Com metas abusivas, BB atua e lucra como banco privado

O Banco do Brasil anunciou nesta terça-feira (14) que teve lucro líquido
ajustado de R$ 5,69 bilhões no primeiro semestre de 2012, igual ao
Bradesco (R$ 5,7 bilhões). Aliás, chama a atenção a semelhança dos
balanços do BB e dos bancos privados em relação a objetivos, forma de
atuação no mercado, metas e relação com a sociedade e com os
funcionários. É idêntico até o truque de maquiar o lucro, como por
exemplo no dimensionando das provisões para devedores duvidosos mesmo
com a inadimplência estável.


A tabela abaixo mostra a abusividade das metas estabelecidas pela
direção do Banco do Brasil para 2012. “Levando em consideração a taxa de
juros brasileira, o índice de inflação e o crescimento do país medido
pelo Produto Interno Bruto (PIB), torna-se um absurdo estabelecer uma
meta para Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RSPL) entre 19% e 22%”,
afirma o diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília, Eduardo Araújo.
“Isso é a mesma coisa que ligar um aspirador para sugar recursos da
economia, cobrando altas taxas de juros.”


Confira
aqui a tabela


Diante do novo cenário de baixa de juros imposto pelo governo federal, a
direção do BB revisou a meta do RSPL, estimando em 17% para 2012, uma
lucratividade ainda muito alta para a realidade atual da economia
brasileira.


No indicador de Rendas de Tarifas, foi previsto um crescimento de 13% a
18%. Contudo, o índice cresceu 21,3%, atingindo R$ 10,3 bilhões no
semestre, descortinando uma política equivocada de ampliação da receita
de prestação de serviços com o “BOMPRATODOS”, sem, contudo, prestar
atendimento de qualidade à população, com ampliação do efetivo de
funcionários, optando claramente pela terceirização dos serviços para
correspondentes bancários.


Já o crescimento das Despesas Administrativas foi afetado por decisões
da alta administração do banco, crescendo 17,2% no semestre. Segundo a
nota explicativa do BB, trata-se de despesas com “incorporação de
operações, notadamente negócios com o grupo segurador Mapfre, Banco
Postal e Banco Patagonia, que ainda não eram consolidados no resultado
do 1S11”.


Os produtos de Seguridade, Previdência e Capitalização, com receitas de
R$ 1,1 bi, sofreram um decréscimo de 4,7% sobre 1S2011, contudo não
houve revisão das metas para estas operações que dão baixíssimo retorno e
muito trabalho para os bancários que muitas vezes têm que “empurrar”
para os clientes.

Despesas de Pessoal – As despesas de pessoal cresceram 4,8%, no comparativo 2T12- 1T12. No
comparativo 1S12-1S11, o crescimento de 16,2% deveu-se, em parte, à
consolidação das despesas com o Banco Patagonia e parceria com o Grupo
Mapfre, que incrementaram as despesas de pessoal no período em cerca de
R$ 195 milhões.


Desconsiderando esse efeito, o crescimento das despesas de pessoal na
visão semestral seria de 13,5%, justificado pelo reajuste salarial
concedido na data-base de setembro/2011 e aumento do número de
funcionários. O BB não foi claro nas demonstrações contábeis, mas é
provável que nesses 13,5% estejam incluídos os generosos bônus pagos aos
administradores das agências e superintendências pelo Programa de
Desempenho Gratificado.


A relação “contas/funcionários” ficou ainda pior no período. Em dezembro
de 2011, o número de funcionários era de 113.810, em março 2012 foi
reduzido para e 113.404, e, em junho 2012 saltou para 113.996, um
acréscimo de 186 funcionários no período. Já a base de clientes passou
de 56 milhões para 57,5 milhões, no mesmo período.


Com essa equação, a relação entre a Receita de Prestação de Serviços,
somada à Renda de Tarifas Bancárias sobre as Despesas de Pessoal,
demonstrou que somente essa receita secundária no banco cobre toda a
despesa de pessoal, com sobra de 30,25% em junho de 2012 – aumento de
5,36% em comparação ao mesmo período de 2011 (foram vendidos pelo banco
um total de 388.211 pacotes de serviço “Bompratodos”).


Lamentavelmente as despesas de treinamento sofreram redução de 12,4% em
relação ao 1º semestre de 2011. Isso pode sinalizar uma mudança na
política de investimento na capacitação de pessoal, transferindo para os
funcionários a responsabilidade pelo custeio do seu desenvolvimento
profissional.


O resultado também foi impactado negativamente, se comparado com 2011,
com a redução do montante contabilizado pelo Plano de Benefícios da
Previ, que contabilizou R$ 781 milhões no primeiro semestre de 2012,
valor 59% inferior ao verificado no primeiro semestre de 2011 (R$ 1,92
bilhão). Essa contabilização, na visão do movimento sindical tem
problemas sérios (como a diferença de percentual nas premissas do BB e
da Previ para o cálculo atuarial), apesar de regulamentos de órgãos
reguladores permitirem tal situação.


“Diante desse resultado, a diretoria do BB deve mudar sua postura nas
negociações com os trabalhadores, resolvendo de uma vez a questão da
jornada de 6 horas e negociando de fato as reivindicações relacionadas
ao Plano de Comissões. Essa intransigência não tem cabimento”, destaca
Eduardo Araújo.

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