Investimentos
e políticas públicas que melhorem o transporte público podem ser a
saída para manter os níveis de emissão de poluentes sob controle e
reduzir a liberação de gases de efeito estufa da frota brasileira.
A avaliação está em um comunicado do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) lançado hoje (22), Dia Mundial sem Carro.
O estudo destaca avanços na redução gradativa
do nível de emissão de poluentes da frota nacional, por meio do
Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores
(Proconve), mas avalia que os ganhos estão sob risco se não forem
estabelecidas medidas que estimulem o uso de transporte coletivo e
aumentem a eficiência individual dos veículos.
“Os veículos automotores produzidos atualmente
poluem menos de 10% do que poluía um veículo similar da década de
1980 quando se trata de poluentes regulados pelo Proconve”, compara
o estudo, em referência às emissões de poluentes como monóxido de
carbono, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos e material
particulado.
No entanto, a tendência de redução de emissão
de poluentes deverá sofrer uma inflexão nos próximos anos porque
as tecnologias utilizadas para esse fim já atingiram um nível alto
de eficiência e pelo inevitável aumento da frota e dos
congestionamentos. “Daqui para a frente os ganhos serão menores”,
segundo o Ipea.
O pesquisador do instituto, Carlos Henrique
Carvalho, disse que o país precisa investir mais no transporte
públic e incentivar o uso de veículos não motorizados como as
bicicletas.
“Daqui para frente ou mudamos a tecnologia,
incorporando tecnologias como o carro elétrico ou os híbridos, ou
aumentamos a eficiência do sistema de mobilidade, investindo em
transporte público. Além disso, também deveríamos estimular o uso
de veículos não motorizados, principalmente criando estruturas como
ciclovias para as bicicletas, e também estruturas para pedestres”,
explicou.
Outro desafio, de acordo com o estudo, está
ligado à mitigação das emissões de gases de efeito estufa pelos
veículos, que crescem numa relação direta com o aumento da frota e
não são reguladas por nenhum instrumento como o Proconve.
Em defesa do sistema público de transporte, o
relatório aponta a vantagem dos meios coletivos em relação aos
automóveis individuais e em relação às emissões de gases de
efeito estufa. Mesmo que os ônibus emitam mais gases desse tipo que
os automóveis, por utilizarem diesel, a quantidade de emissões é
compensada pelo número de passageiros transportados. “Um usuário
de automóvel, por exemplo, emite quase oito vezes mais CO2 (dióxido
de carbono) que um usuário de ônibus e 36 vezes mais que um usuário
de metrô”, compara o estudo.
No comunicado, o Ipea defende a aplicação de um
conjunto de iniciativas que combinem ações fiscais de incentivo e
restrição, medidas regulatórias e de investimento, com foco na
melhoria do sistema público de transporte.
“O transporte coletivo urbano deve ser
prioridade nos vários níveis de políticas públicas, de forma
concomitante à restrição crescente à circulação de veículos
automotores individuais e à ênfase em soluções urbanas que
favoreçam a redução da necessidade de transporte motorizado e a
prioridade de transporte não motorizado”, sugere.