Houve quem temesse que os bancos brasileiros pudessem sofrer com os
recentes cortes no juro básico ou com a decisão do governo de reduzir as
taxas cobradas nas instituições financeiras públicas – ou ainda com o
aumento da inadimplência. No entanto, ao menos por enquanto, os bancos
nacionais continuam ganhando quase 50% mais do que os norte-americanos,
que ainda não recuperaram a rentabilidade perdida durante a crise.
Levantamento da consultoria Economática a pedido do Estadão.com.br
mostra que os bancos brasileiros tiveram, no segundo trimestre, um
retorno equivalente a 11,31% do seu patrimônio, o que representa um
ganho 47% superior ao registrado pelos norte-americanos. Nos Estados
Unidos, a proporção foi de apenas 7,68%.
As grandes instituições financeiras do Brasil tiveram ganhos ainda mais
dilatados que a média nacional. No Banco do Brasil, a rentabilidade foi
de 20% do patrimônio líquido no período, quase o dobro da mediana das
instituições financeiras do País e 166% mais que a dos EUA. No Bradesco,
os ganhos foram de 18,8% do patrimônio, e no Itaú, de 18,3%.
Queda – A rentabilidade do patrimônio líquido dos bancos brasileiros vinha
subindo quase linearmente desde o início da década de 2000, até que, em
2006, atingiu o mesmo patamar encontrado nos EUA.
Até aquele ano, o setor financeiro norte-americano teve uma
rentabilidade estável, variando entre 15% e 17%. Mas a partir dali o
porcentual começou a cair, de modo que, no segundo trimestre de 2008 –
antes, portanto, da quebra do banco Lehman Brothers, em setembro – a
rentabilidade nos EUA já estava em 7,5%.
Em 2009, os ganhos nos EUA despencaram; no Brasil, também caíram, mas em
menor grau. Enquanto aqui os bancos ganharam o equivalente a 11% do seu
patrimônio no segundo trimestre daquele ano, lá a rentabilidade média
não chegou a 3%.
Tendências – Economistas divergem sobre o assunto. Para Celso Grisi, do Instituto de
Pesquisa Fractal e professor da Fundação Instituto de Pesquisas
Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), a queda da rentabilidade
dos bancos brasileiros “veio para ficar” e resulta principalmente da
redução da taxa básica de juros, que há um ano estava em 12,5% e no mês
passado chegou a 7,5%.
“A tendência é essa mesmo. Estamos caminhando para uma situação
semelhante à do primeiro mundo, com spreads e juros menores”, afirma
Grisi. Para ele, os ganhos só não recuaram mais porque ainda há no
mercado carteiras que foram negociadas antes dos cortes do juro básico.
“Quando isso vencer, a rentabilidade vai cair mais, talvez para 8%, e aí
os bancos vão tentar rever os custos operacionais e a rentabilidade vai
voltar a subir”, prevê.
Já Ricardo Rochman, professor da Fundação Getúlio Vargas, avalia que a
queda na rentabilidade dos bancos brasileiros deve-se mais à recente
desaceleração na economia brasileira, que atingiu mais as instituições
financeiras pequenas e médias, do que à redução do juro básico.
“Os bancos pequenos e médios”, diz Rochman, “são normalmente bancos de
nicho. Quando a economia desacelera, ele pode ficar sem cliente de uma
hora para a outra”. Já os grandes, por serem diversificados, podem
reduzir a exposição a determinado segmento e aumentar em outro, analisa.
Em comparação com outros setores da economia, os bancos não estão entre
os mais rentáveis, segundo levantamento da Febraban. No ano passado eles
tiveram uma rentabilidade de 16,3% do patrimônio líquido, número bem
menor que os segmentos de bebidas e fumo (31,9%) e mineração (25,5%).