O descaso dos bancos
com a segurança de suas agências causou a morte de 49 pessoas no
ano passado, uma delas em Pernambuco. Em média, quatro pessoas
morreram por mês vítimas de assaltos envolvendo bancos, quase uma
por semana. O número de vítimas fatais representa um aumento de
113,04% em relação a 2010, quando foram registradas 23 mortes. O
levantamento, divulgado nesta quinta-feira, dia 5, foi realizado pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro
(Contraf-CUT) e Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), com
base em notícias da imprensa e apoio técnico do Dieese.
Para
a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Jaqueline
Mello, todas essas mortes poderiam ser evitadas facilmente se os
bancos investissem em segurança. “Infelizmente, as instituições
financeiras estão mais preocupadas com o lucro do que com a vida das
pessoas. O investimento em equipamentos de prevenção a assaltos e
sequestros é pífio. Os bancos preferem pagar indenizações para as
vítimas e seus familiares, porque sai mais barato, do que instalar
câmeras de segurança, porta giratória com detectores de metais e
outros equipamentos que poderiam impedir os assaltos. Aqui, em
Pernambuco, temos uma lei municipal no Recife sobre segurança
bancária e, apesar dela estar em vigor há quase um ano, os bancos
não respeitam o que diz a legislação”, comenta
Jaqueline.
Segundo o Dieese, os cinco maiores bancos que
operam no país apresentaram lucros de R$ 37,9 bilhões de janeiro a
setembro de 2011. Já as despesas com segurança e vigilância
somaram R$ 1,9 bilhão, o que significa 5,2%, em média, na
comparação com os lucros. “Essas mortes comprovam o descaso e a
escassez de investimentos dos bancos na proteção da vida de
trabalhadores e clientes, bem como revelam a fragilidade da segurança
pública diante da falta de policiais e viaturas nas ruas e ações
de inteligência para evitar ações criminosas”, avalia o diretor
da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança
Bancária, Ademir Wiederkehr.
Para o presidente da CNTV, José
Boaventura Santos, esses números assustadores reforçam a
necessidade de atualizar a lei federal nº 7.102/83, que se encontra
defasada diante do crescimento da violência e da criminalidade.
“Precisamos de um estatuto de segurança privada com medidas
eficazes e equipamentos de prevenção para garantir a proteção da
vida, eliminar riscos e oferecer segurança para trabalhadores e
clientes”, salienta.
A pesquisa – São Paulo (16), Rio de
Janeiro (9), Goiás (4), Paraná (4) e Rio Grande do Sul (4) foram os
estados com o maior número de casos. Pernambuco registrou uma morte,
50% a menos que em 2010 quando foram assassinadas duas pessoas em
assaltos a banco. A principal ocorrência em 2011 foi o crime de
“saidinha de banco”, que provocou 32 mortes, 65,31% das
ocorrências. Em 2010 foram verificadas 10 casos fatais. Isso
representa um aumento de 220%. Já a maioria das vítimas foram
clientes (30), seguido de vigilantes (8) e policiais
(6).
Reivindicações – Os sindicatos de bancários e
vigilantes defendem ações preventivas que visem enfrentar esse
crime de “saidinha de banco” que apavora e mata. Para
combatê-lo, é preciso evitar a visualização dos saques de
clientes nos bancos por olheiros, através de medidas como a
instalação de biombos entre a fila de espera e os caixas, e de
divisórias individualizadas entre os caixas, inclusive os
eletrônicos.
Além disso, é fundamental a colocação de
portas de segurança com detectores de metais antes do
autoatendimento, câmeras internas e externas de monitoramento em
tempo real nos espaços de circulação de clientes, e vidros
blindados nas fachadas. Outra medida é a isenção de tarifas de
transferência de recursos (DOC, TED, ordens de pagamento), como
forma de reduzir a circulação de dinheiro na praça. Muitos
clientes sacam valores expressivos para não pagar tarifas e viram
alvos de assaltantes.
Outro crime que preocupa é o transporte
de valores, que dobrou no período. Ocorreram duas mortes em 2011,
ambos de policiais que faziam bico, o que é ilegal e mata. Esse
serviço deve ser prestado por vigilantes, de acordo com o que
estabelece a lei federal nº 7.102/83.
“Conquistamos uma
nova cláusula na convenção coletiva nacional dos bancários em
2011, proibindo os bancos de utilizar funcionários para fazer
transporte de valores. Várias instituições têm utilizado
ilegalmente bancários, conforme revelam as multas aplicadas pela
Polícia Federal”, explica Ademir
Também preocupa a
insegurança no abastecimento de caixas eletrônicos. “Queremos
o fim da contagem e do manuseio de numerário para evitar novas
mortes e garantir segurança para trabalhadores e clientes”,
enfatiza Boaventura.