Ao discursar nesta
quarta-feira (21) na abertura da 66ª Assembleia Geral da Organização
das Nações Unidas (ONU), em Nova York, a presidenta Dilma Rousseff
disse que a crise global é ao mesmo tempo econômica, de governança
e de coordenação política. Dilma destacou que, se a situação não
for contida, pode se transformar em uma “grave ruptura política
e social” sem precedentes.
Primeira mulher a falar na
abertura de assembleia da ONU, Dilma defendeu a necessidade de
esforços de integração das nações para a superação da crise e
retomada do crescimento. “Não haverá retomada da confiança e
do crescimento enquanto não se intensificaram os esforços de
coordenação entre os países integrantes da ONU e das demais
instituições multilaterais como o G20, o Fundo Monetário
Internacional e o Banco Mundial”.
Para ela, “a ONU e
essas organizações precisam emitir com máxima urgência sinais
claros de coesão política e de coordenação
macroeconômica”.
Conselho de
Segurança – Dilma propôs uma reforma do
Conselho de Segurança da ONU e lembrou que “há 18 anos”
se discute a entrada de novos países.
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para assistir o discurso da presidenta do Brasil.
“O
Brasil está pronto para assumir suas responsabilidades como membro
permanente do Conselho. Vivemos em paz com nossos vizinhos durante
mais de 140 anos”, disse.
“O mundo precisa de um
Conselho de Segurança que venha a refletir a realidade
contemporânea”, acrescentou.
“A atuação do
Conselho de Segurança é essencial e ela será tão mais acertada
quanto mais legítimas forem suas decisões, e a legitimidade do
próprio conselho depende cada dia mais de sua reforma”, disse
Dilma.
“A cada ano que passa, mais urgente se faz uma
solução para a falta de representatividade do conselho o que corrói
sua eficácia”, completou.
Reconhecimento
da Palestina – No discurso, a presidenta
defendeu o reconhecimento do Estado da Palestina assim como a sua
entrada na ONU. O assunto é um dos principais temas do encontro
deste ano, e encontra forte oposição por parte dos Estados
Unidos.
“Quero estender ao Sudão do Sul as boas-vindas.
O Brasil está pronto a cooperar com o mais jovem membro das Nações
Unidas. Mas lamento ainda não poder saudar, desta tribuna, o
ingresso pleno da Palestina na ONU. O Brasil já reconhece o Estado
palestino como tal”, disse a presidenta.
“Chegou o
momento de ter representada a Palestina a pleno título”,
afirmou, deixando clara a posição do Brasil em meio a intensas
negociações para evitar uma crise diplomática pelo pedido de
adesão dos palestinos à ONU.
Segundo Dilma, o reconhecimento
do Estado palestino ajudará a obter uma “paz duradoura no
Oriente Médio”, e assinalou que “apenas uma Palestina
livre e soberana” poderá atender aos pedidos de Israel por
segurança.
“Venho de um país no qual judeus e árabes
vivem em paz”, disse Dilma.
Nesta sexta-feira (23), o
líder palestino, Mahmoud Abbas apresentará o pedido de votação do
Conselho de Segurança sobre o reconhecimento do Estado palestino
que, para ser aprovado, precisa de nove votos a favor dos 15
Estados-membros e nenhum contra dos cinco permanentes (EUA, Rússia,
China, França e Reino Unido).
Crise
pode provocar ruptura social e política – Boa
parte do início do discurso da presidente, como era esperado, teve
como foco o crescimento do Brasil e de outros países emergentes em
meio à crise financeira global e a situação de países em
conflito, em especial no mundo árabe. Dilma alertou que a crise
econômica pode provocar uma “grave ruptura social e política”
no mundo e pediu unidade para sair dela.
“A prioridade
da economia mundial nesse momento deve ser solucionar o problema dos
países em crise com a dívida soberana”, disse, pedindo a “a
integração” entre órgãos como ONU, G20, FMI, entre outros.
“Não haverá a retomada da confiança e do crescimento enquanto
não se intensificarem os esforços de coordenação entre os países
da ONU”.
Todos esses países, segundo ela, devem “emitir
sinais claros de coesão política e integração
macroeconômica”.
Diante de mais de cem chefes de Estado
de todo o mundo, Dilma declarou que o mundo ainda não encontrou
saída para a crise econômica “não por falta de recursos, mas
porque os líderes dos países desenvolvidos não têm clareza de
ideias e de recursos políticos” , disse a presidenta, para quem
os países desenvolvidos seguem “teorias defasadas de um mundo
velho”.
Resistência do Brasil à
crise financeira – A presidenta pediu que o
mundo combata a chamada “guerra cambial” e evite medidas
protecionistas, ao discursar na abertura da Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU).
“É preciso
combater a guerra cambial. Trata-se de impedir a manipulação
cambial” por meio de políticas monetárias extremamente
expansionistas ou pela manutenção do câmbio fixo em alguns países,
afirmou a presidenta.
Ao mesmo tempo, Dilma afirmou que o
Brasil está tomando “precauções adicionais” para
reforçar sua capacidade de resistir à crise financeira global,
preservando o mercado interno.
“O Brasil está fazendo
sua parte… mantemos os gastos do governo sob rigoroso controle a
ponto de gerar vultoso superávit das contas públicas sem que isso
afete nosso ritmo de investimentos”, acrescentou.
“Há
pelo menos três anos o Brasil repete nessa tribuna que é preciso
combater as causas e não só as consequências [da crise
global].”
Mediação de conflitos
– Ao falar da mediação de conflitos, Dilma
cobrou políticas de desenvolvimento associadas a estratégias do
conselho de segurança da ONU e citou os trabalhos humanitários e de
segurança no Brasil no Haiti, com a Minustah, e na
Guiné-Bissau.
Como é comum em seus discursos, Dilma voltou a
destacar a preservação dos direitos humanos, o papel das mulheres –
segundo ela, “este será o século das mulheres” – e o
combate à miséria.
“O Brasil descobriu que a melhor
política de desenvolvimento é o combate à pobreza.Tenho plena
convicção de que cumpriremos nossa meta de até o fim do meu
governo erradicar a pobreza extrema no Brasil”, disse.
Antes
do discurso de Dilma, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu
para romper o impasse no Oriente Médio, em meio a uma luta
diplomática entre israelenses e palestinos. O chefe da ONU destacou
os esforços da organização para fazer avançar uma saída
negociada, enfatizando que tanto Israel quanto os palestinos “querem
a paz”.