O mercado de trabalho tornou-se um foco de doenças como depressão e
estresse. A tendência já se reflete em forte aumento no número de
brasileiros afastados pelo INSS por esse tipo de problema de saúde.
As concessões de auxílio-doença acidentário para casos de transtornos
mentais e comportamentais cresceram 19,6% no primeiro semestre de 2011
em relação ao mesmo período do ano passado.
O aumento foi quatro vezes o da expansão no número total de novos afastamentos autorizados pelo INSS.
Nenhum outro grupo de doença provocou crescimento tão forte na
quantidade de benefícios de auxílio-doença concedidos entre janeiro e
junho deste ano.
“Há ondas de doenças de trabalho. A onda atual é a da saúde mental”, diz Thiago Pavin, psicólogo do Fleury.
Existem dois tipos de auxílio-doença concedidos pelo INSS: os acidentários e os previdenciários.
O primeiro grupo, que representa uma fatia pequena (cerca de 16%) do
total, inclui os casos em que o médico perito vê vínculo entre o
problema de saúde e a atividade profissional do beneficiário. Quando
essa ligação não é clara, o afastamento cai na categoria previdenciária.
Mudanças adotadas pelo Ministério da Previdência Social em 2007
facilitaram o diagnóstico de doenças causadas pelo ambiente de trabalho
(leia texto abaixo).
Isso levou a um forte aumento nas concessões de benefícios acidentários para todos os tipos de doença em 2007 e 2008.
Os afastamentos provocados por casos de transtornos mentais e
comportamentais, por exemplo, saltaram de apenas 612 em 2006 para 12.818
em 2008. Mas, depois desse ajuste inicial, tinham subido apenas 5% em
2009 e recuado 10% em 2010.
Por isso, a explosão ocorrida no primeiro semestre deste ano acendeu uma luz amarela no governo.
RITMO DA ECONOMIA
Segundo Remígio Todeschini, diretor de Saúde e Segurança Ocupacional da
Previdência Social, o crescimento econômico mais forte nos últimos
anos e o surgimento de tecnologias mais avançadas de comunicação são
algumas das causas da expansão recente.
“O ritmo de atividade
econômica mais intenso acaba exigindo mais dos trabalhadores. Além
disso, com o uso muito grande de ferramentas tecnológicas, o trabalho
passou a exigir um envolvimento mental muito grande.”
Para o
pesquisador Wanderley Codo, o estudo mais profundo da relação entre
saúde mental e trabalho ajuda a explicar o maior número de casos de
afastamentos por doenças como depressão.
“O diagnóstico ficou
muito mais preciso”, diz Codo, que é coordenador do Laboratório de
Psicologia do Trabalho da UnB (Universidade de Brasília).
Especialistas ressaltam que os trabalhadores têm acesso atualmente a
mais informações sobre os transtornos mentais e suas causas.
“Isso também ajuda a explicar o aumento nas concessões”, diz Geilson
Gomes de Oliveira, presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos
da Previdência Social.
Segundo Todeschini, o governo estuda a
adoção de medidas para intensificar a fiscalização das condições de
trabalho. Para ele, a maior ocorrência de doenças mentais está em
vários setores.