Grandes categorias profissionais se preparam para brigar por aumentos
reais de até 10% nos salários, além da reposição da inflação, nos
próximos meses. Na linha de frente estão sindicatos de categorias mais
organizadas no Brasil, como metalúrgicos, bancários, petroleiros e
comerciários, que, juntos, representam mais de 3 milhões de
trabalhadores com data-base para renovação de convenção coletiva em
setembro.
As conquistas dessas categorias costumam balizar as negociações de
acordos coletivos das categorias menos organizadas. A expectativa dos
sindicalistas é de fechar bons acordos, apostando num segundo semestre
melhor que o primeiro.
“Entramos na campanha salarial num momento em que a indústria volta a se
revigorar”, diz Valmir Marques, o Biro-Biro, presidente da Federação
Estadual dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (FEM-CUT).
Biro-Biro, que negocia em nome de 250 mil metalúrgicos em todo o Estado
de São Paulo, vai batalhar por aumentos reais maiores que os 2,42% do
ano passado.
Os 36 mil metalúrgicos de montadoras do ABC paulista garantiram ganho
real de 2,51% para este ano, previsto no acordo fechado em 2011.
Do outro lado da mesa de negociações, as bancadas patronais tratam de
jogar água fria no ânimo dos trabalhadores. A Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo (Fiesp) alega que, em 12 meses, os gastos com
salários subiram 3,4% acima da inflação, enquanto a produtividade do
trabalho caiu 0,8%.
O Sindipeças, que representa a indústria de autopeças, apresentou dados
aos sindicalistas mostrando que o aumento das importações se refletiu na
queda das vendas do setor. Até maio, segundo a entidade, as empresas
faturaram R$ 89 bilhões, ante R$ 91,5 bilhões no mesmo período de 2012.
“Choradeira” – “A gente já senta à mesa sabendo que vem choradeira, mas temos nossas
argumentações que comprovam justamente o contrário”, diz Herbert Claros,
vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos
(SP), filiado à CSP-Conlutas. Para exemplificar, ele cita que uma
fabricante de autopeças de grande porte da região, que em 2011 produzia
em média 105 mil válvulas por dia, este ano já produz 14 5 mil peças por
dia, com 53 funcionários a menos.
A campanha salarial da CSP-Conlutas é unificada entre os metalúrgicos de
São José dos Campos, Campinas, Santos e Limeira, do interior e do
litoral do Estado. Conhecidos como a bancada caipira, juntos, esses
sindicatos representam cerca de 150 mil trabalhadores. Eles reivindicam
aumento real de 7,48%, além da inflação.
Na base do sindicato de São José dos Campos, a General Motors (GM) é a
única montadora, com 7,5 mil trabalhadores. A fábrica local acaba de
fechar as linhas de produção do Corsa, Meriva e Zafira, e mesmo assim
não diminuiu o apetite dos trabalhadores por aumento real de salário. “O
problema da GM é de restruturação produtiva e não de ordem salarial ou
de crise financeira”, pondera Claros.
Petroleiros – A Federação Única dos Petroleiros (FUP), que representa 80 mil
trabalhadores da Petrobrás, reivindica ganho real de 10% nos salários,
além da inflação. “Esse índice é compatível com a conjuntura de
crescimento do setor energético”, afirma João Antônio de Moraes,
presidente da FUP.
Nesse cenário, segundo ele, houve elevação dos salários no mercado e
“muitos profissionais” estão saindo da Petrobrás para trabalhar em
outras empresas. “Se a Petrobrás não se aperceber disso, ela pode ter
problemas sérios no curto e médio prazos, porque a disputa por mão de
obra tende a se agravar”, afirma o sindicalista. Para ele, o prejuízo de
R$ 1,3 bilhões da companhia no segundo trimestre “não é estrutural e
seguramente não pode se manter”.
Bancários – A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro
(Contraf-CUT) reivindica reajuste salarial de 10,25%, sendo 5% de ganhos
reais, para os 530 mil bancários no País.
Eles querem participação nos lucros ou resultados (PLR) de três salários
mais parcela fixa adicional de R$ 4.961,25, além de vale-refeição,
cesta-alimentação e auxílio-creche no valor de R$ 622 cada.
“Apesar de terem aumentado drasticamente as provisões para devedores
duvidosos, destoando da inadimplência real, os bancos apresentaram
lucros bilionários no semestre, o que demonstra que eles podem atender
às nossas reivindicações”, argumenta Carlos Cordeiro, presidente da
entidade.