CUT na Rio+20: Movimentos sindical e social discutem propostas pra um novo mundo


“A Cúpula dos Povos quer o oposto do que está sendo discutido nas
reuniões oficiais da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável. Aqui a gente quer debater direitos”, disse
Fátima Melo, uma das organizadoras do Comitê Facilitador da Cúpula dos
Povos, na noite deste sábado (16), na plenária Defesa dos Bens Comuns
Contra a Mercantilização.


Esta plenária, que reuniu mais de 350 sindicalistas e representantes de
movimentos sindicais e sociais do Brasil e de vários países do mundo,
foi a primeira de uma série de assembleias dos movimentos sindicais e
sociais que vai discutir, até o dia 21, um documento com propostas
alternativas ao que vem sendo discutido por chefes de delegações
governamentais no Rio Centro, no Rio de Janeiro.


Na manhã deste domingo, 17, cerca de 150 sindicalistas e representantes
de movimentos sociais, realizaram uma segunda plenária para focar nas
discussões sobre propostas que podem ser apresentadas corrigindo o rumo
do desenvolvimento no mundo, ou seja, garantindo a preservação dos
recursos naturais e melhorando a qualidade de vida das pessoas.


Na mesa de sábado à noite, além de dirigentes sindicais, entre eles o
presidente da CUT, Artur Henrique, e de movimentos sociais, como Via
Campesina, movimento Negro e Carta de Belém, estava também o diretor
geral do PNUMA, Achin Steiner.


A maioria dos representantes da sociedade civil organizada reclamou do
conceito de economia verde, Para eles, a economia verde não é um projeto
viável para o futuro da humanidade porque as conseqüências são iguais
as do atual modelo de desenvolvimento que não valoriza o bem comum –
água, ar, floresta, o cidadão.


Steiner ficou surpreso com as críticas ao conceito de economia verde
adotado pela ONU e disse que a entidade só pode ser um reflexo das
forças que formam as sociedades. Segundo ele, a ONU fez um relatório que
contém vários exemplos positivos de iniciativas relacionadas a economia
verde. Alguns desses exemplos, no entanto, não se sustentarão no
futuro, e o PNUMA está muito preocupado com isso, ponderou o diretor.


Artur ressaltou que o foco não pode fugir dos três pilares do
desenvolvimento sustentável, o social, o ambiental e o econômico,
lembrando que, segundo a própria ONU, nos últimos 20 anos o mercado foi
incapaz de resolver a questão do desenvolvimento sustentável que leve em
consideração a justiça social e ambiental. “Esses problemas vêm desde a
Eco-92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, também realizada no Rio de Janeiro) e agora não podemos
permitir que os Estados não tenham um papel significativo na construção
e implementação de um modelo de desenvolvimento sustentável”.


Segundo Artur, não podemos ter um modelo de desenvolvimento que
mercantiliza o ar, a terra, a àgua. Para ele, economia verde pressupõe
mudança de modelo de produção, consumo e distribuição, também pressupõe
trabalho decente, igualdade entre homens e mulheres e isso tem de estar
no documento final da Rio+20.


Para isso, concluiu o dirigente, precisamos construir um modelo novo
com transição justa financiada. Artur reclamou do impasse na negociação
oficial da Rio+20 que travou os debates sobre o financiamento da
construção deste novo modelo. Segundo ele, “na hora de liberar recursos
para os bancos – a maioria deles responsáveis pela crise econômica – os
chefes de Estado não hesitaram. Já na hora de discutir recursos para
salvar a humanidade, travaram a construção do documento”.  


Na abertura da plenária deste domingo, 17, Rafael Freire Neto, da Confederação Sindical das Américas (CSA),
disse que a plenária, que será realizada até o dia 21 no Aterro do
Flamengo, onde está sendo realizada a Cúpula dos Povos, terá 3 eixos: 1)
relato do que está acontecendo no mundo – como é o modelo de produção e
consumo que está em crise; 2) os impactos, falsas soluções apresentadas
e resistências; e, 3) novas alternativas, novos paradigmas, propostas e
transição para esse novo mundo que queremos construir. Nesta segunda,
18, às 14h00, será apresentada uma síntese do que foi apresentado. E nos
dias 19, 20 e 21, sempre as 14h00, serão realizadas plenárias que vão
trabalhar o documento, a agenda de luta, a estratégia de convergência de
luta para o futuro.


“Se os governos não são capazes de construir uma política comum, vamos
mostrar ao mundo que nós vamos conseguir”, resumiu o dirigente. 


Todos os presentes concordaram que o novo modelo desenvolvimento
sustentável tem de ser humano, tem de aglutinar os trabalhadores,
impedir a concentração de riquezas e de terras, garantir uma transição
justa do antigo para o novo modelo.


Para o presidente da CUT, Artur Henrique, a economia verde não altera o
modo de produção e de consumo e, portanto, é preciso construir um novo
modelo de desenvolvimento sustentável e, para isso, afirmou, não basta
falarmos o que não queremos, precisamos mostrar que temos propostas.


Segundo Artur, esse novo modelo tem de garantir emprego decente, mais
proteção social, mais diálogo, mais democracia. “A transição de um
modelo para outro exige justiça social e ambiental. Essa transição justa
tem de ser bancada com a criação de um imposto sobre transações
financeiras, um amplo sistema de proteção social, trabalho decente, fim
dos paraísos fiscais, participação da sociedade na construção do modelo,
na implementação, fiscalização, ou seja, participação e negociação
passo a passo. Para isso, o documento tem de conter metas, compromissos e
punições”.

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