Dilma prioriza negociar pacote com empresas e se afasta de centrais

O governo
priorizou a negociação com o empresariado ao preparar o pacote de
apoio à indústria nacional lançado nesta terça-feira (02/08). Foi
por esta razão que as centrais sindicais resolveram boicotar o
evento, e não só por divergência pontual (desoneração da folha
de salário das empresas) dentro de um plano que, no todo, elas
aprovam.

Os sindicalistas temem que a preferência do diálogo
com empresários seja um estilo permanente da presidenta Dilma
Rousseff, diferentemente do que ocorria com Luiz Inácio Lula da
Silva, quando as centrais tinham mais poder para influenciar
decisões.

Responsável pelo contato cotidiano do Planalto com
movimentos sociais, o ministro-chefe da Secretaria Geral da
Presidência, Gilberto Carvalho, sabe do incômodo que começa a
crescer entre os sindicalistas e tentou acalmar os ânimos numa
reunião nesta segunda-feira (01/08).

Ao lado de quatro
ministros (Fazenda, Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento e
Previdência Social), Carvalho apresentou as linhas gerais do pacote
e garantiu que defender o emprego dos trabalhadores era uma das
grandes preocupações do governo com o programa “Brasil
Maior”.

Mas, segundo relato de participantes ouvidos por
Carta Maior, quando o assunto “desoneração da folha” surgiu,
monopolizou a conversa e foi usado pelos sindicalistas para
manifestar uma contrariedade mais ampla (a preferência dada à
negociação com os empresários).

“Nós não queremos ser
chamados para ouvir, queremos falar também”, resume o presidente
da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva
Santos.

Para os sindicalistas, quando deixa de chamá-los
para negociar, o governo tira deles a oportunidade de usar propostas
de interesse patronal, como era o caso da desoneração da folha,
para arrancar concessão pró-trabalhadores. Por exemplo, o
compromisso dos empresários de que o alívio fiscal da desoneração
da folha seria revertido necessariamente em novos empregos, não só
em lucro.

No pacote lançado nesta terça-feira (02/08), o
governo jogou para o faturamento a incidência de tributo destinado à
Previdência até hoje cobrado sobre a folha de salário. A nova
regra entrará em vigor no ano que vem e valerá para quatro setores
(têxtil, calçadista, moveleiro e de tecologia da informação). Na
prática, os quatro vão pagar menos impostos.

Se a
experiência der certo, o governo pretende estender a mudança para
outros ramos. As centrais temem que a Previdência perca receita e
esta nova realidade alimente propostas privatistas no futuro. O
governo diz que vai bancar qualquer diferença.

Segundo Carta
Maior apurou, a relativa distância que a presidenta e alguns
auxiliares têm mantido das centrais sindicais, neste início de
mandato, causa uma certa preocupação em setores do Planalto. Para
estes setores, Dilma não deveria deixar prosperar a ideia de que
gosta mais de agir como gerente e de conversar com
empresários.

Também segundo Carta Maior apurou, a
Confederação Nacional da Indústria (CNI) já percebeu que está
com mais acesso a áreas do governo e, por isso, tem tentado explorar
esse canal para defender poições de interesse patronal. Mais do que
recorrer ao Congresso Nacional, inclusive. Segundo um assessor da
CNI, nunca a entidade direcionou tanto suas energias ao diálogo com
o poder Executivo quanto agora.

Sabendo da insatisfação e do
boicote dos sindicalistas ao evento, a presidenta fez questão de
citar os “trabalhadores” várias vezes no discurso de
lançamento do programa Brasil Maior. Ao todo, foram sete
vezes.

Dilma disse, por exemplo, que o pacote não “desrepeita
os direitos dos trabalhadores”, que eles “podem ter certeza
de que o governo está do lado deles” e que as medidas
interessam “sobretudo aos trabalhadores brasileiros.”

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