Pesquisa aponta que bancários associam trabalho a estresse constante

Estresse, pressão constante, baixa tolerância ao
erro, sensação de tensão permanente e medo de assalto. Foi assim
que os bancários se referiram ao trabalho dentro dos bancos quando
consultados pela pesquisa “Visão da organização do trabalho e
do ambiente de trabalho bancário na saúde física e mental da
categoria”, realizada pelo Sindicato dos Bancários de São
Paulo entre novembro de 2010 e janeiro de 2011.

O estudo,
inédito, foi apresentado pelo secretário de Saúde do Sindicato,
Walcir Previtale, na manhã desta quarta-feira 24, no Seminário
Saúde dos Bancários, e reforçou com dados que a categoria é uma
das que mais adoece mental e fisicamente.

O secretário de
Saúde do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, João Rufino,
participou do Seminário representando a categoria do estado.

“Os
números mostram o que a gente já percebe no atendimento à
categoria no Sindicato, situações de assédio moral e pressão por
metas são uma das queixas mais frequentes dos bancários que nos
procuram”, disse Walcir.

Apesar de a maioria ser jovem –
65% têm até 35 anos -, 84% relataram já ter sentido algum problema
de saúde com uma frequência acima do normal. E no ranking desses
problemas o estresse ocupa o primeiro lugar, apontado por 65% dos
entrevistados.

Mais da metade (52%) disse ter dificuldade
para relaxar e estar sempre preocupado com o trabalho. Cansaço e
fadiga constantes foram apontados por 47% deles, e 40% afirmaram
sentir dor ou formigamento nos ombros, braços e mãos.

Para
65% dos funcionários de agências e 52% dos de concentrações, a
pressão excessiva por cumprimento de metas é um grande problema;
72% dos caixas e 63% dos gerentes declararam sofrer pressões
abusivas para superar as metas, e 42% dos bancários afirmaram ter
sobrecarga de trabalho.

Chega a 42% os que disseram já ter
sofrido algum tipo de assédio moral; 49% não sentem seus esforços
reconhecidos; 44% já tiveram dificuldades expostas para todo mundo
ouvir; 31% já foram chamados de incompetentes mesmo batendo metas; e
34% sofreram ameaças de demissão.

Afastados – Os
bancários afastados por doenças ocupacionais também fizeram parte
da pesquisa. Foi constatado que em geral eram profissionais
exemplares que acreditavam que o banco era a melhor empresa para
trabalhar, que normalmente assumiam tarefas acima de suas
responsabilidades e estavam sempre disponíveis para horas extras e
trabalho aos finais de semana.

Ou seja, acumulavam tarefas
até chegar a uma sobrecarga insuportável de trabalho, vivendo só
para o banco e abrindo mão de sua vida pessoal e social, sem tempo
para lazer nem para cuidar da saúde. Eles são relativamente jovens,
economicamente ativos e já com alguma experiência profissional. São
provedores do orçamento familiar, total ou parcialmente, e têm
grande dependência financeira não só do salário mas também das
verbas salariais, como vales refeição e alimentação.

Metodologia
A pesquisa, feita entre funcionários do Bradesco,
Itaú/Unibanco, Santander, HSBC, Caixa Federal e Banco do Brasil, foi
dividida em duas fases, uma qualitativa e outra quantitativa. A fase
qualitativa teve discussões em grupo e entrevistas em profundidade.

Foram 10 grupos, sendo seis de trabalhadores de bancos
privados – dois de gerentes comerciais, dois de caixas e técnicos
bancários, dois de analistas e coordenadores de departamentos
administrativos -; e dois de bancos públicos – gerentes comerciais e
coordenadores de áreas comerciais e administrativas – de bancos
públicos; e ainda dois grupos de bancários afastados por doenças
decorrentes do trabalho.

A segunda técnica, de entrevistas em
profundidade, foi direcionada a gerentes gerais que, pela função e
comprometimento com o empregador, poderiam não se sentir à vontade
nos grupos. Foram entrevistados quatro gerentes gerais de bancos
privados e um de banco público.

A fase quantitativa da
pesquisa foi realizada entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011.
Foram feitas entrevistas por telefone com 818 trabalhadores de bancos
públicos e privados. A margem de erro é de 3,5%, dentro de um
intervalo de confiança de 95%.

Epidemia – Os
trabalhadores do ramo financeiro estão entre as categorias que mais
adoecem mental e fisicamente. Problemas como estresse, depressão e
LER/Dort (Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbios
Osteomusculares) são comuns entre bancários. Essa realidade é
confirmada por dados do INSS – imprecisos na medida em que só
computam os benefícios concedidos – e constatada na prática
sindical. Nesse sentido, os resultados da pesquisa inédita não
revelam grandes novidades, ainda que causem espanto.

A
iniciativa cumpre outro e importante papel: o de corroborar com
informações – colhidas entre os trabalhadores por meio de
metodologia específica – um fenômeno que já se percebe no dia a
dia. E, dessa forma, ser um importante instrumento na luta por um
ambiente de trabalho humanizado, sem cobranças de metas abusivas e
assédio moral. Além de chamar a atenção da sociedade para um
problema que atinge não só indivíduos, mas coletivos, no trabalho
e na família.

Esses funcionários, de maneira geral, são
submetidos, por parte do empregador, a exames médicos periódicos
(conforme previsto na Norma Regulamentadora nº 7, do Ministério do
Trabalho e Emprego) que têm se mostrado ineficientes na maioria dos
casos, por não detectar nem eliminar os riscos para a saúde dos
bancários.

As consequências dessas falhas da Medicina do
Trabalho são extremamente nocivas para a saúde dos trabalhadores,
pois os bancos não combatem a origem dos problemas logo no seu
início e nem melhoram as condições de trabalho.

Em um grupo
de trabalhadores afastados que fizeram parte da pesquisa, quando
perguntados sobre como eram realizados os exames periódicos nos seus
locais de trabalho, as respostas caminharam no seguinte sentido:
“aquilo não previne nada”; “o médico do banco
pergunta um monte de coisas para você e depois fala que não pode
anotar nada no prontuário”; “escutam o seu coração,
medem a sua pressão e depois assinalam que você está apto para a
função, mesmo que tenha relatado dores nos braços, cansaço
mental”; “uma vez no banco em que trabalho o formulário do
exame já veio preenchido pelo médico, mesmo sem me examinar”.

Os
afastados perdem a auto-estima, status, contato com colegas, têm a
saúde física e mental agravada, perdem a condição de trabalhador,
o poder de compra e a estabilidade na família.

Quando
retornam ao trabalho, ainda incapazes de retomar o ritmo anterior,
ficam sem função no banco, gerando desconforto aos gestores e sendo
evitados pelos colegas, pois são vistos como peso morto para o
banco. “Somos vistos pelos colegas e gestor como deficiente
mental. Tudo o que faz está errado. Chega um momento que eu achei
que estava ficando realmente louca”, disse uma bancária,
durante a pesquisa.

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