A ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (Seppir), Luiza Helena de Bairros, se comprometeu em chamar uma
reunião entre a Contraf-CUT e Federação Brasileira de Bancos (Febraban)
para tratar da falta de efetividade do protocolo de intenções que prevê
cooperação mútua para ampliar a inserção da população negra no sistema
financeiro.
O compromisso foi assumido durante audiência com a Contraf-CUT,
assessorada pela Comissão de Gênero, Raça e Orientação Sexual (CGROS),
ocorrida na tarde de quarta-feira, dia 15, em Brasília.
Na avaliação do movimento sindical, não houve avanços, mas recuos em
relação aos objetivos do documento assinado entre a Febraban e a Seppir,
em julho de 2010. O secretário-executivo da Secretaria, Mário Lisboa,
também participou do encontro.
O que mais chamou a atenção foram as demissões de negros, na sua maioria
mulheres, nos bancos privados. Dados apresentados pela Contraf-CUT à
ministra apontam que, além de não haver mais contratações, registrou-se
aumento das demissões de negros nessas instituições nos últimos dois
anos, principalmente no Itaú.
O próprio relatório de sustentabilidade do Itaú revela que houve aumento
de 14% no número de desligamentos de mulheres negras no banco em 2011
em comparação com o ano anterior. Além disso, segundo o Mapa da
Diversidade, feito pela Febraban e divulgado em 2009, os negros e pardos
constituíam 19% da mão-de-obra bancária, ao passo que hoje esse índice
está em 18%.
“Os dados desmascaram mais um truque dos banqueiros, que se utilizam do
Relatório Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e
Emprego, que engloba o sistema financeiro como um todo, para dizer que
está havendo sim contratações de negros. Só que, como nos bancos
públicos as admissões se dão via concurso, a realidade acaba não
aparecendo”, afirmou Andrea Vasconcelos, secretária de Políticas Sociais
da Contraf-CUT.
Limpeza étnica e invisibilidade visível – Diante dos números, a Contraf-CUT classificou de limpeza étnica a
política dos bancos privados de demitir preferencialmente negros (e
mulheres negras) e lançou um desafio à ministra. Que ela, acompanhada de
dirigentes sindicais, percorra agências de bancos privadas na região do
centro de Brasília, e mesmo na Esplanada dos Ministérios, para
comprovar que não há negros trabalhando nos bancos e, quando há, eles
são minoria absoluta.
“Nos bancos públicos ainda podemos encontrar, inclusive no atendimento,
por conta do processo de admissão, através de concurso público. A
situação é mais grave nas instituições privadas, sem contar o problema
da ascensão na carreira. É uma invisibilidade bastante visível”, afirma o
diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília e integrante da CGROS,
Wadson Boaventura.
“Tivermos a oportunidade de denuniciar, mais uma vez, as demissões de
negros que vêm ocorrendo no sistema financeiro, particularmente nos
bancos privados. Agora essa realidade é de conhecimento também do
ministério e não somente do movimento sindical”, destacou Andrea.
Portal de Igualdade – Os representantes dos trabalhadores também denunciaram à Seppir a
ineficiência do Portal da Igualdade, criado pela Febraban para
recrutamento de pessoas negras. Hoje, os bancos se negam a divulgar
informações sobre as pessoas que estão sendo contratadas e as funções
nas quais estão sendo alocadas, o que mostra que os instrumentos de
inclusão da Febraban não estão funcionando.
Além disso, os bancos haviam se comprometido a divulgar o resultado
desse processo a cada seis meses, o que não está acontecendo.
Conclusão – A reunião entre a Seppir, a Contraf-CUT e a Febraban deverá ser agendada
tão logo termine a Campanha Nacional dos Bancários 2012. “O fato de a
ministra ter nos recebido demonstra o respeito e o reconhecimento
político que uma chefe de Estado tem dos debates promovidos pelos
bancários sobre o assunto dentro dos bancos”, avaliou a dirigente da
Contraf-CUT.