Os cinco maiores bancos do país – Banco do Brasil, Itaú Unibanco,
Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal – lucraram R$ 11,38
bilhões de abril a junho, um valor 5,07% menor do que o registrado um
ano antes. A comparação, porém, esconde a diferença entre a retração dos
bancos privados e a agressividade dos públicos, em especial da Caixa.
No semestre, os cinco bancos lucraram R$ 22,1 milhões, queda anual de
3,7%. E os públicos confirmaram a lideranças na oferta de crédito.
Não foi um trimestre fácil para as instituições. Os calotes pressionam
os resultados. As despesas com provisões para devedores duvidosos
cresceram 30%, a R$ 19,2 bilhões. Enquanto isso, a carteira de crédito
dos cinco maiores bancos aumentou a passos mais lentos, a 19,9% em 12
meses, a R$ 1,59 trilhão. Analistas e os próprios bancos esperam melhora
nas provisões só no fim do ano.
Só dois bancos conseguiram lucrar mais em relação ao ano passado. O
Bradesco teve um avanço ligeiro de 1,7%, para R$ 2,83 bilhões. Já a
Caixa registrou um crescimento de 15,1%, para R$ 1,68 bilhão, puxado
pela acelerada concessão de crédito.
O resultado da Caixa mostra o banco na contramão das outras
instituições, confirmando que o banco atuou de forma mais incisiva que
os concorrentes na primeira metade do ano. O BB também avançou mais que
os privados, mas nada que se compare à performance da Caixa. A carteira
de crédito da Caixa teve expansão de 44,6% em 12 meses, enquanto o BB
avançou 19,9%. Na média, os privados tiveram expansão de 13,17%.
A forte expansão do crédito da Caixa veio acompanhada de expressivo
crescimento do lucro e inadimplência comportada, ao contrário da
concorrência. A inadimplência no banco estatal seguiu em 2%,
ligeiramente abaixo dos 2,1% do primeiro trimestre, fortemente
influenciada pela baixíssima taxa de calote da carteira imobiliária.
Apenas o BB tem inadimplência em nível tão baixo quanto o da Caixa (2,1%
no trimestre), graças a carteira de consignado, com desconto em folha
de pagamento. O Bradesco exibiu índice de 4,2% e o Itaú de 5,2%.
A inadimplência na Caixa e no BB também recebeu ajuda matemática para
cair. Como a carteira de crédito das instituições públicas cresceu em
ritmo maior que das privadas, há um benefício no cálculo da
inadimplência, que considera os empréstimos com atrasos acima de 90
dias.
O protagonismo dos bancos públicos repete cenário visto durante a crise
de 2009, quando as instituições ligadas ao governo assumiram a ponta no
crescimento do crédito, afirma João Sales, analista da Lopes Filho. “No
fim de 2009, quando sentiram mais firmeza na recuperação da economia, os
bancos privados voltaram a brigar pelo mercado.”
A grande questão é qual será o comportamento da inadimplência – e,
portanto, das despesas com provisão – da Caixa quando os créditos agora
concedidos começarem a maturar. Na esteira do forte ritmo do crédito, o
banco estatal passou a atuar de forma mais agressiva, com taxas de juro
abaixo daquelas dos concorrentes, em linhas de crédito nas quais não
tinha tradição e a qualidade dos empréstimos concedidos só ficará clara
no futuro. “Se houver um problema de inadimplência no futuro, ele deve
começar na Caixa”, avalia um analista ligado a um grande banco
internacional.
No trimestre, suas despesas com provisão subiram 39,77% em relação ao
segundo trimestre de 2011, em linha com as do Bradesco (mais 39,8%) e do
Santander (46,67%), mas bem acima de Itaú (17,25%) e BB (22,68%).
Se há dúvidas sobre o comportamento do calote na Caixa, começa aumentar o
coro de quem vê melhora de inadimplência. “Historicamente, há um
intervalo de sete a 11 meses entre o começo da queda da taxa básica de
juros e a melhora do ciclo de inadimplência”, diz Eduardo Nishio, da
Flow Corretora, lembrando que a Selic começou a cair no fim de agosto de
2011. “Ou seja, o pico de inadimplência deve ser no segundo ou terceiro
trimestres, abrindo espaço para recuperação no quarto.”
Dados do BC sustentam a teoria. A inadimplência caiu 0,1 ponto
percentual em junho, a 7,8%. Nas modalidades à pessoa física e no
financiamento de veículos especificamente, junho foi o segundo mês
seguido de recuo na taxa antecedente, de atrasos de 15 a 90 dias.