P. é gerente do
Santander. O bancário, que já chegou a se afastar do trabalho por
causa do estresse e da pressão, conta que a rotina é insuportável:
“São metas inatingíveis. E, ainda por cima, a gente tem de
aguentar humilhações na frente dos colegas”.
Em meados
deste mês, o Sindicato recebeu uma série de denúncias com relação
às áudio-conferências realizadas pelos representantes do banco com
os gerentes. Humilhações, exposição dos rankings individuais de
metas e ameaças são práticas usuais do Santander.
Diz a
Convenção Coletiva dos Bancários, em sua cláusula 35: “No
monitoramento de resultados, os bancos não exporão, publicamente, o
ranking individual de seus empregados”. Não é o que acontece nas
áudio-conferências do Santander. Muito pelo contrário. Os
trabalhadores são citados nominalmente, com a quantidade de produtos
vendidos, e ainda são chamados a dar explicações.
“O
Santander está contrariando a Convenção Coletiva, estimulando o
individualismo e a competição desenfreada e tornando o ambiente de
trabalho insuportável”, afirma a diretora do Sindicato, Veruska
Ramos.
As ameaças também são comuns durante as
áudio-conferências. Depois de citar nominalmente os gerentes de
agências que venderam pouco seguro, por exemplo, os representantes
do banco acrescentam: “Um profissional que não vende seguro é um
profissional que a gente vai ter que repensar se está no lugar
certo”.
Mais à frente, as ameaças atingem até o reajuste
salarial, que é previsto em Convenção Coletiva e independe de
cumprimento de metas. Dizem os representantes do Santander: “O
cara que não quer ganhar dinheiro não serve pra trabalhar em banco.
E não esperem que vão ter aumento de salário sem vender seguro.
Não terão”.
As humilhações e ameaças se repetem para
cada um dos produtos do banco: abertura de contas, cartão de
crédito, seguro. A cada ponto, os gerentes que se “saíram bem”
são chamados para falar de seus resultados. E os que se “saíram
mal” são chamados a dar explicações. Depois, novas ameaças: “Da
forma que a gente está trabalhando não dá mais. Daqui a pouco, vai
ter alguém no nosso lugar fazendo nosso trabalho porque a gente não
dá conta de fazer do jeito que o banco quer”.
História
antiga – Não é a primeira vez que o Sindicato recebe denúncias
dos trabalhadores. “Os empregados do Santander não estão mais
aguentando. É muito grande a quantidade de gente que está se
afastando com problemas no coração, hipertensão, estresse, doenças
ocupacionais…”, afirma o diretor do Sindicato, Paulo Henrique de
Oliveira.
Segundo Teresa Souza, secretária de Finanças da
Fetrafi/NE (Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro no
Nordeste), nas rodadas de negociação com os representantes dos
bancários, o Santander nega que exista este tipo de pressão e
ameaça, com exposição de ranking individual. Mas mensagens
eletrônicas e áudio-conferências mostram claramente como é a
prática do banco.
“A pressão sempre existiu. Mas, de uns
tempos para cá, a situação está tão grave e as metas são tão
absurdas que a impressão que dá é que eles querem usar os lucros
do Brasil para cobrir os problemas na Europa, por conta da crise. E
os trabalhadores, como sempre, sofrem as consequências”, opina
Teresa.