Dados não mostram avanços e bancários cobram ação efetiva por igualdade

O Sindicato e a Contraf-CUT se reuniram nesta sexta-feira
(26) com a Fenaban para nova rodada da mesa temática de Igualdade de
Oportunidades, em São Paulo. Atendendo a reivindicação dos
trabalhadores, os negociadores dos bancos realizaram uma apresentação de
dados relativos ao Programa de Valorização da Diversidade. No entanto,
na avaliação dos bancários, os números apresentados são incompletos e
não apontam para uma melhoria da situação de desigualdade dentro das
empresas.

Os bancos utilizaram os dados da Relação Anual de Informações Sociais
(RAIS) e abordaram especialmente a inclusão da população negra. Na
avaliação do movimento sindical, dados mais precisos poderiam ter sido
conseguidos em outras fontes, como a folha de pagamento das empresas,
permitindo uma leitura melhor sobre esse universo. Além disso, os dados
mostram que, desde a publicação do Mapa da Diversidade, houve pouca
ampliação da participação de negros.

“Não temos o que comemorar”, resume Deise Recoaro, secretária de
Políticas Sociais da Contraf-CUT. “Faltou ainda outros cortes na análise
dos dados, trazendo a situação por gênero, renda e função dentro do
banco. Os números não mostram se os negros melhoraram o salário médio
nem se ascenderam profissionalmente”, completa.

Os bancos também apresentaram números relativos ao Portal de
Oportunidades, serviço criado pela Febraban no qual candidatos podem
disponibilizar seus currículos para bancos que estejam contratando.
Foram recebidos 33 mil currículos, sendo 10 mil de pessoas negras. Os
bancos destacaram ainda que 21% dos negros inscritos possuem nível
superior incompleto ou nível educacional superior. Os currículos ficam
dois anos disponíveis e podem ser atualizados pela pessoa.

O movimento sindical considera que o mecanismo vai na direção da
reivindicação de democratização do acesso às vagas no sistema
financeiro, privilegiando os meios públicos de contratação. “É
ferramenta interessante, mas que pode melhorar. Queremos ver resultados
concretos”, avalia Deise. “Além disso, já vimos cobrando das empresas
que nível superior não deve ser critério para definir a contratação,
assim como não é para concursos públicos no setor bancário”. O portal
prevê, entre outras coisas, atender a demanda de ações afirmativas, para
a inclusão de negros, negras e pessoas com deficiência.

Ao bancos trouxeram também alguns resultados do programa de capacitação
de inclusão de pessoas com deficiência, já em sua segunda edição. São
atendidos 400 pessoas no programa, que se concentra somente em São
Paulo. Os bancários cobraram o pagamento do piso da categoria para estes
trabalhadores independentemente da jornada que desempenhem. “Além
disso, voltamos a cobrar que o programa seja estendido ao restante do
país”, lembra Deise. As empresas admitiram a importância de abranger
outros estados.

Relações compartilhadas – Os bancários cobraram também a realização de uma campanha conjunta de
sensibilização sobre a licença-maternidade de 180 dias, conquistada
pelas bancárias na última campanha salarial. Os bancos defenderam que o
tema seja remetido à mesa de Saúde do Trabalhador, o que foi prontamente
rebatido pelos sindicalistas.

“A maternidade interfere diretamente na carreira e remuneração da
mulher”, explica Deise. “Queremos ampliar esse tema para discutir as
relações compartilhadas, que também abrange a licença paternidade, a
divisão do trabalho doméstico e do cuidado com os filhos para
possibilitar a ascensão profissional das mulheres”, diz.

Os bancos afirmaram ainda que a campanha não seria necessária, uma vez
que a adesão das bancárias à licença de seis meses está acontecendo sem
problemas e já seria vista como uma coisa natural pelas empresas. Os
bancários solicitaram números de adesão à licença-maternidade por tipo
de licença (120 e 180 dias), o que os bancos se comprometeram a trazer
na próxima reunião.

Mapa da Diversidade – Os trabalhadores cobraram a necessidade de se realizar uma nova edição
do Mapa da Diversidade, pesquisa realizada em 2009 que tornou clara a
discriminação no sistema financeiro. “A Febraban assumiu um compromisso
com todos os atores envolvidos na primeira edição de realizar um novo
censo a cada dois anos, mas agora estão querendo deixar de lado. Pra
nós, é fundamental a realização, para que possamos avaliar o que mudou
desde 2009, período em que um plano de ação foi implementado pelos
bancos para avançar”, argumenta Deise.

Os trabalhadores reivindicaram novamente das empresas a participação do
movimento sindical na grade curricular do programa de formação de
líderes promovido pela Febraban. Os bancos não concordaram com a
demanda, mas propuseram a participação de sindicalistas como alunos no
curso, a fim de avaliar os conteúdo e propor melhorias. O movimento
sindical aceitou a proposta, mas com a perspectiva de elaborar uma
proposta de intervenção que faça parte do curso posteriormente. “É
importante termos um espaço para levar a visão do movimento sindical
sobre os temas”, diz Deise.

Cobrados pelo movimento sindical, os representantes das empresas se
comprometeram a fazer um levantamento dos locais de trabalho que têm
interprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais). A reivindicação dos
bancários é que seja contratado um em cada local de trabalho, tanto para
facilitar a comunicação com funcionários quanto com clientes que
possuam deficiência auditiva.

Foi definido ainda que a mesa temática de Igualdade de Oportunidades se
reunirá a cada três meses, para monitoramento dos dados e continuidade
do debate.

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