Em reunião ocorrida nesta terça-feira (20), em São Paulo, com os representantes dos bancários, a Fenaban – Federação Nacional de Bancos apresentou um novo relatório com as denúncias de assédio moral recebidas pelos bancos entre 1º de fevereiro e 30 de junho de 2011. Foram registradas 103 denúncias no período, sendo 65 feitas por meio dos sindicatos e 38 pelos canais internos de cada instituição financeira.
Neste balanço, não estão computadas, por exemplo, as denúncias de Pernambuco. “Tivemos mais de uma dezena de casos, mas muitos deles foram resolvidos antes mesmo de se instaurar a investigação e outros ainda estão sendo examinados pelo Sindicato”, explica o secretário de Saúde da entidade, João Rufino. Ele compõe a comissão de diretores que investiga os relatos, feitos através do canal de denúncias de assédio moral criado pelo Sindicato. Confira aqui.
Para Sandra Albuquerque, secretária da Mulher, que também integra a comissão, os bancários ainda estão utilizando mal o instrumento. “Recebemos reclamações de todo tipo, sobretudo na Campanha Nacional. A gente orienta o pessoal para que utilize outras formas de se comunicar com o Sindicato sobre estes problemas e reserve este canal exclusivamente para as denúncias de assédio”, diz.
Dentre as denúncias recebidas por meio do canal, várias delas tiveram desfecho positivo antes mesmo de ser encaminhada para a Fenaban. É o caso de três assediadores de bancos privados, um deles alvo de 14 denúncias feitas por diferentes empregados, alguns já afastados por doença psíquica decorrente do assédio. Todos três acabaram sendo afastados pelo banco antes mesmo da formalização da denúncia.
No Banco do Brasil, várias denúncias, feitas por empregados de diversas agências, tiveram como alvo o superintendente de varejo. O Sindicato entrou em contato com a Gepes – Gerência de Pessoas e Superintendência, que exigiu a retratação, com pedido de desculpas formal do acusado. Depois disso, o assédio não voltou a se repetir. Outra denúncia, também no Banco do Brasil, foi levada ao conhecimento da Gepes, investigada e, depois disso, o fato não voltou a se repetir. Mas o Sindicato continua acompanhando.
No momento, existem outros seis casos sendo examinados: três no Banco do Brasil; um no Santander; um no Itaú e um no Bradesco. Para Rufino, muitos bancários ainda preferem usar o sistema interno do próprio banco para buscar soluções para os casos de assédio moral. “É importante que ele tenha consciência de que os canais criados pelos seus órgãos representativos são uma garantia maior e com mais chance de ter uma solução do que aqueles criados pela própria empresa geradora do assédio”, diz o diretor.
Além de Sandra e Rufino, integram a comissão sobre assédio moral do Sindicato o secretário de Bancos Privados, Geraldo Times; a secretária de Bancos Federais, Daniela Almeida; e o diretor Justiniano Dias.
NACIONAL – Nacionalmente, das 103 denúncias, 69 apurações foram encerradas até 30 de junho, das quais em 23 os bancos reconhecem que tenha havido violência psicológica contra os bancários. Além destas, 37 denúncias não foram reconhecidas como casos de assédio; 9 não reuniam, na avaliação dos bancos, elementos suficientes para apuração; e 34 continuavam em aberto no final do semestre.
Chama a atenção o baixo número de denúncias em que os bancos reconhecem o assédio entre os casos encaminhados pelos sindicatos. Dos 65 processos, apenas 5 tiveram esse desfecho entre 34 encerrados no semestre. São apenas 14% das denúncias concluídas no período.
“É muito pouco. Se os sindicatos vão até os locais de trabalho, averiguam e constatam a situação de assédio, é esperado um número maior de casos que terminem com alguma consequência para o denunciado”, avalia Plínio Pavão, secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT. “Precisamos aprofundar a discussão e chegar aos motivos desse problema”, aponta.
Os trabalhadores e bancos concordaram em fazer as avaliações em período semestral. Dessa forma, será realizada a discussão dos dados de janeiro a junho e outra sobre o período de julho a dezembro. No caso do primeiro semestre deste ano, como o acordo foi assinado no final de janeiro, apenas cinco meses foram avaliados.
Inicialmente, havia diferenças de conceito entre o levantamento feito pelo movimento sindical e os dados apresentados pela Fenaban. Ficou acordado que as denúncias serão contabilizadas tendo como referência o denunciado. Assim, várias reclamações referentes ao mesmo denunciado serão consideradas denúncias diferentes, enquanto denúncias coletivas contra uma mesma pessoa serão contabilizadas apenas uma vez.
As partes concordaram que seja informado para a Contraf-CUT quais as medidas que os bancos estão tomando para divulgar o programa de combate ao assédio moral e conscientizar os trabalhadores sobre os canais de denúncias.
Além disso, os sindicatos cobraram dos bancos respostas bem mais detalhadas para as denúncias apresentadas, de forma que se saiba exatamente o que foi apurado e que medidas serão adotadas.
Os bancários reivindicaram a inclusão de uma estatística indicando a causa de cada denúncia, mas os bancos negaram.