Por Eduardo
Araújo*
A
greve é o último recurso de que os trabalhadores lançam mão,
depois de esgotadas as negociações “a frio”, para ver seus
direitos ampliados e respeitados. É um direito garantido por lei e a
principal arma para conquistar melhores condições de trabalho e
salário, contra patrões intransigentes e gananciosos.
Os
dirigentes de empresa criminalizam o movimento sindical e satanizam a
greve para coagir os trabalhadores a não paralisarem a linha de
produção. No caso dos serviços, os patrões ainda usam a clientela
para refrear o movimento reivindicatório, jogando a população
contra os trabalhadores, como se os grevistas fossem os donos do
negócio.
Só que os bancários não são os responsáveis
pela má remuneração, pelas péssimas condições de trabalho e de
atendimento da população. São os banqueiros, que ganham explorando
a mão de obra e cobrando tarifas e juros escorchantes dos usuários
e clientes. Além disso, se os bancários fossem os donos da
instituição financeira, não dariam tratamento diferenciado aos
dirigentes como tem acontecido nos últimos anos, em detrimento dos
demais funcionários, nem ameaçariam de demissão ou
descomissionamento por atos de gestão com objetivo de pressionar
para obter mais e mais lucros.
Conforme quadro abaixo, o
salário atual do presidente do Banco do Brasil em relação a 2007
teve um aumento de 92,56%, enquanto o piso dos funcionários subiu
50,40% depois de nove anos de greves sucessivas, contra uma inflação
acumulada de 25,33% (INPC). O incremento no salário dos
vice-presidentes foi ainda mais alto: 102,77 %. Já a remuneração
dos diretores(hiperintendentes), 90,36%.
Remuneração de |
2007 |
2008 |
|
2009 |
2010 |
2011 |
2012 |
|
|
Menor Salário |
1.170,22 |
1.296,75 |
10,81% |
1.416,00 |
1.600,13 |
1.760,00 |
1.760,00 |
0,00% |
50,40% |
Maior Salário |
22.023,00 |
23.817,90 |
8,15% |
25.247,10 |
27.140,70 |
29.583,36 |
29.583,36 |
0,00% |
34,33% |
Salário Médio |
3.590,15 |
3.827,71 |
6,62% |
4.567,70 |
4.444,70 |
4.869,19 |
4.924,91 |
1,14% |
37,18% |
Presidente |
28.700,40 |
37.469,40 |
30,55% |
41.592,00 |
44.505,00 |
52.513,00 |
55.264,68 |
5,24% |
92,56% |
Vice-Presidente |
24.395,10 |
33.841,50 |
38,72% |
37.566,00 |
40.197,00 |
47.003,00 |
49.465,96 |
5,24% |
102,77% |
Diretor |
22.023,00 |
28.943,40 |
31,42% |
32.130,00 |
34.380,00 |
39.836,00 |
41.923,41 |
5,24% |
90,36 |
Fonte: |
Bônus – O
banco destinou R$ 3,6 milhões para pagamento à sua Diretoria.
Conforme as Notas Explicativas às Demonstrações Contábeis do 1º
Semestre deste ano, página102, em novembro de 2011, o Banco do
Brasil aprovou pagamento, em ações ou instrumento baseado em ações,
de remuneração variável aos membros da Diretoria Executiva. A
título de bonificação anual relativa ao exercício de 2011, e
dentro do montante global aprovado pela Assembleia Geral Ordinária
de27.04.2011, eles, os diretores, receberiam um valor entre dois e
quatro honorários, de acordo com o atingimento da meta de Retorno
Sobre o Patrimônio Líquido (RSPL), fixada em 20%. No exercício de
2011, o RSPL foi de 22,6%, o que corresponde a 113% da meta
estipulada.
A regra prevê que quanto maior for a pressão
sobre os bancários maior o Bônus para a “Didadura”. A saber:
*
se o atingimento da meta de RSPL ficar entre 100% e 105%, a
remuneração de cada membro da Diretoria Executiva é de 2 (dois)
honorários;
* se ficar maior que
105% e até 115%, calcula-se de forma proporcional; e
* se ficar
acima de 115%, é 4 (quatro) honorários.
Em fevereiro de 2012
foram adquiridas 130.146 ações, todas colocadas em tesouraria, das
quais 130.131 ações foram transferidas aos membros da Diretoria
Executiva em 08.03.2012. As ações transferidas ficaram bloqueadas
para movimentação e a liberação ocorrerá em três parcelas
anuais iguais e sucessivas no mês de março de cada ano, limite
mínimo exigido pela legislação atual.
A Resolução CMN nº
3.921, de 25.11.2010, que dispõe sobre a política de remuneração
de administradores das instituições financeiras, determina que no
mínimo 50% da remuneração variável devem ser pagos em ações ou
instrumentos baseados em ações, dos quais pelo menos 40% devem ser
diferidos para pagamento futuro, com prazo mínimo de três anos,
estabelecido em função dos riscos e da atividade do
administrador.
Aos “capitães” da”Didadura”,
um agrado – Para dar um melzinho para os Gerentes Gerais de
Agências, Superintendentes Regionais e Gerentes Regionais de
Reestruturação de Ativos Operacionais, o Conselho Diretor do Banco
do Brasil S.A. aprovou, em março de 2011, a criação do Programa
Extraordinário de Desempenho Gratificado (PDG), de forma que eles
“estimulem” suas equipes a produzirem resultados no
“Sinergia”.
O Programa visa premiar com pagamento
semestral 30% dos gestores que obtiverem os melhores desempenhos, da
seguinte forma:
* 10% recebem 1,0 salário bruto;
* 10%
ganham 0,8 salário bruto; e
* 10% obtêm 0,6 salário bruto.
Em
junho deste ano, o Programa foi implantado e seu custo semestral pode
ultrapassar R$ 18 milhões que, segundo o Conselho Diretor, seriam
para complementar a PLR deste público alvo, já que eles não ganham
os 3 salários que a Diretoria e os gerentes Executivos ganham,
independentemente da variação do lucro.
Na nota 8.2, página
14, do Relatório da Administração 1º Semestre de 2012, o banco
afirma que “avançou na política de remuneração variável” com
a implantação do PDG e pagamento em junho de 2012 dos 30% dos seus
gestores “com melhor classificação no segundo semestre de 2011”.
Convém lembrar que
nenhuma parcela de remuneração variável ou fixa dos executivos nem
o PDG fazem parte das negociações do acordo coletivo entre o BB e o
Sindicato, mas sim de decisão exclusiva da diretoria do banco.
São
números que devem levar o funcionalismo a refletir sobre a
importância da greve e sobre a necessidade de unidade na luta e de
ampliação da mobilização, de modo a exigir do Banco do Brasil que
negocie seriamente a pauta do funcionalismo e atenda as suas
reivindicações, como, por exemplo, a do cumprimento da jornada
legal de 6 horas. Mas isso é tema para outra conversa.
*
Eduardo Araújo é diretor do Sindicato dos Bancários de
Brasília