O secretário-geral da ONG Finance Watch defende que as instituições financeiras cumpram seu papel social pela prosperidade
Desde 1985, houve 30 crises bancárias que custaram caro à sociedade.
Por que só agora surgiu uma ONG para controlar a atividade dos bancos?
A ideia partiu de deputados europeus, que acharam que era preciso criar
um contrapeso ao lobby da indústria financeira. Por que agora? A razão é
simples: a crise de 2007-2008 criou um choque particularmente
importante. Desde então, instituições europeias criaram novas
regulamentações e o lobby financeiro se mobilizou para tentar
influenciar o cenário.
Aí os deputados disseram: não podemos mais trabalhar corretamente nessas
condições. A visão deles é a de que os interesses privados (dos bancos)
são legítimos, normais e indispensáveis, mas é preciso uma defesa do
interesse geral.
Os senhores dizem que não são uma ONG antibanco. Por que objetivo lutam?
Partimos da constatação de que bancos e finanças são indispensáveis. A
sociedade precisa de bancos que ganhem dinheiro e prosperem, mas eles
devem servir à economia e a sociedade, e não o inverso. Quando um banco
financia uma empresa ou a sociedade, ele faz seu trabalho. Quando
especula, não. Lutamos por bancos a serviço da sociedade.
O sistema financeiro tornou-se alvo dos políticos. O senhor crê numa verdadeira mudança?
A mudança acontece progressivamente. Duzentos parlamentares de vários
partidos, da direita à esquerda, assinaram um apelo para criação do
Finance Watch. Occupy Wall Street é outro exemplo: um movimento
espontâneo que mostra uma consciência da sociedade de que há algo
errado.
Pode-se dizer que o mercado todo-poderoso acabou?
Não, mas acho que há uma conscientização cada vez maior na União
Europeia em defesa do interesse geral, e no sentido de não mais aceitar
que o interesse privado (dos bancos) controlem a sociedade. Está cada
vez mais difícil defender a ideia de que se é bom para o interesse
privado, é bom para a sociedade.
As agências de classificação têm um poder enorme hoje sobre os Estados e o mercado. O que acha?
Elas têm um poder enorme porque se comportam como juízes, quando, na verdade, deveriam ser analistas.
O senhor vê luz no fim do túnel para a crise europeia?
Não vejo saída sem que se mudem os ingredientes. Ou vamos até o final
(na integração da Europa), ou ficamos no meio do rio, e vamos continuar
molhados, sujeitos às correntes a ao frio.