O presidente do Santander Brasil, o espanhol Marcial Portela Alvarez, é
taxativo ao dizer que o banco não está à venda. “Não existe qualquer
negociação para venda do banco e a matriz não quer vender”, afirmou ao Valor,
em referência a especulações recentes sobre negociações para venda do
controle ou parte do banco no país. O Santander é o terceiro maior banco
privado do país.
Em conversa na sede do banco, em São Paulo, o executivo descartou também
uma venda de participação minoritária relevante. Portela chegou ontem
de Madri, onde esteve reunido com Emilio Botín, o presidente do conselho
do grupo, e Alfredo Sáenz, o executivo-chefe.
“O grupo não precisa de capital”, argumentou o executivo. Além de ter
atingido antecipadamente o novo patamar de índice de capital de melhor
qualidade exigido pela Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em
inglês), de 9%, o grupo deve ultrapassar o índice de 10% com a planejada
abertura de capital do Santander no México, argumentou.
Da mesma forma, Portela disse que já está equacionada a necessidade de
fazer provisões adicionais para a carteira de crédito imobiliário de ? 5
bilhões, uma exigência do Banco de Espanha. “Não é pouco, mas já está
resolvido.” Parte dos recursos já está reservada e outra será coberta
com o resultado gerados neste ano, segundo explicou.
Agora, o banco aguarda a condução da auditoria que o governo espanhol
fará em todos as instituições do país para diagnosticar a necessidade de
novas provisões para as carteiras imobiliárias. Portela disse acreditar
que não haverá problema para atender a eventuais novas exigências das
autoridades.
Poucas horas depois de chegar a São Paulo, ontem, onde está morando
desde o ano passado quando assumiu a presidência da subsidiária
brasileira, Portela afirmou que a única intenção da matriz é vender uma
pequena fatia de 1% a pouco mais de 2% do banco para atender à exigência
da BM&FBovespa de que o banco atinja um “free float” mínimo de 25%,
aplicável a companhias listadas no Nível 2 de governança da bolsa.
O grupo Santander tem hoje 75,61% das ações do Santander Brasil e, a
rigor, precisaria vender fatia de 0,61% até outubro, quando termina o
prazo para se adequar à regra. Segundo ele, no entanto, a fatia a ser
vendida deve ultrapassar um pouco o mínimo necessário, para que o banco
não volte a ficar desenquadrado em caso de uma recompra de ações.
Pelo tamanho do negócio, que pode atingir US$ 600 milhões se forem
considerados fatia de 2% e o atual valor de mercado do banco, Portela
explicou que o mais provável é uma colocação privada e não uma oferta
pública. “Nosso desejo é fazer isso antes de outubro, se as condições de
mercado forem favoráveis”, disse. A instituição já solicitou à
BM&FBovespa uma prorrogação do prazo, mas, segundo o executivo, não
gostaria de recorrer à possibilidade.
Na mesma linha de argumentação, em Madri, fonte da diretoria do grupo
Santander insiste que o objetivo no Brasil “é crescer, não vender” o
negócio local. Diz que não tem sentido abrir mão de um negócio que dá
certo e é fundamental na diversificação geográfica do grupo.
O Brasil representa 27% do lucro total do Santander, comparado a menos
de 10% na Espanha. No total, a América Latina faz 52% do lucro do banco.
A diversificação é vista como um “colchão de proteção” para ciclos
econômicos diferentes, como a crise agora na Europa, enquanto nos
emergentes a situação é bem mais confortável. A direção espanhola
insiste que não precisa vender ativos e, se precisasse, não venderia no
Brasil, onde tem 10% do mercado e as condições para fazer o banco de
varejo que deseja.
A direção também chama a atenção para uma diferenciação dentro do
sistema bancário espanhol. Várias caixas estão afetadas duramente pelos
ativos imobiliários tóxicos. Já o Santander nota que no ano passado
gerou 24 bilhões de euros de lucros antes de provisões e impostos,
resultando em 6,4 bilhões de euros de lucro líquido.
Em resposta a questionamento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM),
ontem no fim da tarde Bradesco e Santander divulgaram comunicados ao
mercado em que negam o teor de reportagem publicada no domingo pelo
jornal “O Globo”, sobre supostas negociações para venda do Santander ao
Bradesco.