A importância da integração da América Latina foi reforçada na
segunda-feira (23), o primeiro dia da 8ª Reunião Conjunta das Redes
Sindicais dos Bancos Internacionais (HSBC, Santander, BBVA, Itaú e Banco
do Brasil), em Montevidéu. Dirigentes sindicais de vários países, onde
essas instituições financeiras atuam, participam dos debates que
continuaram nesta terça-feira (24) e se estendem até quinta-feira (26),
na capital do Uruguai. O evento é promovido pela UNI Américas Finanças.
Abertura – A mesa de abertura do encontro contou com a participação do presidente
da Contraf-CUT e da UNI Américas Finanças, Carlos Cordeiro, do diretor
regional da UNI Américas Finanças, André Rodrigues, e do presidente e
secretário-geral da Associação dos Empregados Bancários do Uruguai
(AEBU), Gustavo Pérez e Fernando Gambera, respectivamente. Eles
enfatizaram a necessidade de atuar cada vez mais conjuntamente na
América Latina para defender os direitos dos trabalhadores e ampliar as
conquistas.
Cordeiro saudou o aniversário de 70 anos da AEBU, lembrando que na
recente festa de confraternização foram homenageadas 70 pessoas que
marcaram a história da entidade e uma delas agradeceu dizendo “obrigado,
AEBU, por nos fazer pessoas melhores”. O presidente da Contraf-CUT
emendou afirmando “obrigado, AEBU, por nos fazer dirigentes sindicais
melhores”.
Ele defendeu mais organização, mobilização e negociação para defender os
interesses dos trabalhadores. “Enquanto há um ataque aos direitos da
classe trabalhadora na Europa, setores conservadores na América Latina
estão se utilizando da crise internacional para fazer terrorismo e
ameaçar os trabalhadores”, alertou.
O dirigente da Contraf-CUT também denunciou a política desumana dos
bancos internacionais. “O HSBC sai de um país para outro atrás de
resultados, sem compromisso com a população. Persegue trabalhadores e
dirigentes sindicais”, frisou. Ele lembrou a denúncia feita na última
quarta-feira (18), em Curitiba, sobre a espionagem de 164 bancários
afastados por motivo de saúde. “Entregamos a denúncia ao ministro do
Trabalho e Emprego, Brizola Neto, que prometeu investigar o caso”.
O sindicalista ainda denunciou o Itaú que, no processo violento de
demissões, fechou cerca de 8 mil postos de trabalho em um ano, o que é
inaceitável para o banco privado que mais lucra no Brasil. “Não adianta
ter crescimento econômico com aumento real de salário, se continuar essa
política de rotatividade dos bancos”, apontou.
O diretor da UNI enfatizou que o segundo semestre deste ano será de
muito trabalho, com a realização das conferências de jovens e mulheres e
a própria conferência da UNI Américas Finanças em 1º e 2 de dezembro,
em Montevideo.
O presidente de AEBU destacou com orgulho que é a primeira vez que se
realiza no Uruguai uma reunião de redes sindicais. Para Gustavo Pérez,
os bancários devem manter uma participação e uma discussão permanente,
buscando “possibilidades de crescimento e desenvolvimento dos povos”.
Já o secretário-geral da AEBU se referiu ao papel que jogam os
trabalhadores que, na maioria das vezes, “carregam sobre os ombros” o
peso das medidas que os governos aplicam diante das crises, como no caso
da Espanha. Fernando Gambera defendeu “a necessidade que tem o
movimento sindical latino-americano de definir estratégias para fazer
frente às situações de futuro”.
Integração da América Latina – O vice-chanceler da República do Uruguai, Roberto Conde, fez uma
apresentação focando a conjuntura econômica da América Latina,
destacando a importância dos processos de integração em andamento, como o
Mercosul e a Unasul, e apontando os desafios para os países. “O
caminho do desenvolvimento é a integração latino-americana”, disse.
Em relação ao golpe branco do presidente Fernando Lugo no Paraguai, ele
disse que o processo é muito dinâmico. “Não há sanções econômicas, mas
somente uma decisão política de afastamento do Mercosul. Se houver
diálogo, não há risco de ruptura”, disse.
O secretário de relações internacionais da Contraf-CUT, Mário Raia,
questionou o representante uruguaio sobre a pequena participação das
centrais sindicais nas decisões do Mercosul.
Conde disse que “as centrais já compreenderam a visão estratégica do
processo de integração, o que é importante. O diálogo é fundamental
entre governos e o movimento sindical”,
Unasul e Banco do Sul – O embaixador e representante permanente do Brasil na Aladi e no
Mercosul, Ruy Carlos Pereira, chamou a atenção de que “a globalização é
uma abertura forçada pela indústria” e que “estamos assistindo uma
reinvenção do capitalismo”.
Para ele, o processo de integração na América Latina é diferente da
União Europeia. “Lá foi para evitar uma guerra, aqui o que se busca é a
integração”, comparou.
Pereira explicou o que é o FOCEM (Fundo para a Convergência Estrutural
do Mercosul). “Trata-se de um instrumento destinado a financiar projetos
nacionais ou pluriestatais”, disse. Foi ciado em 2004 e é o único
mecanismo regional de financiamento de projetos com recursos doados,
hoje em torno de 100 milhões de dólares.
Também foi destacado o papel do Banco do Sul, fundado em 9 de dezembro
de 2007 por Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e
Venezuela, com sedes em Caracas e Buenos Aires e subsede em La Paz.
“É o banco de desenvolvimento da Unasul com o objetivo de proporcionar o
desenvolvimento econômico, social e ambiental dos países membros, com
financiamento para projetos no âmbito territorial da Unasul em diversos
setores”, frisou.
Segundo o embaixador, “é uma entidade financeira de direito público
internacional, com personalidade jurídica própria, sem dinheiro dos
bancos privados”. O banco ainda não está operando. O início dos aportes
está previsto para abril de 2013.
Questionado sobre a participação da sociedade civil, Pereira afirmou que
“o diálogo é fundamental”. Na sua avaliação, “o diálogo tem condições
variáveis com os todos os segmentos e há diversas experiências”.
“A Unasul ainda não tem resultados palpáveis, diferente do Mercosul, que
já possui avanços nas relações de comércio e na questão do trabalho
decente”, concluiu Pereira.
Sistema financeiro – Os trabalhos do primeiro dia foram encerrados com uma apresentação da
AEBU sobre a situação do sistema financeiro na América Latina. Enquanto
na década de 90 houve um aumento da participação dos bancos estrangeiros
no total dos ativos, de 11% para 31% entre 1995 e 2000, ocorreu uma
redução na primeira década deste século, diminuindo de 40% para 35%
entre 2008 e 2010.
Foi destacado o ingresso a partir de 2000 do Santander e do BBVA na
região, especialmente no Brasil e no México, bem como a expansão de
bancos de alguns países latino-americanos, como o Itaú.
Entre os desafios e oportunidades, a AEBU apontou a importância dos
bancos públicos, que tem cumprido papel estratégico no enfrentamento da
crise internacional.
Participação – Além de Carlos Cordeiro e Mário Raia, participam vários diretores da
Contraf-CUT que são funcionários de bancos internacionais: Carlos Souza e
William Mendes (BB), Ademir Wiederkehr (Santander), Miguel Pereira,
Alan Patrício e Sérgio Siqueira (HSBC) e Mauri (Itaú). Também estão
presentes dirigentes de sindicatos e federações de vários estados, bem
como representantes de outros países (Uruguai, Argentina, Paraguai,
Chile, Peru, Colômbia, México, Costa Rica e Espanha).