O 1º Fórum
Pernambucano de Segurança Bancária, promovido pelo Sindicato, reuniu nesta terça-feira, dia
16, diferentes vozes da sociedade civil que, juntas, ajudaram a
traçar uma ideia do imenso fosso em que se constitui a segurança
nos bancos. Contratação de empresas de fundo de quintal para
vigilância nas agências; valorização do dinheiro em detrimento
das vidas; assaltos e adoecimento psíquico: eis algumas questões
trazidas à tona por representantes dos bancários e vigilantes;
órgãos de Defesa do Consumidor; parlamentares; Secretaria de Defesa
Social; entre outros.
>> Confira como foram os debates
no período da manhã
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segurança na Rádio dos Bancários
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sobre o Fórum no Bom Dia Pernambuco
No período
da tarde, as discussões foram divididas em dois blocos. No primeiro,
falaram a representante da Adecon (Associação de Defesa do
Consumidor em Pernambuco), Nely Queiroz, e a representante da Gepes
(Gerência de Pessoas do BB), Ana Lúcia.
Para Nely, a
tecnologia empregada atualmente para evitar os furtos em caixas
eletrônicos é falha. E pior: as determinações do Banco Central
com relação às cédulas manchadas ferem a legislação ao
transferir para o consumidor a responsabilidade pelo problema.
“Sabe-se que apenas o Banco Central tem condições de fazer uma
análise técnica das notas. No entanto, exige-se do usuário que ele
faça isso. É um sistema que precisa ser repensado”, diz a
representante da Adecon. Ela aproveita para orientar as pessoas que
forem prejudicadas a buscarem os órgãos de defesa do consumidor.
Da Gerência de Pessoas do Banco do Brasil, Ana Lúcia
apresentou o programa Pavas, de assistência a vítimas de assaltos e
sequestros. No entanto, os depoimentos em seguida mostraram que
aquilo que, em teoria, pode até servir de modelo para outros bancos,
na prática fica muito a dever aos funcionários e à segurança.
Uma
bancária, por exemplo, relatou um caso de um colega atingido por um
tiro no ambiente de trabalho e que até hoje tem estilhaços da bala
em seu pescoço. Disse que nada foi feito pela Cassi (Caixa de
Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil). O fato ocorreu
faz tempo, no final da década de 1990. “O sistema ainda estava se
aprimorando”, disse Ana Lúcia. Mas outros depoimentos somaram-se a
este.
Arimateia, bancário do BB, lembrou que trabalhava em
uma agência em Bom Conselho, quando foi contactado pelo setor de
segurança do banco, que o avisou da suspeita de que ele seria alvo
de sequestro. O bancário foi obrigado a sair às pressas de sua
cidade até Recife, sem poder falar com ninguém sobre a suspeita e
dirigindo sob tensão. Até hoje, ele tem sequelas psíquicas embora
o sequestro não tenha se consumado. Mas a CAT (Comunicação de
Acidente de Trabalho) nunca foi emitida.
Cenário
desanimador – Quem resumiu a questão foi o presidente da
Confederação Nacional dos Vigilantes, José Boaventura. “O que a
gente tem que perguntar é o seguinte: quem é o responsável pela
segurança dentro das agências, se não os bancos? E que segurança
é essa: do dinheiro ou das pessoas?”, indagou. Traçou, então, um
cenário desanimador: bancos que contratam as empresas mais baratas
para prestar serviços de segurança; que não oferecem condições
operacionais, qualificação e muito menos apoio psicológico aos
vigilantes; que se preocupam com o dinheiro, não com a vida das
pessoas. “E isso acontece também no Banco do Brasil, apesar do
Pavas”, acrescentou.
O desrespeito à vida é tanto que,
segundo Boaventura, os vigilantes recebem orientações para que não
deixem entrar bancários sequestrados nem o deixem sair se a família
estiver como refém. E vários seguranças foram demitidos porque
descumpriram as determinações.
Este cenário perverso deixa
muitas vítimas, além daquelas que morrem em assaltos. Segundo o
secretário de Saúde do Sindicato, João Rufino, que fechou o
segundo bloco da tarde, das Comunicações por Acidente de Trabalho
emitidas pelo Sindicato desde 2006, 11.4% são por conta de doenças
psíquicas, a maioria delas motivada por assaltos. “São
trabalhadores que veem sua vida e sua saúde comprometidas pela falta
de segurança. Pessoas que, depois de vivenciarem assaltos, passam a
apresentar sintomas de estresse pós-traumático que, muitas vezes,
se convertem em Síndrome de Pânico ou depressões profundas, com
intenso sofrimento social e psíquico”.