Sob pressão do governo para baixar as taxas do rotativo dos cartões de
crédito, os dois maiores bancos privados do país começam as discussões
com posições distintas sobre o que fazer com essa modalidade de
financiamento bastante usada por lojistas para alavancar as vendas.
Enquanto o Bradesco diz ser contrário a qualquer tipo de ônus adicional
aos lojistas que parcelam suas vendas no cartão, o Itaú Unibanco é
favorável e admite cobrar dos comerciantes uma taxa para este tipo de
operação. Apesar das divergências, a Federação do Comércio de São Paulo
(Fecomércio-SP) informa que os lojistas de pequeno e médio porte já
pagam entre 3% e 6% do valor das vendas que parcelam sem juros pelo
cartão de crédito.
A ideia de alguns bancos privados de cobrar taxas extras de lojistas, ou
reduzir o número de parcelas para financiamento no cartão de crédito
foi mal recebida pelo governo, que vem trabalhando nos últimos meses
para cortar os custos financeiros das empresas.
Banco quer dividir ônus com lojista – Representantes do governo, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica
Federal, além das operadoras de cartões, a Cielo e a Redecard, que são
controladas por bancos, têm participado das discussões para reduzir o
que é cobrado pelos cartões.
Todos, a princípio, com exceção do Itaú Unibanco, se dizem contrários a
uma sobretaxa aos lojistas. Em favor dessa cobrança, o maior banco
privado do país argumenta que, embora seja uma opção do lojista fazer o
parcelamento sem juros, o risco da operação fica exclusivamente com o
banco. Até aqui, esse risco vinha sendo coberto pelas altíssimas taxas
cobradas no crédito rotativo. Com a queda dos juros, o Itaú Unibanco
pondera que seria natural dividir o risco das operações com os lojistas.
O diretor do Bradesco, Marcelo Noronha, afirmou em conferência com
jornalistas nesta semana que não há necessidade de “nenhuma
contrapartida para reduzir o juro do rotativo, porque o banco ganhará
mais com o aumento do volume de transações”.
Procurada, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito
(Abecs) informou por meio de sua assessoria que, por enquanto, a
entidade não tem um posicionamento oficial sobre a questão.
Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomércio-SP, se disse
surpreso com essa discussão, uma vez que os lojistas já pagam (de 3% a
6%) para vender parcelado no cartão. Pior, lembra ele, esse custo
adicional vai para o bolso do consumidor, uma vez que o lojista o embute
como custo nos preços dos produtos.
– A mudança (uma taxa adicional) não interessa ao comerciante, nem ao
consumidor. Só aos bancos e operadores de cartão, e se for adotada seria
mais uma decisão unilateral – disse Carvalho.
O economista da Fecomércio-SP lembra ainda que os cartões, por não
estarem sujeitos à fiscalização do Banco Central, são pouco
transparentes nas taxas que praticam. E, como as taxas são decididas em
cada negociação, as pequenas lojas, sem grande poder de barganha, pagam
mais caro.
Parcelamento seria direito – Embora o tema ainda esteja no campo das discussões, a associação de
defesa do consumidor ProTeste já se declarou “totalmente contra qualquer
nova oneração”. Para Maria Inês Dolci, diretora da entidade, o
parcelamento sem juro é um direito adquirido tanto do consumidor quanto
do comerciante.
A Fundação Procon de São Paulo tem uma posição menos definida, e diz
que, para haver alguma alteração, é preciso um debate maior entre os
bancos e a sociedade.
– Este é o modelo brasileiro. Tanto o consumidor quanto o comerciante
dependem deste parcelamento – disse Renan Ferraciolli, diretor do órgão.