O que antes era uma vantagem, ser um
banco global, agora pode ser um problema para o Santander. A ação
da instituição é que mais tem sofrido entre os bancos brasileiros,
acumulando perda de 30,6% no ano, por ser controlado por uma
instituição espanhola, mais vulnerável, portanto, a uma eventual
crise da dívida soberana daquele país. O Brasil representa 25% do
resultado do banco.
Os analistas destacam que, além da maior
exposição à crise da dívida soberana dos países europeus, o
banco tem mostrado resultados mais fracos que os dos concorrentes
brasileiros. O lucro líquido da instituição caiu 19% no segundo
trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, somando R$
811,32 milhões, de acordo com os padrões contábeis brasileiros. Já
grupo espanhol registrou um resultado 38% inferior ao segundo
trimestre do ano passado, somando um lucro líquido de ? 1,39 bilhão
(US$ 2,01bilhões).
A analista da Votorantim Corretora Raquel
Varela ainda destaca que a menor capilaridade da instituição em
relação aos concorrentes, com concentração nas regiões Sul e
Sudeste, também limita o crescimento.
O banco anunciou neste
mês que irá abrir cem agências no Estado do Rio de Janeiro nos
próximos cinco anos. Com alto índice de Basileia – que indica
quanto os bancos podem emprestar proporcionalmente ao seu patrimônio
-, de 22%, a instituição poderia usar o capital para aumentar os
investimentos em uma expansão para o Nordeste, região de maior
crescimento, ou aumentar a carteira de crédito, destaca a analista
da Votorantim. “O Santander prometeu uma porção de coisas, mas
não entregou, e não é apenas um trimestre que irá mudar a imagem
dele.”
A instituição também não mostrou ainda um
ganho de eficiência significativo de sinergias com a compra do Banco
Real, em 2007. A previsão inicial era de atingir R$ 2,4 bilhões em
ganhos com sinergia até o final de 2011, mas esse número deve ficar
entre R$ 2,1 bilhões e R$ 2,2 bilhões.
Para o analista do
setor financeiro da Ágora Invest, Aloisio Lemos, esses fatores já
estão considerados no preço da ação e, por isso, a corretora
alterou a recomendação de manter para compra, com preço-alvo de R$
17 para 2011, o indica um potencial de valorização de 12%, em
relação ao fechamento de ontem.
Lemos destaca que a posição
dos bancos brasileiros em títulos soberanos europeus é muito
pequena em relação ao volume total de recursos em tesouraria.
“Diferente dos bancos europeus, que têm de fato problemas
estruturais, as instituições financeiras brasileiras têm
fundamentos sólidos.”
A exposição dos bancos
brasileiros a Portugal, Espanha, Grécia, Itália e Irlanda, que
considera o retorno de empréstimos ou títulos desses países, era
de apenas 0,06% do total de ativos do setor, que somava R$ 4,7
trilhões, segundo dados preliminares para o primeiro trimestre de
2011 do Banco de Compensações Internacionais (BIS).
Os
analistas destacam que as instituições financeiras brasileiras
estão capitalizadas. Ao final do segundo o Índice de Basileia médio
dos quatro maiores bancos brasileiros (BB, Bradesco, Itaú Unibanco e
Santander) estava em 16,5% muito superior aos 11% exigidos pelo Banco
Central.
Apesar do corte 0,5 ponto percentual da taxa Selic e
da perspectiva de queda da taxa de juros nos próximos meses, que
poderia trazer a redução do custo dos empréstimos, a maioria dos
analistas não revisou a projeção para o crescimento da carteira de
crédito total, que deve ficar entre 15% e 18% neste ano.
Os
bancos esperam um aumento de 16% para as operações de crédito em
2011, ante 20,5% registrados em 2010, segundo pesquisa divulgada pela
Federação Brasileira de Bancos (Febraban). “A economia demora
para reagir um movimento de corte da taxa de juros, que deve ter
reflexos apenas em 2012”, afirma Luciana Leocádio, analista da
Ativa Corretora.
Mesmo com a moderação do ritmo de expansão
do crédito monetário em julho, o volume de concessões já cresceu
8,7% no ano e 19,8% em 12 meses encerrados em julho, segundo dados do
Banco Central.