Negociação e mobilizações serão as bandeiras da CUT nesse mandato

Em discurso após o anúncio de sua eleição, o novo presidente da maior
central sindical brasileira e quinta maior do mundo, Vagner Freitas,
falou sobre a importância de a classe trabalhadora pressionar Executivo e
Legislativo por reformas fundamentais ao desenvolvimento brasileiro.


Citou a necessidade de rever os sistemas financeiro, tributário,
eleitoral e, claro, sindical. Na base desse processo está a ampliação da
participação da classe trabalhadora nos espaços de decisão, uma das
prioridades dessa nova gestão. E essa mudança, defende, apenas
acontecerá mediante muita pressão e capacidade de negociar.


Em entrevista ao Portal da CUT, Freitas comenta a relação da Central
com o governo, fala sobre a expectativa com as campanhas salariais neste
segundo semestre e comenta como será a atuação do movimento sindical
CUTista nas eleições municipais.

O que a CUT priorizará nesta nova gestão?

Vagner Freitas –
Essencialmente, estar muito próxima
dos sindicatos porque os sindicatos de base é que são o pilar de
sustentação da CUT diante da nossa concepção de um sindicato arraigado a
partir do local de trabalho, com entidades participativas. Queremos
ampliar o papel da CUT como interlocutora da sociedade e dos interesses
do trabalhador, discutindo assuntos que vão além do cotidiano no local
do trabalho, como a qualidade do transporte que utiliza, da educação da
saúde, da segurança. Claro, sabemos que não há negociação sem
mobilização, sem poder de enfrentamento dos movimentos sociais, sem
colocar a pauta dos trabalhadores nas ruas. E para isso é preciso
formar, organizar e negociar.

Falando em negociação, vivemos um momento delicado em que, de
um lado, estão os servidores mobilizados e em greve para cobrar melhores
condições de trabalho. Do outro, um governo que não apresenta propostas
concretas. Como a CUT irá intervir nesse cenário?

Freitas –
Primeiro, a CUT concorda com a greve dos
servidores e acredita que está faltando interlocução do governo para
entender as reivindicações e apresentar soluções. Tem recebido os
trabalhadores, mas não tem negociado em cima da pauta, não faz uma
contraproposta. E ainda está dizendo que, talvez, no dia 31, se
pronuncie. Isso só prolonga a greve. O governo não ajuda a resolver o
problema quando não ser pronuncia sobre questões financeiras, de
reorganização de carreira. Isso nos preocupa muito. Na conversa que
tivemos, os ministros apontaram para a gravidade da crise financeira
internacional, colocando que essa é diferente da de 2008. Mas é
necessário discutir conosco abertamente para que a crise financeira não
seja uma muleta para não atender as reivindicações dos servidores.
Ficamos satisfeitos quando a presidenta Dilma recrimina os governos que
estabelecem como saída da crise o arrocho fiscal, monetário, diminuição
do Estado, tirar direito do trabalhador, ações que vêm do receituário
ditado pelo Bando Mundial e FMI.  Mas, se o próprio governo brasileiro
diz que a saída deve ser investir no mercado interno, na expansão do
crédito, em políticas públicas, aquecer o mercado e até tem feito
medidas para garantir que a solução da crise seja diferente do aplicado
nos países da Europa, como que agora na discussão com os servidores
aponta a crise  como culpada? Vamos ter que repetir para o governo: quem
foi o responsável por essa crise não foram os trabalhadores e não
pagaremos por ela.

Quais seriam as soluções a longo prazo?

Freitas –
Se a crise é preocupante, vamos fazer um
debate interno e cobrar o ônus não só do salário dos servidores. Vamos
discutir com setor empresarial para estabelecer medidas como uma reforma
tributária para que os que ganham mais paguem mais e financiem
desenvolvimento do Estado. Queremos ser chamados para discutir soluções
que não o arrocho de salário. Nesse momento, a solução é aquela que
tenho dito para o governo: negociar, negociar e negociar, trazendo a voz
dos trabalhadores e impondo a agenda do crescimento e não da rigidez
fiscal. Nós podemos ser parceiros para isso, mas não para pagar pela
crise que foi construída pelo capitalismo internacional.

Muitas das transformações passam por decisões no Congresso Nacional. Como será a relação com o Legislativo?

Freitas –
O Congresso Nacional é o que está aí e a CUT
precisa dialogar com ele. Agora é essencial construir políticas
internas para fazer uma grande reforma política garantindo que o
trabalhador possa virar parlamentar também e não apenas o empresário.
Quando você não tem financiamento público de campanha, vale o jogo de
quem tem mais poder financeiro. Por isso temos no Congresso Nacional um
trabalhador para cada três empresários. Temos que democratizar a
ascensão das pessoas ao parlamento por meio do financiamento público de
campanha, do voto em lista.  Precisamos inverter isso para que o
parlamento reflita a magnitude da discussão que temos hoje na sociedade,
algo que ainda não acontece. Você tem um processo de crescimento, de
desenvolvimento econômico, 30 milhões de pessoas saindo da linha da
miséria e o Congresso não reflete isso. Isso é uma forma de negar a
democracia, negar oportunidades iguais na construção do parlamento. De
qualquer forma, vamos procurar as bancadas de cada partido para
apresentar a nova Executiva da CUT, a pauta dos trabalhadores que está
trancada no Congresso Nacional, fazendo o papel que temos de fazer. Ao
mesmo tempo em que pressionaremos o Congresso e o Executivo com as
mobilizações de massa e de rua que fazem parte do DNA do sindicalismo
CUTista, começando por uma grande marcha em Brasília, no dia 15 de
agosto.

No segundo semestre temos as campanhas salariais das principais
categorias do setor privado. Como a CUT irá intervir nesse processo?

Freitas –
Nosso objetivo é unificar todas essas lutas e
transformar as reivindicações específicas na pauta geral. A ideia é
combinar a luta entre as várias categorias, pública e privada, rural e
urbana, de maneira que uma campanha ajude a outra e todas saiam
vitoriosas com ganhos para os trabalhadores. Consequentemente, com o
fortalecimento da classe trabalhadora para fazer as transformações que o
Brasil precisa. Isso você só faz quando insere além do emprego e
salário, lutas gerais que interessam a toda a classe trabalhadora como
as reformas tributária, política, do setor financeiro, o fim do Fator
Previdenciário, o fim da terceirização, a redução da jornada sem redução
de salário.

Como a Central se posicionaria no processo eleitoral?


Freitas

– Já temos a Plataforma da Classe trabalhadora, que
novamente discutiremos com os candidatos, e vamos continuar enfatizando
nossas propostas. A ideia também é orientarmos as CUTs estaduais para
que façam um levantamento das candidaturas progressistas e que ajudam no
desenvolvimento desse nosso projeto CUTista de transformação do país. E
orientar as lideranças sindicais a defenderem projetos que defendam
propostas relacionadas ao desenvolvimento da classe trabalhadora e
contra o retrocesso ao liberalismo econômico e à privataria tucana, do
DEM e do PSD.

A campanha por liberdade e autonomia sindical entra numa
segunda fase a partir de agora, com um abaixo assinado que percorrerá o
país para apoiar a ratificação da Convenção 87 da OIT, que trata da
liberdade e autonomia sindical. Como a Central atuará para aprofundar
essa luta?


Freitas –

É fundamental para a democracia brasileira termos
sindicatos fortes e organizados. Nossa defesa incondicional da liberdade
e da autonomia sindical se dá por conta de acreditarmos que se não
tomarmos conta do futuro do sindicalismo no Brasil, corremos o risco de
banalizar e enfraquecer os sindicatos. Essa estrutura que temos hoje não
ajuda a crescermos, ao contrário, fortalece entidades sem
representatividade, sem relação com quem está no local de trabalho. A
campanha que fizemos e que daremos continuidade nesse segundo semestre,
ocupando todos os estados brasileiros, é de manutenção dos sindicatos
como instrumentos de transformação da sociedade. Nossa campanha visa
mostrar que o atual modelo só interessa a quem enxerga no movimento
sindical meramente um meio de sustentação financeira, principalmente por
meio do imposto sindical. Esperamos construir ainda mais adesões a uma
campanha que visa fortalecer os sindicatos e lideranças sindicais
combativas.

Qual o grande desafio da CUT?


Freitas –

Ano que vem a CUT faz 30 anos tendo cumprido uma
trajetória na construção da resistência e da luta da classe trabalhadora
brasileira. Mas, a conjuntura que iremos enfrentar é diferente: à luz
do que construímos, precisamos pensar antecipadamente, à frente do nosso
tempo, como fizeram aqueles que nos antecederam. Para isso, precisamos
qualificar cada vez mais a Central e seus sindicatos para representar o
trabalhador na plenitude de suas necessidades e continuar sendo um
agente importante na construção de uma sociedade que desejamos, de
justiça social, com um Estado indutor da economia, que não seja o
mercado a referência de nossas vidas e ocupando os espaços que devemos
ocupar. 

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