O risco de morte por
desnutrição é 90% maior entre crianças negras do que entre
brancas. Entre os adultos, as chances de morrer por tuberculose é
70% maior na população negra. E o número de consulta no pré-natal
é quase 50% menor entre as gestantes pretas ou pardas. Os dados são
do Núcleo de Estudos da População (Nepo), da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp), que há 25 anos subsidia a implementação de
programas e políticas públicas para reverter uma realidade em que
nascimentos prematuros, mortalidade infantil, adulta e materna, entre
outros agravos, apresentam altas disparidades quando relacionados à
raça e cor.
Segundo a socióloga e demógrafa Estela Maria
Garcia Pinto da Cunha, que coordena o núcleo, a discriminação
racial presente na sociedade determina diferentes padrões de
atendimento e tratamento de saúde para a população negra no país.
Conforme afirmou, “existe uma posição de desvantagem da
população negra com relação à branca justificada por uma
condição social inferior, mas não somente por isso. Há um
componente de discriminação racial também”.
Outro
indicador da desvantagem é a transição demográfica pela qual o
Brasil vem passando, com a queda na taxa de fecundidade feminina. Um
relatório da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), feito
com participação de pesquisadores do Nepo, mostra que a taxa de
fecundidade total das mulheres brancas é 34% inferior à das
negras. De acordo com o núcleo, a manutenção deste
diferencial reflete as desigualdades no acesso aos serviços de saúde
da mulher e a contraceptivos. Ainda segundo a pesquisadores da
Unicamp, a histórica vulnerabilidade social da população negra,
desde a época da escravidão, permanece sobretudo na saúde