Com saída de Fábio Barbosa, Santander cristaliza “gestão espanhola”

O desligamento completo do executivo Fabio Barbosa
do Banco Santander no Brasil não é exatamente uma surpresa. Desde
que, em dezembro do ano passado, foi anunciada sua saída da
presidência executiva e ida para a presidência do conselho, o
movimento já era esperado. Ainda que tenha sido negado reiteradas
vezes, pelo banco e pelo próprio executivo, que sempre reafirmava
seu compromisso com o Santander. Surpreendente, talvez, seja o seu
novo destino na presidência do grupo Abril, que edita a revista
Veja, mas essa é outra questão.

No Santander, sua saída
cristaliza algo que ainda tinha percepção um pouco difusa: passada
a fase crítica da integração entre o Banco Real, que era presidido
por Barbosa, e as operações brasileiras do Santander, Emílio
Botín, o todo poderoso do grupo Santander, resolveu “espanholizar”
a gestão. Indicou para a presidência executiva um homem de sua
confiança, Marcial Portela Álvarez, que até então era
vice-presidente executivo do banco na Espanha e supervisionou a
integração com o Real.

“Botín é extremamente
centralizador”, comenta um executivo brasileiro do alto escalão
do Santander, sinalizando que essa característica teria pesado para
que o espaço de Fabio Barbosa no comando das operações acabasse
sendo menor do que o desejado por ele.

O controle de Botín
sobre o dia a dia dos negócios é tamanho que até as reuniões para
aprovação de crédito a grandes empresas, por exemplo, contam com
sua presença. “No ABN Amro Real, o Fabio tinha o banco na mão.
Sua participação na estratégia era decisiva, diferentemente do
Santander”, pontua um executivo do banco.

O
aprofundamento da crise econômica na Espanha também ajuda a
explicar que a matriz tenha voltado ainda mais os olhos para a
subsidiária no Brasil, que já responde por 25% do lucro do grupo e
foi apontada até mesmo por Botín como o motor do crescimento do
banco nos próximos anos – muito embora esse desempenho ainda esteja
aquém do esperado. “O peso que o Brasil tinha na estrutura,
aumenta ainda mais”, pondera um executivo. “Da mesma forma,
o desenvolvimento da carreira dos executivos do grupo se desloca para
onde há crescimento.”

Coincidência ou não, a
reestruturação promovida no alto escalão do banco em dezembro do
ano passado desencadeou várias deserções. A mais notável delas
foi a de José Paiva, antigo responsável pelo varejo no Santander,
que deixou a organização em fevereiro. No mesmo mês, outros
executivos como João Teixeira, vice-presidente de clientes de
atacado, e Carlos Leibowicz, líder da área “corporate
banking”, deixaram o banco.

Na mexida de dezembro, José
Berenguer Neto, até então o vice-presidente do atacado, assumiu o
comando do varejo. Berenguer sempre foi muito próximo a Fabio
Barbosa, desde o Real, e era visto como um sucessor natural. Sua ida
para o varejo é vista por muitos como uma experiência para
completar sua formação e, quem sabe, prepará-lo para um dia
comandar o banco. Essa possibilidade parece continuar a existir. Mas
uma continuidade espanhola também não pode ser afastada.

No
comunicado enviado, ontem, aos funcionários do Santander, Portela
agradece a Fabio Barbosa “por tudo o que ele representa no Banco
Santander Brasil e por todo o legado que nos deixa. Seu nome ficará
marcado para sempre na nossa história”. Ao final da carta,
avisa aos colaboradores: “Continuaremos dedicados à tarefa de
colocar em prática o nosso planejamento estratégico, o Santander
3.1, e caminhar para transformar o Santander Brasil no principal
banco para os seus clientes”.

Expediente:
Presidente: Fabiano Moura • Secretária de Comunicação: Sandra Trajano  Jornalista ResponsávelBeatriz Albuquerque • Redação: Beatriz Albuquerque e Brunno Porto • Produção de audiovisual: Kevin Miguel •  Designer Bruno Lombardi