O crédito vai seguir ganhando espaço na economia brasileira, porém
crescerá em ritmo mais lento daqui em diante. Hoje representando 50,6%
do Produto Interno Bruto, o estoque das operações de crédito deve
avançar para perto de 70% do PIB ao longo de dez anos, segundo
economistas ouvidos pelo Valor.
Eles concordam que a velocidade de avanço será mais moderada que aquela
registrada nos últimos anos, beirando os 15% ao ano, sinal de uma
expansão mais “sustentável”. Em julho, o estoque de crédito atingiu R$
2,18 trilhões.
Dados de julho do Banco Central reforçam a tendência de moderação do
crédito. O estoque de financiamentos cresceu 17,7% no período de doze
meses encerrado em julho. Em doze meses até junho, a alta foi de 17,9%
e, até maio, de 18,3%. Em 2008, o crescimento chegava a 30% ao ano.
Claramente, a taxa está desacelerando.
“Projetamos que a relação crédito e PIB alcançará cerca de 64% nos
próximos dez anos”, afirma Octavio de Barros, diretor do departamento de
pesquisa e estudos econômicos do Bradesco. “Esperamos que a taxa atual
de crescimento [do estoque de crédito], ao redor de 16% ao ano, passe
para uma média em torno de 11% ao ano nos próximos dez anos”, calcula.
“Apesar do crescimento acelerado nos últimos anos, o total de
empréstimos bancários como proporção do PIB no Brasil ainda é
relativamente baixo quando comparado a outros países”, observa Carlos
Faria, economista-chefe do Deutsche Bank. Dados do Banco Mundial mostram
a proporção crédito e riqueza no Brasil atrás de Chile e África do Sul,
por exemplo.
“A contribuição do crédito para alavancar o crescimento econômico
passará a ser muito menor nos próximos anos”, avalia Luiz Fernando
Figueiredo, sócio da gestora Mauá Sekular Investimentos e ex-diretor de
Política Monetária do BC. Ele estima um avanço anual na faixa de 10% a
15% do estoque de operações para a próxima década. “Há um processo de
realocação do crescimento do crédito de consumo para o setor
imobiliário.”
Pelos cálculos do HSBC, o incremento da relação entre crédito e PIB deve
ser de 1 a 2 dois pontos percentuais ao ano para os próximos anos, já
que vem caindo a diferença entre crescimento do crédito e do PIB,
segundo André Loes, economista-chefe do banco. Ele estima que as taxas
médias de crescimento anual do crédito fiquem entre 13% e 15% e as do
PIB nominal entre 9% e 10% na próxima década. “Não é um crescimento tão
expressivo como no passado e acredito estar em linha com o que o Banco
Central espera.”
Para o BC, a taxa de equilíbrio do crescimento anual do crédito estaria
em 16%, segundo estudo publicado no site da autoridade monetária, que
tem entre seus autores o diretor de Regulação do BC, Luiz Awazu Pereira
da Silva. O próprio diretor, em evento recente em São Paulo, afirmou
que, no passado, houve “um crescimento excessivo de certos segmentos do
crédito”, mas que o BC agiu para limitá-lo. Defendeu ainda que a relação
crédito e PIB “ainda comporta espaço de crescimento com segurança.”
O Santander calcula patamar de crescimento do crédito próximo ao do BC
para horizonte de cinco a dez anos. “A taxa sustentável está entre 16% e
18% ao ano”, afirma Maurício Molan, economista-chefe do banco. Para
chegar nesse percentual, o banco considerou três parâmetros principais: o
crescimento da renda, o alongamento de prazos dos empréstimos e a queda
nos juros. A conta considera que a base para determinar o avanço do
crédito é a expansão da massa salarial nominal. Ou seja, se a massa
salarial cresce a 10% no ano, como ocorre hoje, o patamar mínimo de
crescimento do crédito é de 10%. Aumentos de prazos e quedas nos juros
das operações incrementam esse crescimento.
Segundo cálculos do banco, cada mês adicional do prazo médio de
financiamentos dá espaço para um acréscimo de 2,1 pontos percentuais na
taxa de crescimento anual do estoque do crédito. Já uma queda de um
ponto percentual nas taxas de juros das operações aumenta em 1,1 ponto
percentual a taxa de crescimento.
“Um crescimento de 15% no saldo é razoável no prazo médio. Mas a parcela
mais importante desse avanço deve vir da pessoa jurídica” diz o
ex-diretor do BC e estrategista da Tandem Global Partners, Paulo Vieira
da Cunha. Na pessoa física, ele avalia que a política de salário mínimo
da administração Lula trouxe o segmento de baixa renda para o crédito,
mas que esse movimento se esgotou. “É um processo que teve um salto, mas
que agora avança de forma mais paulatina.”
No curto prazo, as taxas de avanço do estoque de crédito devem se
beneficiar de um “crescimento vegetativo”, em que os juros altos das
operações contratadas no passado aumentam a velocidade do avanço, avalia
Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados.
Entretanto, como o prazo médio dos empréstimos com recursos livres no
Brasil é pequeno (cerca de um ano e meio) deve ocorrer uma substituição
do estoque de empréstimos por operações com juros menores, limitando o
crescimento do saldo de operações apenas graças aos juros.
Zara estima que o crédito no Brasil chegue a até 80% do PIB em até duas
décadas. “Extrapolar esse nível depende de resolver os grandes gargalos
da economia brasileira, como a falta de infraestrutura.”