Greves de bancários, professores e no Judiciário desafiam governo

Os
funcionários dos Correios começaram a voltar ao trabalho nesta
quinta-feira (13), mas pelo menos três greves vão continuar
desafiando o governo, que se impôs um arrocho fiscal neste ano, por
causa da inflação e da crise econômica global. A onda de greves
envolve bancários, parados há 17 dias, professores de institutos
federais, longe das salas de aula há mais de dois meses, e
servidores do Judiciário e do Ministério Público, que prometem
intensificar as paralisações.

Nesta quinta-feira (13),
professores e técnicos dos institutos federais de ensino fizeram um
protesto em frente ao Ministério do Planejamento, reivindicando
participar de uma reunião que a pasta faria com entidades
representativas de trabalhadores na educação. Os manifestantes
bloquearam o acesso ao ministério e levaram o secretário de
Relações do Trabalho da pasta, Duvanier Paiva, a suspender toda a
reunião, sob o argumento de que não negocia com grevistas.

Membro
do Comando Nacional de Greve, David Moreno Montenegro, professor do
Instituto Federal do Ceará, reclamou da atitude. “Já consideramos
intransigência o governo não negociar conosco, porque isso
demonstra que ele não reconhece a greve como instrumento legítimo
de luta. Mas hoje, a pauta era outra. Não havia razão para que não
fossemos recebidos. A situação é absurda”, afirmou.

De
acordo com ele, professores e técnicos estão longe dos campi das
escolas técnicas federais desde 1º de agosto. Dos 400 institutos do
país, 228 chegaram a aderir à paralisação nacional no auge do
movimento, no início de outubro. Hoje, 145 permanecem parados. Se a
greve não terminar em prazo recorde, comprometerão o ano letivo dos
alunos e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Avaliamos que
este cenário de possibilidade de perda do semestre e a
inviabilização do Enem podem nos favorecer”, disse.

A
categoria pede 14,67% de recomposição salarial, reestruturação
das carreiras, democratização abertura de concurso público,
jornada de 30 horas semanais para técnicos e destinação de 10% do
Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, entre o total de onze
itens da pauta de reivindicação.

Já servidores do
Judiciário e do Ministério Público começam a retomar, aos poucos,
paralisações pela aprovação de projeto de lei que prevê revisão
do plano de cargos e salários e reajuste salarial. O projeto está
na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados há
mais de um ano.

Segundo a Federação Nacional dos Servidores
do Judiciário e do Ministério Público (Fenajufe), já estão
parados servidores de seis estados (Bahia, Mato Grosso, São Paulo,
Amazonas, Maranhão e Paraíba). “A Paraíba aderiu hoje e já
realiza uma greve de forte adesão. Todos os tribunais estão
fechados para atendimento ao público”, disse o coordenador-geral
da Fenajufe, Ramiro Lopes.

O reajuste do Judiciário gerou
uma espécie de queda de braço da presidenta Dilma Rousseff com o
Poder. O projeto de orçamento 2012 que o governo mandou o Congresso
em agosto não reserva recursos para aumento no Judiciário. O
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso, reclamou,
e Dilma mandou ao Congresso um complemento ao projeto tratando do
reajuste. Para a Fenajufe, o complemento é “dúbio”.

O
relator-geral do orçamento, Arlindo Chinaglia (PT-SP), diz que não
há espaço para a correção. O relator da parte arrecadatória do
orçamento, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), apresentou na terça-feira
(11) parecer parcial em que aponta uma receita R$ 25 bilhões
superior à prevista pelo governo.

Enquanto os professores
protestavam em Brasília, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban)
rompia o silêncio praticado desde 23 de setembro e chamava os
bancários para negociar. A greve, considerada a maior da categoria
nos últimos 20 anos, foi deflagrada dia 27 de setembro, depois que
os sindicatos, em assembléias, rejeitaram a proposta de reajuste de
8%, o que significaria apenas 0,56% de aumento real nos
contracheques.

Os bancários reivindicam reajuste de 12,8%
(aumento real de 5% mais a inflação do período), valorização do
piso, maior participação nos lucros e resultados, mais
contratações, extinção da rotatividade, fim das metas abusivas e
combate ao assédio moral.

Pesquisa do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e
da Contraf-CUT mostra que o salário inicial pago pelos bancos
brasileiros em agosto de 2010 era equivalente a US$ 735, mais baixo
que o dos uruguaios (US$ 1.039) e quase a metade do valor recebido
pelos argentinos (US$ 1.432).

Até o fechamento desta
reportagem, a reunião não tinha terminado.

Mais cedo, em
entrevista à Agência Brasil, o ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Gilberto Carvalho, manifestara preocupação do governo
com o rumo da greve dos bancários, muitos deles trabalhadores do
Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.

Carvalho
também disse, segundo a Agência, ter lamentado que os funcionários
dos Correios não tenham aceitado a proposta oferecida pela empresa
na negociação que, segundo ele, era superior à arbitrada pelo
Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Ao julgar dissídio
coletivo na última terça (11), o TST impôs reajuste reajuste de
6,87%, retroativo a agosto, e cortou seis dias parados.

Expediente:
Presidente: Fabiano Moura • Secretária de Comunicação: Sandra Trajano  Jornalista ResponsávelBeatriz Albuquerque • Redação: Beatriz Albuquerque e Brunno Porto • Produção de audiovisual: Kevin Miguel •  Designer Bruno Lombardi