O consumidor reclama das tarifas bancárias e dos altos juros cobrados
pelos empréstimos feitos com as instituições financeiras, mas é
acomodado e faz pouco esforço para tentar pagar menos. Os dados fazem
parte de levantamento da Proteste Associação de Consumidores, que ouviu
5,09 mil pessoas no país.
O estudo mostra que os clientes dos bancos costumam ser leais, mas não
se informam sobre o custo para manter a conta ou outros tipos de
crédito.
Apesar da possibilidade de portabilidade, o levantamento constatou que
74% dos clientes mantêm a principal conta corrente no mesmo banco em que
recebem o salário ou pensão. Mais da metade (52%) não troca de
instituição financeira há pelo menos 10 anos.
Cerca de 39% dos entrevistados não sabiam informar quanto pagam pela sua
conta-corrente. Entre os que sabem, o valor médio gasto por mês é de R$
54,93. A pesquisa mostra ainda que os bancos deixaram a desejar no
valor dos juros e tarifas (muito altos) e na transparência das
informações.
“Mas o consumidor também não conhece bem o seu perfil para poder
contratar os serviços e pagar menos. Ele precisa definir as prioridades
como cliente do banco para não ter o ônus do produto que não precisa”,
avalia Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste.
Um programa de aconselhamento ao crédito poderia ajudar o consumidor
brasileiro, segundo avaliação da Proteste. O programa orientaria sobre
qual crédito escolher e qual a melhor forma de pagamento, evitando assim
que voltasse a pedir empréstimo com a finalidade de pagar o primeiro
débito.
Os entrevistados possuem, em sua maioria, dois cartões de crédito (60%) e
pagam anuidade média de R$ 61 para cada um. Cada cartão apresenta
limite médio de R$ 2.984,20. “Se a pessoa gasta muito, é recomendado que
tenha um só cartão, pois tem controle maior do débito”, observa Maria
Inês.
O crédito rotativo é prática comum de percentual considerável (20,5%) de
entrevistados que não consegue pagar o total da fatura. Dos
consumidores que têm um segundo empréstimo pessoal, 26,3% afirmaram que
solicitaram o crédito para pagar outras dívidas. “Isso demonstra uma
falta de planejamento e a incapacidade de pagar o débito com o salário
que ganha”, diz Maria Inês.
“Escolho o meu banco pelo gerente. Já teve vez que cheguei a mudar de
instituição em função dele”, afirma a empresária Fernanda Grossi
O médico Vicente de Paula retrata bem o perfil médio do consumidor
detectado pela pesquisa. Ele é cliente de três instituições bancárias:
Itaú, Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) e Bradesco.
No Itaú, ele é cliente há 40 anos, no Bradesco há 12 anos, e no Sicoob
há 13.
“Não posso fazer a opção de um único banco, pois recebo os honorários em
instituições diferentes”, afirma. Na sua opinião, os bancos poderiam
remunerar melhor o dinheiro do consumidor. “Eles (os bancos) deveriam
remunerar a nossa conta corrente por pelo menos a metade da taxa de
juros que empresta”, observa.
A empresária Fernanda Grossi é cliente há mais de 10 anos do Santander. A
sua conta de empresa é no Banco do Brasil. Ela conta que já pensou em
sair, mas o que define a sua escolha é o tratamento do gerente da
instituição. “Escolho pelo gerente. Já teve vez que cheguei a mudar de
banco em função dele”, diz.
Endividamento Familiar – A facilidade de obtenção de crédito, a falta de planejamento familiar e
as altas taxas de juros cobradas pelo mercado impulsionam o
endividamento dos consumidores, segundo outro levantamento divulgado
ontem pela Proteste. A pesquisa ouviu 200 pessoas e constatou que,
quando uma família assume uma dívida, paga em média 189% a mais por ano
do que o valor real do bem financiado.
As famílias que participaram do estudo têm renda média de R$ 2.401 e
declararam pagamentos de dívidas de R$ 1.009,45, em média, o que resulta
em comprometimento de 42% da renda para pagamento de débitos. O estudo
mostrou que as famílias têm em média três dívidas ativas. Entretanto,
23% das famílias têm cinco dívidas ou mais.