02h00,
madrugada de 14.07.2011, próximo de se tornar sexagenário, foi-se o
companheiro Serginho (Sérgio Luiz Santos de Gois), acometido de
câncer dos pulmões, desde fevereiro de 2010. Ele manteve essa
doença em segredo até outubro, quando não foi mais possível
esconder dos familiares. A partir de então ficou, até os últimos
suspiros, sob os cuidados da família, em Natal. Quanto aos amigos e
à companheirada a ocultação foi possível. Sofrendo ele já vinha
por longa data, acometido por diabetes.
Muito
reservado em sua particularidade, mas disponível e aberto em relação
às lutas sociais. “Bem humorado, até nos momentos mais difíceis,
estava ele com boas tiradas”, afirma Luis Alves1
. Esse era, também, o companheiro Serginho.
Dedicou
sua vida à família, ao trabalho e às causas dos trabalhadores.
Mesmo nos últimos momentos, no leito do hospital, ainda participava
dessas ações, em sonho. Como num pesadelo, sonhou votando em pleito
sindical. Errando, solicitou nova cédula de votação. Acordou
estranhando esse comportamento.
Nasceu em
26.07.1951. Foi bancário desde 08.04.1970, quando ingressou no
Paraiban (Banco do Estado da Paraiba). Nos idos de 1975, entra no
Banco do Brasil (BB), na cidade de São Paulo do Potengi (RN). De lá
rumou para Brasília, numa manobra para chegar a Recife, onde
trabalhou na Agência Centro Recife, até se aposentar.
Militante
– companheiro, amigo, sem inimigos, querido até pelos adversários
– dedicado à luta dos trabalhadores. Reservado, também, nas
atividades políticas, não gostava de se colocar à frente das
lutas. Dedicava-se à execução das tarefas. Esse comportamento o
salvou de apanhar na pancadaria da fatídica sexta-feira 14. No
início da noite daquele dia de setembro de 1984, oposicionistas
foram espancados na sede do Sindicato dos Bancários de Pernambuco
(Seec-PE), a mando da direção dessa Entidade. Serginho foi retirado
do local por um dos diretores, utilizando uma “saída secreta”.
Ele fez
parte de uma categoria de militantes indispensáveis a qualquer causa
porque fazem o trabalho acontecer nas bases: no local de trabalho –
agências bancárias, fábricas, fazendas, sítios –; e de moradia.
Com eles as propostas tomam corpo, circulam, tornam-se praticáveis,
capazes de organizarem, de arregimentarem multidões, de provocarem
rebeliões. Iniciou sua militância sindical quando essa atividade
era vista como subversiva, por isso reprimida, motivo de prisão e,
até, de assassinato pelos órgãos repressivos do Estado. Nas
empresas, a ação sindicali era condenada: nas particulares,
sindicalista era demitido na certa; nas estatais e nos órgãos
públicos sofria retaliações, perseguições e, também, reflexos
negativos na ascensão funcional.
Essa
repressão tornou os bancos oficiais, no Brasil, em razão da
estabilidade relativa, a principal base de militância sindical
bancária, até 1988. Nos particulares ela existia, mas
clandestinamente. Quando descoberta, a demissão era sumária. Em
Pernambuco os ativistas sindicais, fora uns poucos da iniciativa
privada, se concentravam no BNB (Banco do Nordeste do Brasil),
Banespa (Banco do Estado de São Paulo) e Bandepe (Banco do Estado de
Pernambuco) e, em especial, no BB. Bastava alguém, da iniciativa
privada, manifestar-se ao lado da oposição, nas assembleias que,
por deduragem, era sumariamente demitido. Participar de chapa,
também, resultava em demissão.
Ativista,
participante do movimento político/sindical, sindicalizado desde
15.01.1971, Serginho, muito embora estivesse mais presente nas
mobilizações dos funcionários do BB, fez-se presente nas lutas de
nossa categoria, responsáveis pela derrota, em 1988, dos pelegos,
continuadores da política dos herdeiros da ditadura, acastelados no
Sindicato, pelos golpistas de l964. Para se manterem na diretoria,
respaldados pela repressão oficial, esses dirigentes se utilizavam
da violência física com o intuito de aniquilar a oposição.
Serginho
foi membro da Comissão dos Funcionários do BB – hegemonizadora da
oposição bancária em Pernambuco, de 2003 a 1986, seus componentes
eram acusados pela diretoria do Seec de terem como objetivo tomar
essa Entidade para os funcionários daquele Banco -. Participou,
ainda, da organização do Núcleo de Bancários da Cut, início de
1987, e de seus trabalhos. Essa enidade foi organizada para
fortalecer a luta oposicionista em toda a categoria. Na hegemonia
cutista estavam os funcionários do Bandepe, à época, bastante
mobilizados. Isso se deveu ao fim do alto nível repressivo existente
naquele Banco, pelos governos antecessores ao de Arraes, eleito
governador em 1986.
Ele
atuou, também, nas nas eleições de 1979 e de 1985, quando a
oposicão participou desses pleito – no processo eleitoral de 1982,
esse segmento não teve força suficiente para disputar -. Na
primeira tentativa de retomada do Sindicato dos Bancários, em 1979,
teve a participação do Movimento de Oposição Bancária (MOB),
fruto da primeira oposição bancária em Pernambuco, pós golpe de
1964, organizada em 1978. Foi uma eleição disputadíssima, com alto
grau de violência, por parte da diretoria, e fraude. Com esse
intuito, muitos mesários da Chapa 2 (MOB) foram expulsos dos
veículos condutores das urnas – Mirtes, do BB, foi uma das vítimas.
Posta para fora do carro ficou esbravejando e lamentando o fato de
não ser homem -. Ela não sabia da sorte que teve, pois muitos deles
tiveram que abandonar sua missão, sob ameaça de armas! Quem
encararia tal situação?
Franzino,
mas corajoso, correndo sério risco, Serginho foi mesário nesse
pleito, na urna de Arcoverde, interior do Estado. Segundo Pedrinho2
“nessa urna a oposição venceu e em algumas, sem mesário
oposicionista, a chapa da diretoria teve 100% dos votos”. Se no
pleito de 1979 tudo ocorreu bem naquela região o mesmo não se deu
na eleição de 1985. Ao término da votação a ata só foi
confeccionada porque o mesário da Chapa 2 (Movimento Alternativo de
Independência Sindical – MAIS), também vencedora naquela urna,
David Lima Santiago, garantiu – ele fora indicado para essa missão
por ser carateca -. Nesse pleito a paz predominou, graças ao pesado
esquema de segurança montado pelo MAIS.
Por sua
tragetória Serginho integrou a chapa do Movimento de Oposição
Bancária (MOB), vitoriosa no pleito de 1988. Como diretor continuou
seu trabalho junto à base e nas atividades da direção. O MOB
resultou da coligação do Núcleo de Bancário da Cut com os demais
segmentos oposicionistas do Bandepe, BB, BNB, Banespa e com os
funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF), enquadrados como
bancários a partir de 1986. Unidade decisiva para essa vitória.
Ele lutou
em fases distintas da categoria bancária: Na repressiva – dos anos
70 ao início da década de 80 -; na da redemocratização, momento
de grandes atividades e conquistas no BB e demais bancos – vai do
término da primeira fase à metade dos anos 90 -; na fase do arrocho
salarial na categoria e de maior repressão nos bancos oficiais, como
enfrentamento a qualquer mobilização reivindicativa – segunda
metade dos anos 90 ao início do século XXI -. Por último, já
próximo de sua aposentadoria e como aposentado, esse companheiro
vivenciou, em razão de novos ares democráticos, a fase de retomada
da mobilização e organização interna nos bancos oficiais e das
lutas bancárias, hegemonizadas pelas instituições federais. Esses
movimento resultaram em novas conquistas, como a salarial – de 2003
aos dias atuais.
Reservadíssimo
companheiro, sem “aviso prévio”, e sequer um “adeus” podemos
dar, deixaste-nos há mais de 4 meses! Mas ficaram conosco as
lembranças do companheirão que foste. Agora só nos resta
transmitir nossas condolências, mesmo que tardias, por “culpa”
tua, Serginho, à Maria Iolanda Santos de Gois, tua mãe; à Leonila
Maria Santos de Gois, Jucirema Santos de Gois Fernandes e Jurema
Santos de Gois Travassos, tuas irmãs, que de ti cuidaram até teu
último instante, e aos demais familiares. O pai dele, Raimundo
Mendes de Gois Costa, faleceu em 06.08.1993.
Recife(PE),
25.11.2011
1 Luiz
Alves de Araújo – Ex-diretores do Seec-PE
2 Pedro
José Valdivino de Brito- Ex-diretor do Seec-PE