Os servidores públicos federais decidiram radicalizar a greve, em
resposta à autorização do governo para o corte de ponto dos servidores
paralisados, anunciada pelo Ministério do Planejamento (MP), na última
sexta (6). “É inadmissível que um governo do Partidos dos Trabalhadores
prefira ameaçar os servidores do que estabelecer uma negociação
efetiva”, disse à Carta Maior o secretário-geral do Sindicato dos
Servidores Públicos do Distrito Federal (Sindsep-DF), Oton Pereira.
Segundo
ele, a autorização para desconto dos salários soou como provocação para
os grevistas. “Este anúncio acirrou ainda mais os ânimos. Várias
assembleias e protestos foram marcados, e deverão resultar em uma adesão
ainda maior. Há uma percepção geral de que o governo está obrigando os
servidores a protagonizar a maior paralisação já vista no serviço
público brasileiro, inclusive para defender nosso direito de fazer
greve”, acrescentou.
O secretário-geral do Sindsep-DF afirma que,
historicamente, os servidores conseguiram reverter todas as tentativas
de corte de ponto dos servidores em greve, seja por meio da justiça ou
pela própria pressão dos servidores. Em 2007, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva voltou atrás e suspendeu o corte anunciado, em
função da pressão social. “O governo se baseia em uma lei de greve
imposta pela ditadura militar para descontar os salários. E isso,
politicamente, é insustentável para um governo de base populares, porque
vai de encontro ao próprio direito de greve”, avalia.
Marinalva
Oliveira, presidenta do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições
de Ensino Superior (ANDES-SN), primeira entidade a entrar em greve,
também acredita que a medida só resultará em mais desgaste para o
governo. “As universidades públicas, têm, por lei, autonomia
universitária. Em 2001, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
determinou um corte de ponto de grevistas, os reitores se recusaram a
fazê-lo. O governo, então, cortou o ponto de todos os docentes, e nós
conseguimos reverter a medida judicialmente”, lembra.
Segundo
ela, a comunidade universitária está indignada com a autorização e
promete intensificar ainda mais a paralisação. “Estamos com quase dois
meses de greve e ainda não conseguimos estabelecer uma negociação com o
governo. Nossa pauta de reivindicações foi protocolada em abril do ano
passado e ainda não tivemos resposta. Aliás, desde o início da greve, a
única vez que o Planejamento nos recebeu foi para pedir uma trégua e
agendar uma nova reunião de negociação, que acabou sendo desmarcada. E o
governo ainda vem com ameaças”, critica.
Segundo ela, é por isso
que o anúncio do corte de ponto provocou a indignação da base da
categoria. “Enquanto os professores leem, todos os dias, nos jornais,
que o governo autorizou mais investimentos em recursos para as grandes
obras e novas isenções fiscais para empresas, percebem que os
investimentos na área social, que engloba saúde e educação, ficam apenas
no discurso. Parece que a crise econômica é só para a área social”,
acrescenta.
O secretário-geral do Sindsep concorda que greve
desvela uma disputa de projeto para o país. “Os servidores não estão
lutando apenas por maiores salários. Também pleiteamos uma melhoria dos
serviços públicos, que não atendem às demandas da população. Em todas as
áreas, falta estrutura, faltam servidores. E nós queremos um governo
que tenha, de fato, o social como prioridade. E isso não vai acontecer
enquanto o governo destinar metade do seu orçamento para o pagamento dos
juros da dívida pública”, afirma.
Os docentes entraram em greve
no dia 17/5, seguidos pelos servidores administrativos e estudantes.
Hoje, estão paradas 56 das 59 universidades públicas do país, além de
institutos tecnológicos, escolas técnicas e colégios de aplicação.
Somaram-se a eles, a partir de 18/6, mais doze categorias representadas
pelo Sindsep: funcionários dos ministérios da Saúde, Planejamento,
Integração Nacional, Agricultura, Justiça, Trabalho e Emprego e
Desenvolvimento Agrário, além dos do Itamaraty, Funai, Funasa e Arquivo
Nacional.