Movimentos sociais divulgam declaração final com críticas à Rio+20

A Cúpula dos Povos, resposta dos movimentos sociais à Conferência sobre
Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (Rio+20), terminou na
manhã dessa sexta-feira (22) com uma grande assembleia no Aterro do
Flamengo, local onde ocorreram os debates.

Com a participação das organizações dos movimentos sociais que tomaram a
capital carioca, o encontro apresentou uma ampla agenda de lutas e
campanhas, além da declaração final assinada por todas as entidades.
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No documento, uma síntese política das discussões, a necessidade de
frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, por
meio de lutas, novos paradigmas da sociedade.

A declaração também afirma que a Rio+20 atendeu apenas aos interesses do
sistema financeiro e representou a captura política da ONU. O relatório
aponta que a conferência oficial “repete o falido roteiro de falsas
soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global.”

Para a Cúpula, a maioria dos governos demonstrou irresponsabilidade com o
futuro da humanidade e do planeta. Diante disso, o encontro dos
movimentos sociais deixou claro que apenas a mobilização é capaz de
reverter esse quadro.

O texto aponta ainda caminhos para alterar o atual quadro de crise, como
a gestão democrática e a participação popular, a economia cooperativa e
solidária e a construção de um novo paradigma de produção, distribuição
e consumo.

Dia Mundial de Greve

– Ao final, a Cúpula apresentou 14 eixos de luta, com destaque para a
construção de um Dia Mundial de Greve Geral e para a solidariedade aos
povos e países, principalmente os ameaçados por golpes militares ou
institucionais, como ocorre agora no Paraguai.

CUT no Paraguai

– A secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane Silva, representando
também a Confederação Sindical das Américas (CSA), a Confederação
Sindical Internacional (CSI), abordou justamente essa questão. Ela
afirmou que uma delegação da CUT já está se articulando para ir ao
Paraguai no início da próxima semana com outros sindicalistas da América
do Sul.

O objetivo é ampliar a resistência dos trabalhadores ao golpe de Estado
do qual o presidente Fernando Lugo foi vítima, por meio de um processo
de impeachment que durou apenas 36 horas.

“Iremos compor uma delegação que engrossará a luta do povo paraguaio
contra setores reacionários, que tentar tomar o poder de forma
autoritária e tem aversão à decisão democrática das urnas”, comentou.

A Cúpula dos Povos também aprovou uma moção de apoio à Lugo, por meio da
qual afirma o compromisso irrenunciável com a vigência da democracia no
Paraguai e aponta a direita do país, aliada à elite econômica
dominante, como responsáveis pelo golpe.

Lição de casa é manter a luta

– Militante da luta por moradia e dirigente nacional da Central de
Movimentos Populares, Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, comentou o encontro
que uma delegação dos movimentos sociais teve com o secretário-geral da
ONU, Ban Ki Moon, na manhã dessa sexta.

De acordo com Gegê, as organizações relataram o descontentamento com o
documento final da Rio+20 e Moon citou a dificuldade em estabelecer
consenso até mesmo entre os chefes de Estado. Situação que deixou o
líder dos movimentos de moradia animado. “Isso demonstra que se
fortalecermos apenas um pouco mais nossa organização o capitalismo vai à
bancarrota.”

Coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,
João Pedro Stédile, afirmou que mais do que qualquer documento, o
importante era levar da cúpula a vontade política de mudar o mundo.
“Temos agora que voltar e começar a organizar a luta junto às nossas
bases, movimentos e polos.”

Segundo ele, havia ali um acordo entre todos de lutar contra as
mineradoras, o principal tentáculo do capital internacional para tomar
as riquezas dos países, e o agronegócio, que por meio de seus venenos,
contaminam o solo e os alimentos.

Stédile defendeu ainda que a defesa do transporte público como parte do
desenvolvimento sustentável. “As pessoas da cidade sofrem uma grande
ofensiva das montadora para utilizar um veículo que polui e torna as
cidades inabitáveis. Lutar por transporte público de qualidade é lutar
por um ambiente mais saudável.”

Rio+20 quer distância da sociedade civil 

– Também nessa sexta, o governo brasileiro, por meio do ministério do Meio
Ambiente, anunciou a criação de um Centro Mundial de Desenvolvimento
Sustentável (Centro Rio+), que terá parcerias com o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para o Meio Ambiente (PNUMA) e
organizações da sociedade civil.

Presidente da CUT, Artur Henrique, criticou a medida, que indica até
então, parcerias com representantes dos empresários, mas exclui os
trabalhadores do projeto.

“Mais uma vez o governo brasileiro deixa de fora a representação da
classe trabalhadora em uma questão fundamental, que é a negociação da
transição desse modelo para outro. Exigimos estar nessas negociações,
porque também seremos afetados: queremos discutir o que acontecerá com
os empregos nesse novo modelo, como será a requalificação de quem
precisará trabalhar em outra área, as garantias de proteção”, explicou.

O dirigente alertou também o governo precisará enfrentar a pressão
popular, caso mantenha iniciativas como essa. “Acho que ainda não
entenderam, mas vamos repetir: se não formos ouvidos seremos contra e
faremos grandes manifestações para deixar isso bem claro. Não adianta
chamar a OIT (Organização Internacional do Trabalho) e dizer que nos
representa, porque ela é tripartite. É um absurdo termos uma entidade
como a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e ninguém da classe
trabalhadora”, apontou.

Artur acredita ainda que a Cúpula dos Povos ensinou aos chefes de Estado
como lidar com as divergências sem deixar de construir avanços. “Mesmo
com tanta diversidade de pauta, fomos capazes de construir uma unidade,
fundamental para a grande marcha da cúpula e para aprovar um documento
final que aponta nossas opiniões unificadas em contraposição ao que saiu
na Rio+20. Agora, precisamos dar continuidade para fazer as mudanças
que queremos.”

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