Já estão
se tornando lugar comum, com toda pompa e marketing político, os
anúncios bombásticos feitos pelo governador de Pernambuco, Eduardo
Campos (PSB), a respeito da chegada de novas empresas que vêm se
instalar aqui, quase sempre em alguma cidade no entorno do complexo
industrial e portuário de Suape.
A imprensa saúda o progresso chegando, o
dinamismo da economia pernambucana. Três palavras chave são
abusadamente utilizadas e propagandeadas aos quatro ventos,
justificando e anestesiando a população em geral e os setores da
elite local que, de dia, cantam loas à necessidade de proteger a
natureza e o meio ambiental mas, na calada da noite, estimulam,
promovem e saqueiam as matas, os rios e o ar que respiramos.
Progresso, criação de postos de trabalho e geração de renda,
bendita seja esta tríade que consegue calar toda uma população e
consentir que a geração futura pague um alto preço pela
irresponsabilidade de alguns, mas com o consentimento de muitos.
Pernambuco é um exemplo de que estamos acelerando
em marcha a ré, na contramão de oferecer melhor qualidade de vida
ao seu povo e perdendo a oportunidade de mudar o paradigma atual,
baseado no chamado “crescimento predatório”, que utiliza
argumentos do século passado, de que o “novo ciclo de
desenvolvimento (?)” é a “redenção econômica do Estado (?)”
e assim exige o “sacrifício ambiental”. Palavras entre aspas
ditas pelos gestores públicos que tentam confundir, como um discurso
pela busca de sustentabilidade entre empresas e governo, mas que
aumenta o consumo e a produção de energia suja.
Não bastasse a devastação dos últimos
resquícios de mata atlântica, de manguezais, das florestas
naturais, da poluição dos rios, agora o Estado atrai e apóia a
instalação de termoelétricas a óleo combustível, o combustível
mais sujo para produzir eletricidade dentre os derivados de petróleo,
perdendo somente para o carvão mineral no ranking de maior emissor
de gases que provocam o efeito estufa, ou seja, o aquecimento global,
correspondente ao aumento da temperatura média da Terra causador das
temidas mudanças climáticas.
A termelétrica anunciada como a maior usina do
mundo, que pretende se instalar no Cabo de Santo Agostinho, terá uma
potência instalada de 1.452 MW, ou seja, a metade da hidroelétrica
de Xingó. Ela produzirá, caso funcione ininterruptamente, em torno
de 8 milhões de toneladas de CO2 por ano, além de outros gases
altamente prejudiciais a saúde humana. Este cálculo estimado é
possível, levando em conta que para cada 0,96 m3 de óleo consumido
na termelétrica, 3,34 toneladas de CO2 são produzidos, segundo a
Agência Internacional de Energia. Já para a termelétrica Suape II,
que já tem mais de 70% das obras construídas, infelizmente também
no município do Cabo, a emissão anual será de pelo menos 2 milhões
de toneladas de CO2. Portanto, no município vizinho a Recife, no
Cabo, estas duas usinas em funcionamento emitirão em torno de 10
milhões de toneladas de CO2, pouco menos de 1 milhão de toneladas
todo mês, e pouco mais de 30.000 toneladas por dia. Será que é
este o “desenvolvimento” desejado pelos habitantes do Cabo e de
Pernambuco?
Este tipo de instalação industrial, que para
produzir eletricidade queima óleo semelhante ao utilizado para
movimentar navios, está tendo enormes dificuldades para conseguir se
instalar no sul/sudeste do país, devido às dificuldades impostas
para obterem as licenças ambientais, necessárias para tal
empreendimento. Acabam vindo para nossa região, pois aqui é
conhecida a frouxidão dos órgãos estaduais responsáveis pelo
controle, fiscalização ambiental, conservação e recuperação dos
recursos naturais, tais como a Agência Pernambucana de Meio Ambiente
– CPRH, ligada à recém-criada Secretaria de Meio Ambiente e
Sustentabilidade.
Fica mais uma vez demonstrado que, em Pernambuco,
o crescimento econômico não combina com preservação ambiental. O
atual governo do estado dá sinais claros de sua total falta de
compromisso com as questões ambientais e com as gerações futuras,
que sem dúvida é o maior desafio atual de nossa civilização.
Enquanto aqui se perpetua um modelo de crescimento
econômico predatório, insustentável, alicerçado no uso de
combustíveis fósseis, inimigo numero 1 e responsável maior pela
emissão dos gases causadores do efeito estufa, o mundo discute como
acelerar o uso de fontes renováveis de energia (solar, eólica,
biomassa, energia dos oceanos) para atender a sua demanda energética
com menor agressão ambiental.