Conferência Nacional sobre o sistema financeiro para acabar com caixa preta

No
quarto dia do Fórum Social Temático (FST) dirigentes do ramo
financeiro cutista foram unânimes em apontar a necessidade de
discutir e regulamentar o sistema financeiro. Para isso, os bancários
citaram mais uma vez a necessidade urgente de uma conferência
nacional sobre o tema.

Na
sede dos Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região
(Sindbancários-RS), o secretário de comunicação da Confederação
dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Ademir Wiederkehr,
lembrou que os bancos são autorizações públicas, mas na atual
relação, a sociedade permanece como refém dessas instituições.
Opinião compartilhada por Raquel Weber, secretária geral do
Sinbancários-RS e presidente em exercício. “As crises de que
tantos ouvimos falar são fruto da falta de regulamentação ou da
regulamentação equivocada”, disse.

“Não é possível
num país como o Brasil o sistema financeira ser regulamentado apenas
por resoluções do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional.
Não existe uma legislação específica a não ser o artigo 192 da
Constituição, que deveria ser regulamentado desde outubro de 1988 e
ainda não foi”, complementou Carlos Rocha, diretor da Federação
dos Trabalhadores do Ramo Financeiro do Rio Grande do Sul
(Fetrafi-RS).

Bancos
zumbis –
A
professora e economista Maria Alejandra Madi esmiuçou a relação
entre os bancos da Europa no contexto da crise e destacou que
atualmente temos um cenário de bancos zumbis no continente. “A
crise mostra um sistema financeiro frágil e mostra bancos que
sobrevivem às custas da sociedade. Eles dependem de recursos do
Banco Central, de troca de títulos com eles e do aumento do capital
por parte dessas organizações reguladoras para que sobrevivam. O
problema é que a sociedade é quem vai pagar essa conta por meio de
impostos”, explicou.

Segundo ela, os balanços dos bancos
não são confiáveis e há uma necessidade de regulamentação, mas
também de supervisão.”É uma falsa realidade. E se for revelada,
o Banco Central teria de intervir. Mas, não vai adiantar apenas uma
excelente regulamentação, muito bonita no papel se na dinâmica
bancária isso não for cumprido”, acrescentou.

Menos
para a saúde e educação, mais para os bancos

Maria
Alejandra comentou ainda que norteia as discussões o FST por conta
da ameaça da democracia e da cidadania. “O que muitos governos
estão fazendo? Para proteger o sistema financeiro, muitos estão
cortando gastos com educação, saúde, investimentos e isso vai
diminuindo empregos, ameaçando essa noção de cidadania, de você
ter acesso à direitos conquistados ao longo de décadas. Isso já
vai aparecendo na imprensa, mesmo a mais conservadora.”

E
deu um recado aos sindicalistas. “Os direitos que foram
conquistados não estão garantidos. Os conflitos sociais criam
tensões, mas como resolver isso diante desse quadro que está
favorecendo as elites financeiras? É um desafio.”

A
economista também abordou a atuação dos bancos públicos que
muitas vezes agem como as instituições privadas, com as mesmas
taxas e juros e com claro desrespeito ao consumidor. “A sociedade
está endividada e, no caso do Brasil, devemos questionar até que
ponto o banco público tem que ter a mesma gestão de riscos do Banco
privado? Será que não temos que pensar numa questão diferenciada?
Em 2011 o direito do consumidor foi aviltado de alguma maneira, fica
por conta da ouvidoria dos bancos e não há mecanismos legais mais
aprimorados para proteção dos consumidores.”

Por fim, Ao
comentar as regras para remuneração dos administradores e
acionistas, ela classificou como absurdo o silência sobre as metas
às quais são submetidos os bancários. “No caso do
Goldman-Sachs, por exemplo, mesmo na crise havia incentivo para que
os trabalhadores cumprissem as metas. As metas de vender não só
dariam lucro para os bancos, mas também bônus para os
administradores. Esse silêncio me parece uma questão a ser
discutida na própria regulamentação. As condições de trabalho e
as metas tem que ser olhadas dentro desse quadro global dentro de um
sistema financeiro subordinado à sociedade “

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