Dilma Rousseff, estão dando
resultados já verificados na retomada do crescimento com inflação não
longe das projeções do BC.
Para um crescimento anualizado, neste quatro trimestre, de perto de 4%, o
País terá uma inflação anual pouco superior a 5%, contra uma meta de
4,5%. Além dos baixos índices de desemprego. Quanto as reservas que
Gustavo Franco gastou, hoje elas estão acima de US$ 400 bilhões. Quem
pensa que ensina, deveria aprender um pouco.