A presidente Dilma Rousseff comandou ontem a reação de países
latino-americanos para tentar evitar a queda do presidente do Paraguai,
Fernando Lugo.
Logo cedo, Dilma e assessores avaliaram como tentativa de golpe de
Estado o processo acelerado de impeachment que o Congresso paraguaio
conduziu contra Lugo.
Em público, não usou a palavra “golpe”, mas reservadamente era assim que
o governo brasileiro se referia aos episódios no Paraguai.
A notícia foi surpresa para Dilma. A presidente foi informada no final
da manhã de que deputados paraguaios haviam aprovado a abertura de
processo de impeachment.
Segundo o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência
Marco Aurélio Garcia, já houve 23 anúncios de intenção de impeachment
contra Lugo –eleito em 2008. O de ontem era só mais um, mas prosperou e
surpreendeu a todos na Rio+20, no Rio de Janeiro.
Ao notar que era grave a situação no Paraguai, Dilma pediu que o assunto
fosse tratado no âmbito da Unasul (União de Nações Sul-Americanas). Uma
reunião foi agendada para 14h30, mas, antes, Lugo trocou telefonemas
com colegas presentes ao Rio.
Participaram da reunião cinco presidentes. Além de Dilma, Evo Morales
(Bolívia), Juan Manuel Santos (Colômbia), Rafael Correa (Equador) e José
Mujica (Uruguai).
Durante a reunião, foi realizada uma conferência por telefone com Lugo,
por meio de sistema de viva voz. A conversa durou cerca de 15 minutos. O
paraguaio disse ser necessário agir com rapidez.
Os EUA, por meio do Departamento de Estado, pediram “escrupuloso
respeito aos princípios do processo devido e dos direitos dos acusados”,
“em consonância com o compromisso do Hemisfério com a democracia”.
Às 19h, o chanceler brasileiro Antonio Patriota partiu para o Paraguai,
acompanhado de seus pares da Argentina, Colômbia, Uruguai e Venezuela.
Em Assunção, o grupo se reuniu com Lugo na residência do presidente.
O secretário-geral da Unasul, Alí Rodríguez, disse no Rio de Janeiro que
não há intenção de prejulgar o que se passa no Paraguai. Mas ressalvou
que “todo processo dessa ordem precisa garantir o direito de defesa”.
Marco Aurélio Garcia disse ser relevante lembrar que o Paraguai faz
parte da Unasul e do Mercosul. “Essas duas organizações têm cláusulas
democráticas”, disse. Ou seja, países que rompem com a democracia não
podem permanecer membros.
O Brasil é o maior parceiro comercial do Paraguai na região. Não se
falou ontem em algum tipo de retaliação, mas isso ficou implícito.