Fundos de pensão não batem metas atuariais e ampliam carteiras de risco

O
cenário de juro baixo e inflação ainda acima do centro da meta
para este ano promete tirar de vez as fundações da comodidade
oferecida pelo alto rendimento dos títulos públicos. Com as
políticas de investimentos passadas em revista após um ano em que a
maioria não bateu a meta atuarial – rentabilidade mínima necessária
para garantir o pagamento futuro dos benefícios -, os fundos de
pensão começam 2012 dispostos a trocar parte dos títulos públicos
em carteira por ativos de maior risco. E maior rentabilidade. 

Nos
últimos dez anos, os fundos de pensão não bateram suas metas
atuariais em três ocasiões: 2002, 2008 e 2011. Em 2008, ano da
eclosão da crise financeira, a rentabilidade das fundações foi
negativa em 1,62%, enquanto o INPC mais 6%, meta atuarial usada pela
maioria dos planos fechados de previdência, foi de 12,87%. Antes
disso, em 2002, ano da crise argentina e da eleição de Lula no
Brasil, a rentabilidade foi de 16,6%, ante meta de 21,62%.

Até
setembro do ano passado, último dado da Associação Brasileira das
Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), a
rentabilidade era de 4,43%, enquanto o INPC mais 6% era de 9,28% no
mesmo período. Naquele mês, a Abrapp já admitia que as fundações
não conseguiriam atingir suas metas no ano. 

“O
conforto da renda fixa acabou”, decreta Eustáquio Lott, diretor
superintendente da Valia, fundo de pensão dos funcionários da Vale.
Lá, a meta é reduzir o percentual de títulos públicos de sua
carteira de R$ 14,6 bilhões dos atuais 62% para 57%, num horizonte
de cinco anos.

No lugar, entram aplicações em imóveis e
investimentos estruturados, como Fundos de Investimento em
Participações (FIPs). Segundo Lott, os FIPs representam 2,5% da
carteira da fundação e devem mais que dobrar nos próximos cinco
anos, para até 6%. O foco é em projetos de infraestrutura e em
fundos que visem ganho por meio da implementação de governança
corporativa em companhias fechadas. Em imóveis, a Valia pretende
sair de 5,9% para até 8%.

Segundo os últimos dados da
Abrapp, de junho de 2011, os recursos das fundações estavam
distribuídos da seguinte forma: 60,9% em renda fixa, 30,4% em renda
variável, 3,1% em imóveis, 2,6% em empréstimos para participantes,
2,6% em investimentos estruturados, 0,1% em investimentos no exterior
e 0,2% em “outros”. Até junho, o setor acumulava R$ 565
bilhões em ativos. 

Com a queda de 18,1% do Ibovespa no
ano passado, as fundações estão focando na aquisição de
participações mais relevantes em empresas de capital aberto. É o
caso da Petros, dos funcionários da Petrobras, que está atenta às
“pechinchas. A fundação busca replicar a compra de
participação dos cerca de 12% que fez via bolsa na Itaúsa, holding
de participações não-financeiras do grupo Itaú, no apagar das
luzes de 2010.

Segundo Carlos Santos, diretor de investimentos
da fundação, com a cena internacional mais acomodada e a força do
consumo no Brasil, a perspectiva é de valorização dos ativos.
Mesmo assim, não há pressa para encontrar o que a Petros
procura.

“Ainda tem um gap entre os fundamentos e a
leitura que o mercado faz dos ativos. Por mais um ou dois anos vamos
ver boas oportunidades na bolsa.”

Com 35% de seu
patrimônio de R$ 54 bilhões em renda variável, a fundação também
vai atuar no ajuste mais fino de sua carteira de giro, de
aproximadamente R$ 4,5 bilhões. Ainda que se procure manter a
diversificação, a ideia é ter pelo menos 1,5% de cada papel. “Ou
faço exposição maior, ou saio do papel”, diz Santos.

No
Real Grandeza, fundo de pensão dos funcionários de Furnas, há
espaço para crescer em bolsa, dos atuais 17,1% para até 20% do
patrimônio de R$ 9,2 bilhões, no seu principal plano. O salto,
porém, será dado em investimentos estruturados, que ainda este ano
devem sair de 1,2% para pelo menos 6%. Com sorte, a Real Grandeza irá
a 7%, mas para isso precisa encontrar projetos que atendam os seus
critérios, segundo o diretor de investimentos do fundo, Eduardo
Garcia. 

A fundação reserva um cacife de R$ 640 milhões
para fundos de participações (FIPs). Em 2011, só conseguiu
encontrar dois fundos para investir, um de óleo e gás e outro de
logística de portos. Enquanto não encontra projetos, os recursos
são aplicados em operações compromissadas. 

Na Previ,
dos funcionários do Banco do Brasil, que tem patrimônio de R$ 150
bilhões, a bolsa não mete medo. De acordo com a política de seu
principal fundo, o limite máximo de aplicação em renda variável é
de 63% do patrimônio. Hoje, essa fatia já gira ao redor de 60%, e,
segundo o diretor de planejamento, Vitor Paulo Camargo Gonçalves, a
queda da bolsa não feriu muito a performance, pois a carteira não é
atrelada ao Ibovespa. Ainda assim, para 2012 a fundação tem
perspectiva positiva para o índice.

Além de apostar em ações
a longo prazo, a Previ quer apimentar sua rentabilidade com
investimentos imobiliários. A carteira pode se ampliar de
aproximadamente 4% para 6% do total, mas a partir de agora a Previ
quer também diversificá-la. “Vamos atrás de fundos de
investimento para buscar descentralização no país. [Nossa
carteira] está muito concentrada em Rio e São Paulo”, diz
Camargo Gonçalves.

A Fundação Cesp, dos funcionários da
companhia de energia elétrica, conseguiram bater sua meta de 2011,
de IGP-DI mais 6% (equivalente a 11,3%) justamente por seus ganhos
com títulos de dívida emitidos por empresas e bancos (crédito
privado), participações societárias relevantes e imóveis. “Pelos
cálculos preliminares, devemos fechar 2011 com rentabilidade de
13,2%”, diz Jorge Simino, diretor de investimentos do
fundo.

Para este ano, o plano é continuar a investir em
crédito privado e mudar um pouco a alocação em renda variável,
aumentando a aposta em carteiras de dividendos. A política de
investimentos da fundação prevê alocação de até 28% dos ativos
em renda variável. Hoje, a participação é de 22,4%. “Em
crédito privado o desafio é buscar taxa mantendo a qualidade de
crédito”, diz Simino. 

Simino espera um ano
positivo para renda variável. “Os múltiplos das ações não
estão esticados e as expectativas sobre o lucro das empresas estão
mais realistas”, avalia o diretor. Ele lembra que em 2011 os
analistas começaram o ano muito otimistas e, ao longo dos meses,
foram diminuindo as previsões para o lucro das empresas. “Este
ano o mercado está mais pessimista e as revisões devem ser para
cima.”

No caso da Funcef, dos funcionários da Caixa
Econômica Federal (CEF), a ampliação da alocação em renda
variável será pequena, em torno de 2 pontos percentuais, e, ainda
sim, apenas para os planos mais novos, que concentram participantes
mais jovens e vão receber benefícios num prazo mais longo. Para se
preparar para a queda da Selic, desde 2004 a fundação tem mudado o
perfil da carteira de títulos públicos. “Naquele ano nossa
carteira era 50% atrelada à Selic. Hoje são 8%”, conta
Demósthenes Marques, diretor de investimentos. 

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