Os bancos públicos em geral despejaram R$ 65,7 bilhões no mercado no
segundo trimestre, colaborando para a volta do crédito e para a retomada
da economia. Esse valor representa mais de 70% do crescimento total do
crédito no País, que chegou a R$ 93 bilhões no período, conforme dados
do Banco Central – o saldo passou de R$ 2,074 trilhões no primeiro
trimestre para R$ 2,167 trilhões no segundo.
Obedecendo às orientações da presidente Dilma Rousseff, a Caixa
Econômica Federal e o Banco do Brasil foram os maiores responsáveis por
esse crescimento do crédito. A Caixa aumentou em R$ 29 bilhões o volume
de empréstimos, enquanto o BB colaborou com R$ 35 bilhões – um total de
R$ 64 bilhões.
Atraídos pela agressiva política de redução de juros dos bancos
públicos, os consumidores migraram suas dívidas. Também optaram por
tomar crédito na Caixa e no BB em áreas até agora pouco exploradas, como
o financiamento de veículos.
Nos últimos meses, a portabilidade de crédito deslanchou. Os indicadores
do BC apontam que foram, em média, 45,2 mil operações mensais de maio a
julho, representando R$ 522 milhões por mês. Não há dados oficiais, mas
é provável que boa parte dessa migração tenha sido em direção aos
bancos públicos.
A Caixa foi a mais agressiva, com alta de 51,5% na carteira de crédito
no primeiro semestre. A participação da Caixa nas concessões, excluindo
financiamentos imobiliários, nos quais já é tradicionalmente forte,
subiu de 5,9% em dezembro de 2011 para 7,1% em junho deste ano.
Cerca de 27 mil pessoas levaram suas dívidas para a Caixa no segundo
trimestre, um aumento de 123% em relação ao primeiro. Em seis meses,
foram 42 mil operações. “Acreditamos desde o começo no crescimento da
economia e nos antecipamos”, diz Márcio Percival, vice-presidente de
finanças da Caixa.
O BB foi mais cauteloso, mas, pelo seu peso, fez diferença. O banco
cortou as taxas de juros em até 30% e sua participação de mercado subiu
de 19,2% no primeiro trimestre para 19,5% no segundo. De acordo com
Alexandre Abreu, vice-presidente de negócios de varejo, o banco cresceu
na área de veículos, em que praticamente não atuava.
Ele conta que cerca de 60% dos novos financiamentos foram concedidos
para pessoas que tomaram empréstimos pela primeira vez. Os brasileiros
também trocaram dívidas caras por mais baratas. No BB, o consignado
cresceu 20,6% no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2011,
enquanto as concessões no cheque especial e no rotativo do cartão de
crédito caíram 7% e 6%, respectivamente.
Com o impulso dos bancos públicos, o mercado de crédito começa a dar
sinais de fôlego, mas a previsão dos analistas é que a recuperação só
ocorrerá no quarto trimestre. “Estamos em um momento de transição”, diz
Luís Miguel Santacreu, da Austin Asis.
O mercado brasileiro de crédito viveu um boom. Em 2008, cresceu 31%.
Esse patamar desacelerou em 2009, para 15%, mas voltou a ganhar ritmo,
com alta de 20,6% em 2010 e 19,1% em 2011. O brasileiro comprometeu uma
fatia elevada da renda com dívidas e a inadimplência subiu.
No primeiro semestre, o crédito avançou apenas 6,8% em relação ao mesmo
período de 2011, mas o BC prevê alta 15% no ano. Para os especialistas,
há condições para uma retomada: estabilização da inadimplência, queda da
taxa Selic e dos spreads bancários e renegociação de dívidas.
Em julho, a quantidade de pessoas que saiu de casa para procurar crédito
aumentou 2% em relação a julho de 2012, segundo a Serasa Experian. Foi a
primeira alta inter anual em nove meses. O registro de pessoas
inadimplentes cresceu 10,5%no período – o menor ritmo desde julho de
2010. “As pessoas estão resolvendo os pagamentos atrasados e voltando a
tomar crédito”, diz Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da
Serasa.
De janeiro a julho, a recuperação de dívidas cresceu 13,5%, mais que a
alta de 7% dos registros de inadimplentes, segundo a Boa Vista Serviços,
que administra o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC). Até
2011, as pessoas davam mais calote que limpavam o nome. “Estamos no
início de um ciclo mais sustentável de crédito”, diz Dorival Dourado,
presidente da Boa Vista.