Os juros do cheque especial bateram recorde em
julho e são os mais altos nos últimos 12 anos. A média paga por
quem ficou no vermelho chegou a uma taxa de 188% ao ano. Só no mês
passado, a alta dessa taxa foi de 3 pontos percentuais, segundo
divulgou nesta quarta-feira o Banco Central (BC).
– O juro do
cheque especial reflete o perfil do tomador porque tem taxa
diferenciada dentro da mesma instituição – diz o chefe do
departamento econômico do Banco Central, Túlio Maciel, ao explicar
o motivo de uma alta tão grande sendo que a taxa básica de juros
subiu apenas 0,25 pontos percentuais no último mês.
Alta
– A taxa média de juros das operações referenciais de crédito
dos bancos brasileiros subiu de 39,5% em junho para 39,7% em julho,
segundo dados do Banco Central divulgados nesta quarta-feira. No mês
passado, o volume de crédito concedido a clientes inadimplentes
também teve um leve aumento.
A elevação foi puxada pelos
negócios com empresas, para quem o custo cresceu 0,6 ponto
percentual e situou-se em 31,4% ao ano. Para as famílias, a média
recuou 0,4 ponto percentual, a 45,7% ao ano.
Inadimplência
– O volume financeiro dos contratos com pagamentos em atraso há
mais de 90 dias, critério usado pelo BC para medir inadimplência,
saiu de 5,1% em junho para 5,2% do total de operações referenciais.
Essas operações, cujo saldo chegou ao fim de julho em R$
978,5 bilhões, representam cerca de metade do total emprestado pelo
sistema financeiro e quase a totalidade das aplicações com recursos
livres dos bancos (sem destinação obrigatória).
No
segmento de pessoas físicas, a inadimplência subiu 0,2 ponto
percentual, fechando julho em 6,6% . Nos empréstimos e
financiamentos referenciais a empresas, esse indicador de risco de
calote ficou estável em 3,8% pelo segundo mês consecutivo.
Alta
do spread médio – O spread médio aumentou 0,1 ponto percentual,
para 27,4 pontos percentuais nos dois segmentos somados. Nas
operações com pessoas físicas, a diferença entre as taxas de
captação e de aplicação, porém, caiu 0,5 ponto, para 33,1 pontos
percentuais em julho. Para as empresas, houve aumento de 0,4 ponto,
com spread médio de 19,3 pontos percentuais.
Enquanto a
inadimplência é medida sobre o estoque, a taxa de juros e o spread
são medidos em relação às concessões do mês.
Empréstimos
– Os bancos públicos continuaram à frente dos privados e
lideraram o ritmo de expansão dos empréstimos e financiamentos do
sistema financeiro em julho, segundos dados divulgados pelo Banco
Central.
Juntos, os ativos de crédito da Caixa Econômica
Federal, do Banco do Brasil, do BNDES e de outras instituições
estatais somaram R$ 779,534 bilhões no fim do mês, 1,4% além do
que eram junho.
Já os privados nacionais viram o saldo de
suas operaçoes crescer 0,9% no mês, aumento inferior ao dos
privados de controle estrangeiro (1,0%).
No acumulado até
julho, os bancos públicos também estão na frente com aumento de
9,2%. Em seguida, aparecem os privados nacionais, com crescimento de
8,6%, e os de controle estrangeiro, com 7,7%.
Deliberadamente
turbinadas pelo governo federal como reação à crise mundial de
liquidez em 2008 e 2009, as operações dos bancos públicos ainda
são as mais expressivas em valores nominais, tendo chegado ao fim de
julho em R$ 779,534 bilhões, ante R$ 755,593 bilhões das dos bancos
privados nacionais e R$ 319,120 bilhões referentes aos bancos
privados de controle estrangeiro.
O relatório do BC traz
também dados sobre a qualidade do crédito em cada segmento, sob o
ponto de vista do risco de inadimplência.
Nos bancos
públicos, as operações com classificação de AA até C,
consideradas de risco normal e com inadimplência máxima de dois
meses, subiram 1,7% em julho, enquanto as de risco 1 (notas de D a G)
caíram 5,5% no mês. São classificadas no risco 1 aquelas com
parcelas em atraso máximo de seis meses.
As de risco 2 ou H,
que subiram 2,0%, são as de maior possibilidade de calote, pois
referem-se a devedores com mais de seis meses de pagamentos
atrasados.
Nos privados nacionais, a evolução do saldo
nesses três grandes grupos de classificação de risco foi,
respectivamente, de 0,8 %, 1,2% e 3,8% em julho. Nos privados de
controle estrangeiro, as mesmas operações avançaram em 1,0% , 1,4%
e 0,9%.
O volume de provisões para risco de crédito
continua superior ao dos financiamentos e empréstimos com parcelas
em atraso há mais de 90 dias, critério usado pelo BC para medir a
inadimplência. No conjunto do sistema, o volume da inadimplência
encerrou julho em R$ 64,520 bilhões, 61,7% do total de provisões,
que atingiram R$ 104,563 bilhões.
Nos públicos,
especificamente, consideradas sempre posições do fim de julho, essa
proporção é de 45,14%, nos privados nacionais de 64,33% e nos
privados de controle estrangeiro, de 85,86%.
Medida em
relação ao total de operações, a inadimplência é considerada
irrelevante pelo BC, pois é inferior a centésimo de ponto
percentual.
A inadimplência que o BC entende como relevante
é a das operações referenciais para apuração de taxas de juros,
que corresponde a maior parte das operações com recursos livres dos
bancos. O crédito direcionado não entra na apuração dos juros nem
desse indicador mais relevante de inadimplência.